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Antiga casa nas Águas Negras, em Gaspar, foi uma das primeiras a receber energia elétrica no município (Fotos: Daniel Nogueira/Jornal Metas)
Como as cidades catarinenses se desenvolveram a partir da implantação dos primeiros geradores e da construção das usinas hidrelétricas
Era fim de tarde quando Gaspar, ainda mergulhada em noites à luz de lamparina, viu algo jamais imaginado: um fio metálico cruzando o céu e, no alto de um poste recém-erguido, uma lâmpada que se acendeu pela primeira vez. A casa, modesta, localizada no que hoje conhecemos como o bairro Águas Negras, ficava no caminho da linha que levava energia da hidraelétrica no Gaspar Alto para Blumenau. A família que ali vivia, a família Zimmermann, se tornaria testemunha de um marco - o instante em que o Vale do Itajaí saiu da penumbra e conheceu a força da eletricidade.

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Casa da família Zimmermann, onde funcionava uma serraria e um engenho de cachaça, foi uma das primeiras de Gaspar a receber energia elétrica (Fotos: Arquivo pessoal)
Aquele clarão, simples e silencioso, era o prenúncio de uma revolução. Daquele dia em diante, as mudanças, mesmo que lentas, começariam a ser vistas. As lamparinas de querosene ficariam para trás, dando lugar às lâmpadas e postes de iluminação. As rodas d’água deram lugar aos geradores elétricos. A realidade seria alterada, até chegarmos ao mundo que conhecemos hoje. Mas para entender como a luz chegou até ali, e como a energia elétrica impactou o mundo é preciso voltar no tempo, à descoberta da energia elétrica no mundo, ao caminho que percorreu até o Brasil, e às águas que, em Santa Catarina, começaram a girar turbinas e transformar correnteza em progresso.
A origem
A eletricidade sempre existiu na natureza — nas descargas de um raio, na fricção de materiais ou nas correntes invisíveis que percorrem os seres vivos. Mas compreender sua essência e transformá-la em energia útil foi um processo que levou milênios. Os primeiros registros datam da Antiguidade, quando o filósofo grego Tales de Mileto, ao esfregar âmbar em pele de animal, observou a atração de pequenos objetos — um dos primeiros experimentos conhecidos com eletricidade estática.
Durante séculos, o fenômeno permaneceu envolto em mistério, até que, no século XVII, estudiosos como Otto von Guericke criaram os primeiros geradores eletrostáticos, inaugurando uma nova fase na investigação científica. A partir do século XVIII, nomes como Benjamin Franklin, Alessandro Volta e Michael Faraday transformaram observações em conhecimento sistematizado. Franklin demonstrou a natureza elétrica dos raios; Volta construiu a primeira pilha elétrica; e Faraday descobriu os princípios do eletromagnetismo, base para a invenção dos motores e geradores.

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Em 21 de outubro de 1879, Edison inventou a primeira lâmpada incandescente comercialmente viável (Fotos: Reprodução)
O verdadeiro salto veio no século XIX, quando a eletricidade deixou de ser apenas um fenômeno estudado em laboratórios para se tornar força motriz da modernidade. Thomas Edison e Nikola Tesla foram protagonistas dessa revolução: Edison aperfeiçoou a lâmpada incandescente e desenvolveu sistemas de distribuição elétrica, enquanto Tesla consolidou a transmissão em corrente alternada, que permitiu levar energia a longas distâncias.
O impacto foi imediato. Cidades inteiras mudaram de aparência e ritmo. Ruas antes escuras tornaram-se iluminadas e seguras, fábricas passaram a funcionar dia e noite, e o cotidiano humano foi profundamente transformado. A eletricidade, que nascera como um fenômeno natural, tornava-se o símbolo definitivo do progresso.

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A linha do tempo da história da eletricidade no mundo (Fotos: Jornal Metas)
A chegada da eletricidade ao Brasil
O Brasil acendeu suas primeiras luzes no final do século XIX, em um momento em que o mundo já se rendia ao poder da energia elétrica. A primeira demonstração pública de iluminação elétrica aconteceu em 1879, no Rio de Janeiro, em frente à Igreja de Nossa Senhora da Glória do Outeiro. A novidade encantou os espectadores e marcou simbolicamente o início da era elétrica no país.
A partir daí, o Brasil começou a descobrir a força que vinha dos fios. No início do século XX, o crescimento das cidades, a urbanização e a industrialização impulsionaram a demanda por energia. São Paulo e Rio de Janeiro foram pioneiras na adoção de sistemas elétricos, com a instalação de geradores que alimentavam bondes, fábricas e a iluminação pública. A energia, que antes era privilégio de poucos, começava a se tornar motor do desenvolvimento urbano e símbolo de modernidade.
Para sustentar esse novo ritmo, surgiram as primeiras usinas hidrelétricas, aproveitando a abundância de recursos hídricos do país. Entre as pioneiras estavam as usinas de Parnaíba e Ribeirão das Lajes, que estabeleceram as bases de um sistema energético predominantemente hidrelétrico. Com o passar das décadas, o Brasil consolidou essa vocação, tornando-se referência mundial no uso das águas como fonte de energia.
Durante o período da Ditadura Militar, a política de grandes obras de infraestrutura deu origem a projetos monumentais — o mais emblemático deles, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, inaugurada em 1984. Construída em parceria com o Paraguai, Itaipu transformou-se em um símbolo do potencial energético brasileiro, figurando entre as maiores geradoras de energia do mundo.
Mas o avanço não foi igual em todo o território. Enquanto as capitais e os polos industriais prosperavam à luz elétrica, a zona rural permanecia na penumbra. Somente a partir do final do século XX e início do século XXI, programas como o “Luz para Todos” começaram a universalizar o acesso à energia, levando eletricidade a milhões de famílias no interior.
Hoje, o Brasil continua sendo um dos países mais dependentes de fontes renováveis do planeta. A matriz energética nacional é formada majoritariamente por hidrelétricas, mas ganha cada vez mais espaço a geração solar e eólica, refletindo a busca por sustentabilidade e inovação.
Enquanto isso, no Sul do país, uma nova história começava a se desenhar — a das águas catarinenses transformadas em luz. E seria no Vale do Itajaí, impulsionado pelo trabalho das colônias e pela força de seus rios, que Santa Catarina viveria sua própria revolução elétrica.
Marco no setor energético de Santa Catarina
A história da eletricidade em Santa Catarina começou a ganhar força no início do século XX, impulsionada pelo avanço da indústria têxtil no Vale do Itajaí. Foi em Blumenau, coração industrial da região, que surgiu a Empresa de Eletricidade Salto, em 1909 — marco pioneiro no setor energético catarinense. A companhia ergueu, às margens do rio Itajaí-Açu, a Usina do Salto Weissbach, inaugurada em 1914 após anos de estudos e projetos. A hidrelétrica transformou-se no motor da prosperidade regional, iluminando fábricas, ruas e residências, e tornando-se o centro da vida moderna no Vale.

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Imagem do interior da casa de força da Usina Salto, na época ainda com apenas dois geradores (Fotos: Acervo Memória da Eletricidade)
Em 1920, a empresa foi vendida para investidores paulistas e passou a se chamar Força e Luz Santa Catarina S.A. (Forçaluz), sendo readquirida por empresários locais quatro anos depois. A partir daí, expandiu sua atuação com a construção de novas usinas — Cedros e Palmeiras — e ampliou a distribuição de energia por todo o Vale do Itajaí, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento econômico e industrial da região. Durante mais de cinco décadas, a Forçaluz representou o símbolo da modernidade e do empreendedorismo catarinense.

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Vista do prédio sede da Empresa Força e Luz Santa Catarina, situado à Rua das Palmeiras, atual Alameda Duque de Caxias, onde atualmente opera a sede da Celesc em Blumenau (Fotos: Secretaria Municipal de Cultura/Arquivo Histórico José Ferreira da Silva)
Com o crescimento da demanda e o esgotamento do modelo regionalizado, o Estado percebeu a necessidade de um sistema energético unificado. Assim, em 9 de dezembro de 1955, o então governador Irineu Bornhausen criou a Centrais Elétricas de Santa Catarina (Celesc), com o objetivo de planejar, construir e operar o sistema de produção, transmissão e distribuição de energia em todo o território catarinense. Formalmente instalada em 1956, a Celesc iniciou suas atividades atendendo apenas 16 municípios. À época, o racionamento de energia era comum: em cidades como Joinville, o fornecimento era suspenso por horas durante o dia e em feriados, refletindo a carência de infraestrutura.
Nas décadas seguintes, a Celesc ampliou progressivamente seu alcance. Incorporou empresas regionais — entre elas a própria Força e Luz Santa Catarina, em 1964 — e construiu novas hidrelétricas, como Garcia, Celso Ramos, Palmeiras, Pery e Governador Ivo Silveira, consolidando o sistema elétrico estadual. O período também foi marcado por grandes obras de interligação, como a linha Tubarão–Lages–Herval do Oeste–Xanxerê, considerada a espinha dorsal do sistema catarinense. A empresa cresceu junto com o Estado, que se industrializava rapidamente, e tornou-se peça essencial no desenvolvimento econômico.
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A Celesc foi criada em 1955, pelo governador Irineu Bornhausen (Arquivo Histórico Celes)
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Um quadro de leitura de energia antigo (Arquivo Histórico Celes)
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A empresa começou atendendo somente 16 municípios do estado de SC (Arquivo Histórico Celes)
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Imagens da Usina Hidrelétrica Palmeiras, em Rio dos Cedros em 1964 (Arquivo Público do Estado de Santa Catarina)
Durante os anos 1970 e 1980, a Celesc viveu sua fase de consolidação. Incorporou cooperativas rurais, expandiu a rede de transmissão e lançou programas que levaram energia às comunidades do interior, transformando o cotidiano de milhares de famílias. Em 1980, já atendia meio milhão de consumidores; em 1989, alcançava um milhão. Na década de 1990, novas obras elevaram o padrão técnico e consolidaram a interligação com o Sistema Nacional de Energia, garantindo estabilidade e eficiência.
Hoje, a Celesc é uma das maiores empresas do setor elétrico brasileiro, com mais de 3,5 milhões de unidades consumidoras e presença em todos os municípios catarinenses. A companhia, que começou distribuindo energia a 35 mil consumidores, agora investe bilhões na modernização de sua rede e na diversificação de fontes, mantendo viva a tradição de inovação que começou há mais de um século nas margens do rio Itajaí-Açu.
Dados atuais da Celesc
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Atualmente a empresa possui cerca de 3,5 milhões de unidades consumidoras no estado de SC (Celesc)
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Plano de Investimentos da Celesc para o quadriênio 2023-2026 (Jornal Metas)
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Evolução do número de Unidades Consumidoras da Celesc ao longo dos anos (Jornal Metas)
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Atualmente, o estado de Santa Catarina possui maior índice de eletrificação rural no País, com 98% das propriedades energizadas (Jornal Metas)
A primeira usina em Gaspar: as luzes se acendem
A história da energia elétrica no Vale do Itajaí está entrelaçada à trajetória de um nome que marcou o início da industrialização regional: Adolfo Frederico Guilherme Busch, conhecido como Guilherme Busch Sr.. Natural de Santo Amaro da Imperatriz, ele chegou a Blumenau em 1888, aos 22 anos, e logo se destacou como comerciante e empreendedor. Em 1905, Busch obteve autorização para produzir e distribuir energia elétrica e, no ano seguinte, inaugurou a fábrica de fósforos Phosphoros Catharinenses. A necessidade de automatizar a produção impulsionou um feito inédito: a construção da primeira usina hidrelétrica da Colônia Blumenau e de Santa Catarina, instalada em Gaspar Alto, ainda no início do século XX.

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Registros da existência da empresa de fósforos de Frederico Guilherme Busch, que possibilitou a chegada da energia elétrica no Vale (Fotos: Reprodução)
A empreitada, que durou quase cinco anos, exigiu a abertura de picadas, o transporte de materiais por cavalos e o trabalho braçal de dezenas de homens, em meio à mata fechada. Quando as turbinas começaram a girar, a força das águas do Salto do Gasparinho passou a mover o progresso. No dia 9 de fevereiro de 1909, Blumenau se tornou a primeira cidade catarinense a ter iluminação pública elétrica, com 116 lâmpadas acesas pela empresa de Busch. Algumas residências, fábricas e estabelecimentos comerciais também receberam a novidade, impulsionando o crescimento urbano e industrial da região.
Mas antes de a eletricidade clarear as ruas do centro blumenauense, ela já iluminava discretamente o caminho — e foi nesse trajeto que Gaspar entrou para a história. As linhas de transmissão que levavam energia da usina de Gaspar Alto até Blumenau cruzavam propriedades rurais do interior gasparense. Algumas dessas famílias, como forma de compensação e reconhecimento, foram agraciadas com o fornecimento elétrico, tornando-se as primeiras do município a conhecer a luz que rompia o breu das noites.

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Humberto e Guilhermina Zimmermann, na ponta direita da foto (Fotos: Arquivo pessoal)
Uma dessas casas era a de Humberto e Guilhermina Zimmermann, localizada onde hoje é o bairro Águas Negras. Ali funcionavam um engenho de cachaça e uma serralheria movidos por roda d’água — até que a energia elétrica transformou completamente o cotidiano da família. A bisneta do casal, Maria de Lourdes Moser, lembra que cresceu com a eletricidade já presente em casa, mas conserva os relatos sobre como tudo começou. Segundo ela, os postes eram talhados no próprio local e deixados para secar antes de serem erguidos, em um trabalho que envolvia de 35 a 40 homens, quase todos imigrantes alemães.
"Antes, tudo era movido pela força da água. Depois que veio a luz, o engenho e as máquinas ganharam outro ritmo. Foi uma grande coisa para eles" – Maria de Lourdes Moser
Maria recorda também o impacto daquela mudança na vida rural. “Antes, tudo era movido pela força da água. Depois que veio a luz, o engenho e as máquinas ganharam outro ritmo. Foi uma grande coisa para eles”, conta. Com o tempo, outras propriedades do entorno foram se conectando à rede, mas de forma lenta — uma casa a cada ano, conforme a possibilidade financeira dos moradores. Durante sua infância, apenas três residências no bairro tinham energia. “A gente se sentia feliz quando mais alguém conseguia colocar luz. Era um trabalho de formiguinha”, recorda.
Ela também descreve o cenário da época: as noites ainda eram escuras e silenciosas, iluminadas por lampiões e querosene. As famílias evitavam sair após o pôr do sol, a não ser para ir à missa, em carroças guiadas pela luz bruxuleante das lamparinas. “Eu saía de casa de madrugada, tudo escuro. Hoje passo pelos mesmos lugares e penso: era tudo apagado, e agora está tudo iluminado”, diz, emocionada.
"Eu saía de casa de madrugada, tudo escuro. Hoje passo pelos mesmos lugares e penso: era tudo apagado, e agora está tudo iluminado" – Maria de Lourdes Moser

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Noite iluminada de Gaspar mostra o impacto da energia elétrica no município (Fotos: PMG)
Com o passar dos anos, a energia que um dia desceu de Gaspar para Blumenau fez o caminho inverso — as redes modernas passaram a abastecer também o interior. Mas o traçado original ainda pode ser percebido, na propriedade que hoje pertence ao sobrinho de Maria, Fábio Seide, que recentemente reformou o local, mas mantendo o legado da família, o local onde o gerador era armazenado foi mantido, um silencioso testemunho de uma era em que a luz chegou devagar, mas mudou tudo.

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Lugar onde ficavam os geradores de energia da propriedade (Fotos: Daniel Nogueira/Jornal Metas)
Engenho mantém a tradição
Antes de a eletricidade riscar o céu do Vale do Itajaí com fios e postes, era a água quem ditava o ritmo da vida. Correndo firme pelos vales e grotas, ela movia rodas, moía grãos, serrava madeira e destilava cachaça. Era a força invisível de um tempo em que o progresso se media pela engenhosidade das mãos, não pela intensidade da luz.
Mesmo com a expansão da energia elétrica pelo Vale do Itajaí, nem todas as famílias tinham condição financeira de investir na instalação elétrica em sua propriedade. Desta forma, tinham de lidar com as tarefas diárias da maneira como já estavam acostumados: contando com a ajuda do sol, o uso de lamparinas de querosene, rodas d'água, entre outros métodos. Em meados de 1918, Ulberto Marquetti, vindo da Itália e que havia se instalado no que hoje conhecemos como o bairro Alto Gasparinho iniciou a produção de cachaça em sua propriedade. O antigo engenho começou com tração animal, com a moeção da cana-de-açúcar para dar início ao processo de fabricação da cachaça. Em 1940 a produção começou a ser feita com a roda d'água. Que desde então, nunca parou de fornecer energia para o engenho.

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"Minha vida toda foi construída nesse lugar e eu carrego essa missão de manter a tradição do meu nono sempre viva na nossa família. Trabalhei fora daqui por 10 anos e recebi até propostas boas para vender o lugar, mas o valor sentimental que tudo isso tem para mim e minha família é incalculável. Eu poderia ter o melhor apartamento de frente para o mar que eu não seria feliz longe daqui" – Gilmar César
Preservando a tradição, os irmãos Gilmar e Vandeir seguiram a receita artesanal herdada por seu nono e juntos tiveram a ideia de transformar o local no Engenho do Nono. Atualmente, o local faz parte do roteiro Vila D'Itália, famoso roteiro turístico em Gaspar. Gilmar conta que cresceu naquele lugar e que jamais pensou em se afastar. “Minha vida toda foi construída nesse lugar e eu carrego essa missão de manter a tradição do meu nono sempre viva na nossa família. Trabalhei fora daqui por 10 anos e recebi até propostas boas para vender o lugar, mas o valor sentimental que tudo isso tem para mim e minha família é incalculável. Eu poderia ter o melhor apartamento de frente para o mar que eu não seria feliz longe daqui”, conta Gilmar.

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fwefwffwe (Fotos: Daniel Nogueira/Jornal Metas)
No ano de 2010 o engenho ampliou seus produtos, surgindo licores de vários sabores. Nos dias atuais o Engenho do Nono segue em plena produção e sempre se preocupando em manter a qualidade de seus produtos e a tradição da família, mantendo a roda d'água e abdicando do uso da energia elétrica. “Mesmo sabendo que com a energia elétrica poderíamos ter muito mais produção e pouparia bastante tempo, eu tenho comigo uma frase que enquanto essa roda girar, a história da nossa família não vai morrer”, explica, orgulhoso.

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fwefwffwe (Fotos: Daniel Nogueira/Jornal Metas)
Gilmar conta que a roda d’água que hoje movimenta a produção, é a terceira da história do engenho, feita por volta dos anos 2000. Gilmar conta que na época de fazer a troca do equipamento, vendeu alguns bois que possuía por cerca de R$1.600 e o seu pai o ajudou com mais R$400 para comprar a madeira. “Naquela época o dinheiro que eu consegui com a venda dos bois era muito e fazia muita diferença, mas mesmo assim, meu desejo de manter a tradição e memória do nono foi maior e eu investi, junto com meu pai, na compra das madeiras de Itaúba”, relembra.
O Engenho do Nono é mais do que uma estrutura de madeira. É um relicário do tempo em que a natureza era a principal aliada do homem, quando o barulho da água era o som do trabalho. “Hoje eu ensino a importância da nossa tradição para minha filha, que me vendo trabalhar e dar a vida por este lugar, já diz que não quer nunca sair daqui. Então espero que quando eu partir, ela possa deixar esse legado vivo e passe adiante também”, explica Gilmar.

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Símbolo da era pré-elétrica, o engenho resiste como uma lembrança concreta do que foi o Vale antes das luzes. Ele fala de um tempo em que a energia não vinha dos fios, mas das águas — e em que o esforço humano e a natureza se encontravam em harmonia. Quando a eletricidade chegou e transformou tudo, o engenho ficou como um ponto fora da curva, um monumento silencioso à engenhosidade dos que viveram antes da modernidade.
Hoje, enquanto o som das turbinas elétricas ecoa pelas usinas e a cidade brilha à noite, a roda do Engenho do Nono continua a girar. Girando devagar, sem pressa, ela lembra que a história do Vale começou muito antes da luz — e que, mesmo na escuridão, havia força, movimento e vida.
Usina opera há mais de cem anos em Blumenau
Entre o verde denso das margens do Rio Itajaí e o som constante da correnteza, uma construção centenária segue de pé, pulsando com a mesma força de mais de um século atrás. A Usina Salto Weissbach, inaugurada em 1914, é mais do que uma usina hidrelétrica — é um monumento à persistência humana e ao poder da natureza, unidos num mesmo propósito: gerar luz. Construída numa época em que a energia elétrica ainda era um luxo restrito, a Usina Salto Weissbach se tornou a obra que acendeu o Vale do Itajaí e mudou definitivamente o curso de sua história.
A construção começou em 1911, num período em que Blumenau se consolidava como um polo industrial e comercial em expansão. O crescimento da cidade exigia novas fontes de energia, e foi nesse contexto que nasceu o projeto da então Empresa Força e Luz de Santa Catarina S.A. À frente, engenheiros alemães e brasileiros trabalhavam praticamente sem os recursos modernos que hoje são considerados básicos — não havia guindastes, tratores nem caminhões. Tudo era erguido com o esforço humano e a força animal. Grandes peças em ferro fundido, trazidas da Alemanha, chegavam ao Porto de Itajaí e eram transportadas por via fluvial até Itoupava Seca. Dali, seguiam em carroções puxados por cavalos até o local da obra. Um trajeto penoso, em estradas de barro, que exigia precisão e resistência.

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Antigos prédios da estação e da subestação da Usina Salto (Fotos: Acervo Memória da Eletricidade)
"Quem conhece a estrutura civil do Salto Weissbach se pergunta como aquilo foi possível naquela época" – Caego Seabra de Assumpção
“Quem conhece a estrutura civil do Salto Weissbach se pergunta como aquilo foi possível naquela época”, comenta o engenheiro mecânico Caego Seabra de Assumpção, responsável técnico pela usina e por outras dez hidrelétricas em Santa Catarina. “As turbinas e geradores são de aço fundido, extremamente pesados. O transporte, a instalação, o encaixe de cada peça, tudo feito manualmente. É uma engenharia que beira o artesanal, mas com um resultado monumental, que permanece de pé e funcional até hoje”.

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Caego Seabra de Assumpção, engenheiro mecânico da Celesc (Fotos: Alexandre Melo/Jornal Metas)
O prédio principal, erguido sobre o leito do rio, foi projetado para resistir às cheias do Itajaí, que frequentemente castigavam Blumenau. O porão da usina foi pensado para ser inundado, funcionando como base de sustentação durante as enchentes. A casa de máquinas, com pé-direito de 21 metros e mais de 600 metros quadrados, abrigava duas turbinas verticais conectadas a geradores de corrente alternada — tecnologia de ponta para a época. Quando a primeira delas entrou em funcionamento, em 24 de dezembro de 1914, Blumenau viveu seu primeiro Natal iluminado por energia elétrica.

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Reservatório no Rio Itajaí-Açu (Fotos: Acervo Memória da Eletricidade)
Nos meses seguintes, a energia do Weissbach começou a se expandir. Linhas de transmissão foram instaladas até Gaspar e, pouco depois, Itajaí. A luz atravessava o Vale acompanhando o curso do rio, e com ela vieram as transformações sociais e econômicas. Oficinas, moinhos e indústrias ganharam força, e a vida cotidiana passou a ter outro ritmo. A segunda unidade geradora foi inaugurada em maio de 1915. Em 1929, a terceira máquina foi instalada, e, na década de 1940, a quarta completou o conjunto. Durante mais de trinta anos, a usina foi a maior de Santa Catarina e a principal fonte de energia para o Vale do Itajaí.
Mesmo depois de mais de um século, o som das turbinas continua ecoando no interior da casa de máquinas. O engenheiro Caego observa, orgulhoso, o funcionamento impecável das estruturas originais. “As máquinas continuam as mesmas. A turbina e o gerador que começaram a operar em 1914 ainda estão aqui, girando. O que fizemos foi modernizar o comando e o sistema de operação, sem mexer no coração da usina”, explica. Hoje, todo o controle do Salto Weissbach pode ser feito à distância, a partir do centro de monitoramento da Celesc em Florianópolis. “É curioso pensar que, há cem anos, tudo era manual, e hoje conseguimos operar por computador. Mas a base, o motor que move a água e gera energia, é exatamente o mesmo”.
A usina é do tipo fio d’água, sem grandes reservatórios, aproveitando o desnível natural do rio. Sua potência instalada é de 6 megawatts, o suficiente para abastecer cerca de 20 mil residências. Embora modesta diante das grandes hidrelétricas modernas, o valor histórico do Salto Weissbach é incalculável. “É um patrimônio vivo”, define Caego. “O que foi feito aqui é um exemplo de engenharia duradoura, feita para resistir ao tempo. Você percebe o cuidado com cada detalhe, desde as fundações até o acabamento. É uma obra que nasceu para durar, e durou”.

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A usina mantém os seus equipamentos originais (Fotos: Alexandre Melo/Jornal Metas)
"A energia elétrica foi o divisor de águas do nosso desenvolvimento. Foi ela que possibilitou o crescimento das indústrias, o avanço da educação, da comunicação, de tudo.E o Salto Weissbach é a raiz dessa história. Ele é o coração que começou a bombear energia para o Vale. É um orgulho muito grande estar aqui tão perto e fazer parte disso" – Caego Seabra de Assumpção
Tombada como patrimônio histórico de Blumenau, a usina ainda conserva boa parte de seus elementos originais, incluindo o piso de ladrilho hidráulico e os painéis de controle de ferro fundido. O espaço é, ao mesmo tempo, uma peça de museu e uma máquina em plena atividade. O engenheiro acredita que preservar o Salto Weissbach é também preservar a memória de quem ajudou a construir o Vale do Itajaí. “A energia elétrica foi o divisor de águas do nosso desenvolvimento. Foi ela que possibilitou o crescimento das indústrias, o avanço da educação, da comunicação, de tudo.E o Salto Weissbach é a raiz dessa história. Ele é o coração que começou a bombear energia para o Vale”.
Mais do que um marco da engenharia catarinense, o Salto Weissbach é o símbolo de uma época em que a força das águas e a criatividade humana se encontraram para mudar o destino de uma região. De suas turbinas ainda brota a energia que, há mais de cem anos, transformou a escuridão em progresso.
Conheça a atual estrutura da Usina Salto
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