
Em busca das nossas origens em solo sagrado

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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Fotos: Alexandre Melo/Jornal Metas)
Sambaqui em Ilhota, com cerca de 5 mil anos, recebe equipe de arqueólogos e historiadores de três universidades
Conhecer o passado para entender o presente e o futuro. A frase é antiga, mas cabe perfeitamente no trabalho arqueológico que vem sendo feito numa propriedade do bairro Pedra de Amolar, em Ilhota (próximo à BR-470). Trata-se de um Sambaqui, descoberto na década de 1960, mas somente no ano passado que se deu início às escavações.
Essa é a terceira incursão da equipe, formada por professores, pesquisadores e alunos de arqueologia e história da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Universidade de São Paulo (USP), ao local. Eles permanecem até o próximo domingo, dia 4.
O trabalho é lento e minucioso, para identificar em meio a terra, pedras e vegetação fragmentos que possam levar a uma viagem no tempo de cerca de 5 mil anos, que é a idade que se acredita ter o Sambaqui Pedra de Amolar.
Nestas escavações, a equipe já encontrou restos de ossos humanos, carvão e conchas do mar, o que leva os pesquisadores a acreditarem que há mais ou menos cinco mil anos o local era uma enorme laguna por onde circulavam embarcações em direção ao litoral. No entorno do sambaqui pode ter existido uma aldeia. O sambaqui é um local sagrado, onde os povos da antiguidade enterravam seus mortos, por isso existe também um respeito por parte dos arqueólogos e historiadores. “Não dá para simplesmente vir aqui e sair cavando tudo, esse era um local sagrado para os povos antigos”, explica a arqueóloga da UFSC, Gabriela Oppitz.
A intervenção no sambaqui Pedra de Amolar faz parte do projeto “Rios, conexões e movimentos: dinâmicas de interação humana entre litoral e interior durante o Holoceno no Vale do Itajaí, Santa Catarina, Brasil”, financiado pelo CNPq e coordenado pelos arqueólogos e professores Lucas Bueno, do Laboratório de Estudos Interdisciplinares em Arqueologia (LEIA/UFSC) e Nivaldo Peroni, do Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica (ECOHE/UFSC). “Esse projeto aborda a história de longa duração das populações ameríndias que ocuparam, circularam e viveram ao longo do Rio Itajaí-Açu, contribuindo para a discussão sobre as interações entre litoral/interior no processo de ocupação do Brasil meridional”, explica Bueno.

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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Fotos: Alexandre Melo/Jornal Metas)
Há anos, os pesquisadores vinham trabalhando em sítios arqueológicos no Alto Vale do Itajaí, porém desde o ano passado direcionaram o trabalho para os sambaquis do Baixo Vale, como o de Ilhota. O professor Lucas explica que sambaquis não são uma raridade no Sul do país. Aliás, Santa Catarina é o estado onde se tem o registro do maior número de sambaquis do Brasil, alguns com cerca de 9 mil anos. A dificuldade que se encontra hoje é obter autorização dos donos das terras para que sejam feitos estudos. Em Gaspar, existe um Sambaqui no bairro Poço Grande, porém, os pesquisadores não conseguiram autorização do proprietário para explorar o local. O trabalho que vem sendo feito hoje no Vale do Itajaí também amplia o projeto “Territorialidades Ameríndias”, que vem sendo desenvolvido pela equipe do LEIA/UFSC desde 2017.

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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Fotos: Alexandre Melo/Jornal Metas)
Até o momento o projeto teve como foco a história de longa duração do Alto Vale do Itajaí. “Na atual proposta ampliamos a área de pesquisa, englobando Médio e Baixo Vale do Itajaí, assim como adotamos novas abordagens teóricas e metodológicas. Procuramos articular diferentes porções do Vale do Itajaí na construção de histórias de longa duração sobre as populações ameríndias que ocuparam, circularam e viveram ao longo deste rio, usando e manejando espécies vegetais e paisagens ao longo do Holoceno”, reforça o professor Bueno. Após as escavações, todos os objetos serão catalogados e enviados para análises em laboratório, o que pode levar até dois anos para que se obtenha os resultados. Enquanto isso, a equipe vai deixar a área, sem antes fechar todos locais que foram escavados, como uma forma de preservar o sambaqui. “Pode ser que daqui a 100 anos, outros arqueólogos e historiadores precisem vir aqui atrás de respostas a outras situações que serão vividas em cada época”, finaliza o professor Lucas.
Objetivos da pesquisa
- Contribuir para a compreensão das dinâmicas de povoamento e construção de paisagens por meio do movimento de pessoas, plantas, animais e minerais no vale do Itajaí ao longo do Holoceno;
Discutir dinâmicas de interação entre os grupos ameríndios que ocuparam o vale do Itajaí ao longo do Holoceno;
Investigar como as plantas circulam através desta dinâmica de interação;
Investigar a influência e o impacto das práticas de manejo e domesticação de recursos vegetais adotados pelos grupos ameríndios ao longo do Holoceno na formação da paisagem atual;
Identificar elementos do registro arqueológico que indiquem conexões entre sítios arqueológicos localizados no Baixo, Médio e Alto Vale do Itajaí;
Identificar vestígios botânicos e/ou indicadores da utilização e consumo de recursos vegetais em sítios arqueológicos localizados nos três compartimentos do Vale do Itajaí;
Construir uma coleção de referência botânica que contribua para identificação de espécies vegetais identificadas nos sítios arqueológicos da região.
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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Alexandre Melo/Jornal Metas)
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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Alexandre Melo/Jornal Metas)
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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Alexandre Melo/Jornal Metas)
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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Alexandre Melo/Jornal Metas)
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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Alexandre Melo/Jornal Metas)
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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Alexandre Melo/Jornal Metas)
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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Alexandre Melo/Jornal Metas)
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Trabalho de escavação e pesquisa no Sambaqui Pedra de Amolar, em Ilhota (Alexandre Melo/Jornal Metas)
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- pedra de amolar
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