Para membros da Setorial de Literatura/CMC Itajaí 

Desde cedo fui do tipo que lia de tudo. De bula de remédio à bíblia de minha mãe. E não confio em nenhuma das duas: drogas de farmácia não me interessam e bíblia é um livro que chateia pelo excesso de metáforas. Prefiro a verdade das ficções. Sempre que começo uma nova leitura sou movido pela curiosidade que aquele texto me provoca. Não sigo um texto morno. Sou levado pela escrita que ferve já no começo. Abandonei livros de famosos e desconhecidos por falta disso. Quero que o texto me pegue ligeiro, deixe sem fôlego e, principalmente, provoque em mim a pulsação da curiosidade. 

Sou fã de alguns começos arrebatadores que apagam a quantidade de páginas do livro e nos jogam em um mergulho que não acaba nem quando a última página é fechada. Lembro de dois, para não ser cansativo aqui quando o assunto é outro.

Meu preferido é brasileiro. Começa com uma palavra: Nonada, de Guimarães Rosa em Grande Sertão Veredas. Palavra desconhecida que sai da boca do personagem Riobaldo. Desconhecida com uma envolvente profundidade.

E, claro, o não menos incrível J.D. Salinger no livro A Apanhador no Campo de Centeio quando provoca quem o lê ao ironizar os começos de outros livros: Se querem mesmo ouvir o que aconteceu, a primeira coisa que vão querer saber é onde nasci, como passei a porcaria da minha infância, o que os meus pais faziam antes que eu nascesse, e toda essa lenga-lenga tipo David Copperfield. Sem vontade de falar disso, o autor segue seu texto já comigo na sua caça. Fui pego.

Um livro precisa fisgar seu leitor pelos sentimentos que provoca. Se quer saber quando o livro serve a você sinta se o texto te surpreende, te dá raiva ou medo, espanta ou alegra. Quem o lê precisa se envolver emocionalmente com um ou mais personagens e, quando menos espera, solidarizar-se com o drama daquele personagem. Ou, no mínimo, já viveu aquele drama e se sente tão vivo que poderia ser um personagem literário também. Por que não?

Mas antes de seguir esse papo, preciso elucidar que livros assim não são comuns. Muitos desses estão cercados de simbologias e referências externas que fazem com que a história narrada desencadeie a mágica de fisgar leitores com segredos que, em um primeiro instante não são revelados, deixando suspense e curiosidade. Esses vão para o rol dos livros que lerei novamente.

Escrevo assim hoje para contar a vocês que fui fisgado por um verme que surgiu na noite escura e ainda me convidou para um bingo lá na igreja do bairro. Como não ceder a um texto bem escrito? Deixei muita roupa por lavar na semana que passou, mas acabei com o livro...ah, isso eu fiz! E tenho muitas perguntas que ficaram. Uma obra em aberto afinal.

Fica a dica:

O livro recém lançado Não Arranquem os Vermes de Mim do escritor itajaiense Anderson Bernardes publicado pela Editora Oito e Meio.