Um dos jogos investigados pelo Ministério Público de Goiás envolve a partida entre Criciúma x Tombense

Atualizada às 22h43min
Está em curso uma investigação do Ministério Público de Goiás (MP-GO) que pode destrinchar um esquema milionário de manipulação de resultados na Série B do Campeonato Brasileiro do ano passado. O material apreendido no cumprimento de mandados judiciais da Operação Penalidade Máxima, nesta terça-feira (14), trouxe para o Ministério Público de Goiás (MPGO) indícios de que os crimes apurados tiveram continuidade e se estenderam para partidas de futebol de campeonatos estaduais em 2023. Essa informação foi repassada pelos promotores de Justiça que conduzem a investigação em entrevista à imprensa nesta quarta-feira (15).
A operação foi realizada pelo MPGO, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI) e do Grupo de Atuação Especial em Grandes Eventos do Futebol (GFUT).
Na ação, foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão e um de prisão temporária, em Goiânia, São João Del-Rei (MG), Cuiabá (MT), São Paulo (SP), São Bernardo do Campo (SP) e Porciúncula (RJ). Os mandados foram expedidos pela 2ª Vara Estadual dos Feitos Relativos a Delitos Praticados por Organização Criminosa e Lavagem ou Ocultação de Bens Direitos e Valores.
Na entrevista, os integrantes do Gaeco e do GFUT esclareceram que a investigação teve início em novembro de 2022, a partir de denúncia ao MP pelo Vila Nova Futebol Clube, com elementos consistentes indicando a manipulação de três partidas para atender a interesses de apostadores. O grupo criminoso teria pago jogadores de três times para que estes cometessem pênaltis no primeiro tempo dos jogos da última rodada da competição, disputada em 5 de novembro. Os atletas seriam do Vila Nova, Tombense e Sampaio Correa.
Um dos jogos foi disputado no Estádio Heriberto Hulse, em Criciúma, quando o Tigre enfrentou o Tombense e venceu por 2 a 0, com um dos gols assinalados de pênalti no primeiro tempo. Os outros jogos, na mesma data, foram Vila Nova x Sport e Sampaio Correa x Londrina. No caso da partida do Vila Nova, apesar da tentativa de manipulação e do pagamento antecipado ao jogador, o pênalti não foi cometido porque o jogador acabou não sendo escalado para a partida. No jogo Sampaio Correa x Londrina, a equipe paranaense marcou um gol em cobrança de pênalti no primeiro tempo.
Em razão do não cumprimento do “combinado”, o jogador do Vila Nova passou a ser pressionado e cobrado pelos apostadores o ressarcimento do prejuízo. Embora ainda não haja um cálculo preciso, a estimativa é que, nesta rodada de jogos, o “lucro” esperado pelo grupo criminoso ficava próximo a R$ 2 milhões.
Mais jogos suspeitos
Coordenador do Gaeco, Rodney da Silva fez questão de esclarecer que a investigação está concentrada em pessoas físicas suspeitas, incluindo apostadores e jogadores de futebol. Como enfatizou, as instituições, como clubes de futebol, e a CBF são consideradas vítimas do esquema criminoso, assim como sites de apostas.
Ele explicou que toda a apuração é escalonada em fases, tendo início com um determinado volume de indícios e número de suspeitos, que podem evoluir à medida que a investigação é aprofundada, com suspeita de manipulação em outros jogos da Série B. Silva não descartou a possibilidade da investigação chegar aos campeonatos estaduais de 2023 que ainda estão em andamento e, também, a jogos da Série A de 2022.

Sobre o cálculo de valores, os promotores pontuaram que, como a investigação ainda está na fase inicial, ainda não há como estimar as quantias efetivamente movimentadas no esquema. Mas informaram algumas somas envolvidas: para os jogadores, era pago um adiantamento de R$ 10 mil para a prática da ação combinada; caso o combinado fosse cumprido e a aposta desse certo, o atleta receberia mais R$ 140 mil. Quanto ao lucro esperado com as apostas, ele calcula entre R$ 500 mil e R$ 2 milhões.
Na entrevista, foi apresentado à imprensa um print de conversa de WhasApp de um celular apreendido na operação com um dos suspeitos. O diálogo sinaliza novas combinações de manipulação, envolvendo outros jogos, como número de escanteios e cartões vermelhos.
Quatro atletas envolvidos
De acordo com o promotor Fernando Cesconetto, os novos elementos serão analisados, junto com as demais provas coletadas, para identificação de outros potenciais investigados e de outros crimes cometidos. Também serão concluídos os interrogatórios (quatro pessoas foram ouvidas hoje), que poderão trazer mais informações. São aguardadas ainda informações resultantes de quebras de sigilo.
A princípio, explicou Cesconetto, as condutas praticadas abrangem os crimes de associação criminosa, lavagem de dinheiro e dois delitos previstos no Estatuto do Torcedor, relacionados à corrupção em jogos de futebol: são as condutas dos artigos 41-C e 41-D.
Sobre o mandado de prisão cumprido, ele informou que ocorreu em São Paulo, tendo sido a medida determinada em razão do relevante papel desempenhado pelo suspeito, que seria um dos apostadores. Em São Paulo, foram cumpridos ainda três mandados de busca e apreensão, um deles em São Bernardo. Em Goiânia, foram dois mandados.
Justiça Esportiva
O coordenador do Gaeco observou que o esquema elaborado pelos apostadores tem como objetivo aumentar ao máximo a capacidade de ganhar e ter lucro com as apostas, por meio da manipulação. Diante do que tem sido apurado em relação a essas fraudes, pontuou, já tem sido feito um trabalho preventivo, buscando frear esse tipo de conduta criminosa. “É importante destacar que o que foi apurado não desacredita as instituições esportivas nem o esporte. É preciso ressalvar isso”, sublinhou Silva. Ele salientou que a investigação vai procurar identificar um perfil de aposta para auxiliar nesse trabalho.
Cesconetto, por sua vez, revelou que os dados apurados na operação serão compartilhados com a Justiça Esportiva para as providências cabíveis. Mas descartou a possibilidade de que os indícios colhidos possam resultar em anulação de jogos.
De acordo com o site do ge (Globo Esporte), um dos jogadores investigados pela operação "Penalidade Máxima" é o meia Romário, ex-jogador do Vila Nova. Ele foi o único a se manifestar via rede social, admitindo que foi procurado pelo grupo de apostadores, mas que não partiu dele a ideia de participar do esquema. Romário disse ainda que somente dará mais detalhes em depoimento nesta quinta-feira (16).
- Eles que me procuraram. Eu não procurei ninguém. Eles me ofereceram dinheiro sim, amanhã (quinta-feira) eu falo com mais detalhes. Obrigado – disse Romário por meio de uma rede social.
Além de Romário, também estão sendo alvos da operação outro jogador do Vila Nova, que teria emprestado a conta bancária para Romário receber um adiantamento de R$ 10 mil dos apostadores, um jogador do Sampaio Corrêa e um do Tombense, este já afastado pela diretoria após o escândalo vir à tona.
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