Qual presente você, morador de Gaspar, daria para a cidade neste 18 de março, quando ela completa 89 anos. Nós escolhemos a sustentabilidade. E se cada um fizer a sua parte, certamente vamos conseguir dar este presente à cidade “Coração do Vale”. É por meio da sustentabilidade que vamos construir uma Gaspar melhor.
A urbanização, que nos atinge de forma acelerada, é fruto de avanços tecnológicos, políticos e sociais e causa impacto ambiental na cidade. Especialistas acreditam que o maior crescimento nos próximos anos ocorrerá nas pequenas e médias cidades. Portanto, a pressão desse movimento demográfico é grande para mudar os hábitos.
Quando falamos de impacto ambiental, logo vêm à mente as filas intermináveis de carros, a casa inundada depois de uma tempestade de verão ou ainda o nosso velho e combalido Itajaí-Açu transbordando depois de uma semana de chuva. Os moradores de Gaspar passaram a ter de lidar, com mais frequência, com chuvas, trovoadas, enxurradas, ventania, inundações e deslizamentos de terra. Isso ocorre por conta da concentração de pessoas na área urbana da cidade, aliado ao alto consumo de produtos e serviços, geração de toneladas diárias de lixo e queima cada vez mais rápida de combustíveis fósseis.
Parece o fim do mundo. Mas não é. Ainda dá tempo de mudar essa realidade por meio de iniciativas sustentáveis. Segundo 97% dos cientistas, as mudanças do clima acontecem e são aceleradas pelas ações humanas. Para você ter uma ideia, o nível de consenso dos profissionais é o mesmo sobre a relação entre fumo e câncer de pulmão. Para reverter o quadro, temos de olhar primeiro para a nossa cidade. As mudanças começam em escala local, mas podem chegar a transformar todo o país.
Uma cidade sustentável incorpora ações de sustentabilidade em seus serviços fundamentais, como segurança, transportes, educação, saúde, coleta de lixo, saneamento, energia, etc. As ações podem ser variadas, mas devem contribuir para o desenvolvimento ambiental e econômico da cidade. Mas não pense que tudo depende da Prefeitura. Pequenas, médias e grandes empresas, além de escolas, igrejas, clubes de serviços, entidades, instituições e a comunidade em geral, devem contribuir com o processo.
Em uma cidade sustentável vamos, sem dúvida, reduzir significativamente os efeitos do clima e outros problemas no nosso dia a dia, como a falta d’água e de energia elétrica. Uma das formas de transformar a cidade é pela inovação. Aplicar investimentos em empresas que atuam nesse sentido é uma ótima ideia. Os investimentos são focados em empresas que se encontram em estágio inicial e têm um modelo de negócios baseado em energia limpa, sustentabilidade e redução de impactos ambientais.
Vale lembrar que pequenos e médios negócios de Gaspar têm muito a ganhar com ações sustentáveis. Atitudes simples, como o gerenciamento e a destinação adequada de resíduos, podem melhorar a reputação da empresa. Isso sem contar a geração de renda. Diminuindo o consumo de água e energia, esses negócios também podem aumentar seus lucros.



O desafio de crescer  com equilíbrio

O Plano Diretor pode ser o começo de uma mudança, pois ele define as diretrizes urbanísticas da cidade, orienta sobre a ocupação do solo, áreas onde pode haver novas construções, altura de prédios e principalmente a preservação do meio ambiente. O PD também ajuda a direcionar ações nas áreas da educação, saúde, transporte e lazer sempre privilegiando o interesse coletivo e o crescimento sustentável.
Em Gaspar, porém, o Plano Diretor está, no mínimo, sete anos atrasado. De acordo com o Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001), a atualização do PD deve ocorrer a cada dez anos. O governo municipal e Câmara de Vereadores até chegaram a promover alterações pontuais nos últimos anos, mas de maneira geral, o PD em vigor é de 2006. Mais grave ainda é que o documento é anterior a tragédia climática de 2008, que provocou profundas mudanças no cenário habitacional do Vale Europeu.
O prefeito Kleber Wan-Dall explica que, basicamente, se modificou o zoneamento de edificação de prédios nos últimos anos. “A forma como estava no Plano Diretor vinha travando novos empreendimentos, que acabaram não se consolidando na cidade. A administração municipal procurou ajustar, entre outras questões, a dos loteamentos. diminuindo a área comunitária e impondo ao loteador a necessidade de fazer uma rua mais larga, com ciclofaixa e área de estacionamento”. Wan-Dall admite que para o empreendedor é ruim, porque a rua mais larga vai exigir mais calçamento, mais infraestrutura, ou seja, mais custos, porém, entende que isso é importante para a cidade. Outro ponto do PD aprovado pela Câmara Municipal no ano passado está relacionado às Áreas de Preservação Permanente (APPs). Elas determinam as distâncias do rio para novas construções. Em Gaspar, o distanciamento do Itajaí-Açu passou para 40 metros; 20 metros dos ribeirões; e 15 metros para os demais cursos de água. Já o Código Florestal não permite construções nas faixas marginais de qualquer curso d’água natural perene em distância mínima de 100 metros para os cursos d’água que tenham de 50 a 200 metros de largura, como é o caso do Itajaí-Açu. No entanto, vale a lei municipal aprovada.



A importância do Plano Diretor

Cidades que se desenvolvem à revelia de um bom planejamento tornam-se áreas urbanas dispersas, distantes e desconectadas. Regidos pelo Estatuto da Cidade, os Planos Diretores norteiam o desenvolvimento e o crescimento dos municípios – têm o objetivo de ordenar o desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana. Por meio do zoneamento, o PD deve prever áreas com diversidade de usos na maior parte da cidade, visando à mescla entre trabalho e moradia e à criação de diferentes centralidades. 
O PD também deve prever mecanismos de regulação que promovam o equilíbrio entre serviços urbanos e a concentração tanto de pessoas quanto de construções em determinadas áreas, atentando para a adequação desse adensamento à capacidade da infraestrutura urbana no entorno. Tanto o adensamento adequado quanto a criação de policentralidades são princípios do Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentável (DOTS), uma estratégia de planejamento que articula o uso do solo à mobilidade urbana para criar cidades compactas, conectadas e coordenadas. Ao integrar esses princípios nas diretrizes estabelecidas pelo PD, as cidades têm a oportunidade de articular as densidades populacionais conforme os eixos de transporte e zoneamento e, assim, traçar um caminho para o desenvolvimento urbano sustentável. É o que Teresina, no Piauí, busca fazer no processo de revisão de seu PD.