A visão não é só dada pela natureza biológica do ser e sim pela construção cultural de cada um. A afirmação é para dar conta de um assunto tabu entre os mortais: o amor.
Cantado à exaustão e recontado por muitos, quem sou eu, um simples cronista interiorano a falar de tema tão controverso? Ou quem ousa vincular amor com o encontro na escuridão? Ou melhor, dizendo, quem faz do amor como um tema tabu?
Nada disso. O que procuro é falar de olhares sobre o mundo. Nessa semana assisti (mais uma vez) o documentário Janela da Alma. O título remete à citação atribuída a Leonardo da Vinci de que "os olhos são a janela da alma e o espelho do mundo". E fiquei com vontade de dividir com vocês alguma coisa.
Há coisas que só um olhar apaixonado é capaz de perceber. A pele, o sorriso, o sofrimento e por aí vai. É do olhar que não perdemos o que amamos, ou melhor, é pelo olhar que o mantemos vivos. O contrário também é verdadeiro, pois quanto mais desafeto, menos enxergamos o outro. Veja a vida em sua volta e perceba quanta coisa não vejo simplesmente porque não me apaixono pelo que me cerca.
É também pelo olhar que nos iludimos. Lembro da alegoria da Caverna, escrita por Platão. No texto deixa dito que vivemos em uma sociedade presa na ignorância e completamente iludida a ponto de preocupar-se mais em ver as sombras do que a própria vida. Corremos para ganhar dinheiro, por exemplo, depois o gastamos em remédios para ficarmos vivos.
Como estimular o olhar apaixonado? Como utilizar do amor pela vida sem ser piegas? Como olhar para o mundo sem o cansaço diário? Como ser sensível com as dores do mundo? A arte pode nos fazer ver o mundo. É um caminho possível e, nem sempre tranquilo quando os discursos dominantes demonizam o artista.
O que nossa retina capta é parte pequena do que vemos. Não vemos sem sentir. Ver dói - e muito. Tanto é que o documentário Janela da Alma encerra com um recém-nascido abrindo os olhos e chorando para ver o novo mundo que lhe anunciam. Educar dói, crescer mais ainda.
Apaixone seus olhos.
p.s.: Como artista, escrevo profundamente incomodado com o convite do Sr. Governador aos artistas para que sua arte faça a festa sem ônus para o estado. Parafraseando Nietzsche -que tocou no assunto lá no Século XIX - digo eu que temos a arte para não morrer de realidade.
Fica a dica:
Documentário Janela da Alma ( Direção Walter Carvalho, João Jardim. 20014)
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