O Brasil possui mais de 230 cervejarias. Diferentes marcas caem, cada vez mais, na preferência do consumidor

Houve um tempo em que o brasileiro conhecia só dois tipos de cerveja: a clara, chamada de Pilsen, e a escura, do tipo Malzbier, muito apreciada pelo público feminino. No inverno, aparecia a bock como uma terceira opção, porém, era um produto sazonal. Nos últimos 10 anos, o cenário se transformou e a bebida que sempre foi sinônimo de verão e festa ganhou contornos de “gourmet”. As cervejas especiais invadiram os bares e restaurantes, impulsionando o mercado para um crescimento que bateu na casa dos 64% em uma década.

As cervejas chamadas especiais correspondem hoje a 6% do mercado nacional. Na carona do sucesso da blumenauense Eisenbahn, o Brasil conta hoje com mais de 230 cervejarias, a grande maioria de pequeno porte e com investimentos em variedades de estilos. “Quando abrimos a Eisenbahn, disseram que não tínhamos cervejas especiais no Brasil porque não era do paladar do brasileiro. Na verdade, os brasileiros não tinham sido apresentados a outros estilos”, afirma Juliano Mendes, co-fundador da Eisenbahn.

Sommelier da Bierland, Rubens Deeke diz que o mercado começou a se abrir para as especiais a partir do começo da década anterior, mas foi somente nos últimos três anos que a produção artesanal decolou. “A Bierland está desde 2003 no mercado, mas foi nos últimos anos que a procura aumentou. O consumidor passou a procurar por diferentes tipos de cerveja, porque gosta de variar. Com isso, novas microcervejarias foram abertas em todo o país. Temos contato com empresários do ramo no Rio Grande do Sul e São Paulo A mudança ocorre por lá também”, comenta Deeke.

O paladar do consumidor vem mudando a produção das microcervejarias do Vale. A Schornstein, de Pomerode, lançou sua cerveja India Pale Ale (IPA) em 2013 e o produto já é o mais procurado, segundo o diretor financeiro Maurício Nienow. “Oferecemos a cerveja na Sommerfest de Blumenau, no começo deste ano, e vendeu tanto que ficamos sem o produto no último dia”, conta.

Menos e melhor

O primeiro contato do comerciante Marco Rebello com as cervejas especiais foi há cinco anos, com um copo de Eisenbahn Pilsen. Desde então, o seu gosto pela bebida mudou radicalmente. “Quando se aprende a tomar cerveja artesanal, fica até difícil voltar para as industriais. O gosto é muito diferente”, conta Rebello. Cinco anos depois, Rebello evita cervejas normais e prioriza sempre as artesanais. A respeito do preço, ele afirma que vale a pena pagar a mais para tomar uma bebida de melhor qualidade. “Eu tomo menos, mas bebo algo melhor”, afirma o comericante, que se tornou fã das cervejas de trigo.

 

De “quiosqueiro” a dono de bar especializado

Quando botou os pés em Blumenau pela primeira vez em 2009, o matogrossense Paulo Soeiro jamais imaginou que, em cinco anos, seria um aficionado por cervejas e proprietário de um bar especializado em chopes. Ele tentava emprego na cidade no ramo da construção civil, mas foi à frente de um quiosque da bebida que tudo mudou.

“Eu trabalhei num quiosque de cervejas especiais no Norte Shopping, mas o dono não estava mais querendo trabalhar com isso. Ele disse que ia fechar e eu propus comprar o estabelecimento. Não tinha dinheiro e ele me fez uma proposta. Eu tinha 15 dias para arrumar R$ 15 mil reais, já podendo tocar o quiosque. Caso contrário, ele fechava”, conta.

Soeiro sabia que a única esperança seria vender R$ 15 mil em 15 dias no quiosque. E o mais improvável aconteceu. Em duas semanas, o espaço vendeu tantas garrafas que ele conseguiu juntar o dinheiro, comprando a franquia. “Eu passei a ter certeza que isso dava certo e comecei a investir”.

Como gestor da franquia, Soeiro começou a se especializar em cervejas especiais. Fez cursos, conheceu cervejerios caseiros e se tornou um aficcionado pela bebida. No começo do ano, resolveu dar mais um passo. Vendeu a franquia e decidiu abrir um bar especializado.

O BeerLuck abriu as portas no fim de maio e hoje conta com 30 torneiras de chope. Além da variedade, Soeiro aposta na cultura da bebida, atraindo eventos e cursos. “Blumenau já tinha casas especializadas em cervejas, mas não tinha uma de chope. A clientela vem crescendo. Uns já são fãs de rótulos especiais, outros estão começando a beber além das tradicionais. Para esses, nós fazemos uma inserção no mundo das cervejas artesanais”, explica o comerciante.

-----

Casa oferece 350 rótulos diferentes

A criação do Empório do Parque Vila Germânica em 2008 foi o ponto de partida para Blumenau ter um bar especializado em variedade de cervejas. Foi essa a ideia de Valmir Zanetti, do Bier Vila, uma casa que possui hoje 350 rótulos diferentes da bebida.

“A ideia não é apenas ter uma variedade de rótulos. Mas ser um bar especializado, com um atendimento diferenciado, com pessoas que entendam de cerveja”, comenta Zanetti.

O empresário revela que a procura por rótulos diferentes é cada vez maior e se divide em dois tipos de clientes: os turistas, que vão ao local para conhecer as cervejas da região, e os moradores daqui, que procuram marcas de outros cantos do mundo.

Além de oferecer a bebida no bar, o Bier Vila ainda conta com uma loja para o cliente que deseja levar as cervejas para casa.