Acidente transforma a vida de Gideon e da sua família
Ao ver histórias próximas de pessoas com futuros promissores terem, de repente, sua vida modificada, ou interrompida, muitos começam a rever seus valores e tomar novas atitudes. Mas, só quem vive na pele as dificuldades do dia-a-dia, sabe o quanto custa a saúde, a autonomia para ir e vir, e qualquer possibilidade de melhora.
Há dois anos, Salmo e Roseni Ferreira vivem assim. O casal que mora na Bateias viu o futuro de seu filho mais novo, Gideon Matheus Filho, desmoronar junto com a tranquilidade de suas vidas, após ele ter sofrido um grave acidente.
No final de 2009, o garoto, então com 14 anos, foi passar um dia de diversão com as irmãs no parque aquático Recanto do Arraial, no Belchior Alto. Era um rapaz saudável, trabalhador. Ajudava o pai a administrar o negócio como caminhoneiro e, nas férias da escola, viajava com Salmo pelo Brasil afora. “O sonho dele era ser caminhoneiro como eu. Ele nunca foi um menino de ir para bagunça ou coisas do gênero”, afirma o pai.
Foi Gideon quem convenceu Salmo a comprar um caminhão novo. Quando ele terminasse os estudos e completasse 18 anos, iria tirar a carteira de habilitação para assumir o lugar do pai, que já falava em aposentadoria. Salmo deu o caminhão antigo de entrada e assumiu prestações do novo transporte. Com um filho animado e dedicado, tudo parecia seguir um bom caminho.
Mas, naquele fatídico dia de verão, no final de 2009, todos os planos da família foram bruscamente interrompidos. Ao descer em um tobogã, Gideon bateu com a cabeça em uma passarela, que passava por cima do escorregador. O golpe cortou a tampa do crânio, junto com a massa encefálica do menino. Uma tragédia.
“Ele chegou ao hospital com 1% de chance de sobreviver e praticamente sem sangue. Teve que receber uma transfusão de 6 litros de sangue”, conta a mãe Roseni. As perspectivas médicas não eram nada positivas, afinal o acidente havia sido muito grave, praticamente fatal. Durante os seis meses seguintes, Gideon permaneceu no hospital. Os médicos conseguiram reconstituir parte do crânio afetado e salvar a sua vida.
Ao retornar para casa, a família se deparou com a primeira dificuldade: levar o menino para o segundo andar de uma casa, com apenas uma escada em caracol como acesso. “Ficamos alojados cinco meses na garagem de casa, porque ele não estava em condições de ser levado para cima”, contam os pais. Quando o estado de saúde dele melhorou, levaram Gideon para casa através de um guindaste, instalado nas paredes da casa.
Desde então, o rapaz não fala e perdeu praticamente todos os movimentos do corpo - só mexe o braço e a mão esquerda. Gideon, no entanto, se mostra lúcido, dando sinais de que compreende as conversas e até respondendo a algumas perguntas com sinais feitos com mão.
O pai caminhoneiro, precisa viajar constantemente, para manter a renda da família. E quando ele está fora, Gideon é cuidado 24 horas pela mãe. “Quando minhas filhas estão aqui, elas ajudam”, conta Roseni. De acordo com Salmo, toda a família ficou desnorteada depois do que aconteceu.
Parque não cumpre decisão judicial
Salmo Ferreira afirma que seu filho não recebeu nenhum tipo de assistência do parque no dia do acidente e nos dois anos que se seguiram. Um processo foi aberto no Fórum da Comarca de Gaspar. Em julho de 2010, o juiz determinou que o parque pagasse uma tutela antecipada (enquanto o processo tramita) de cinco salários mínimos por mês, além de reembolsar a família de todas as despesas com o tratamento do jovem. A decisão provisória não foi cumprida, e o juiz definiu, no início deste ano, uma multa diária de R$300,00 pelo não cumprimento da primeira decisão. As testemunhas já foram ouvidas, e o juiz deverá dar a sentença, em primeira instância, nos próximos meses.
A proprietária do Recanto Arraial, Ilca Loss, afirma que, segundo a perícia realizada, os tobogãs são plenamente seguros e não haveria modo de alguém se machucar, mesmo com a passarela. “Infelizmente, ele só se acidentou porque ao invés de descer sentado, conforme orientação do parque, ele quis descer de pé, como quem anda de patinete”, argumenta. Ela se baseia nos relatos de pessoas que testemunharam o acidente.
Provisória
Procurada pela reportagem do Jornal Metas, a advogada do Recanto do Arraial, Nívia Ferreira, respondeu, por e-mail, que seu cliente não cumpriu a determinação da Justiça porque “trata-se de uma decisão provisória, não definitiva, encontrando-se pendente o julgamento do recurso de agravo de instrumento nº 2010.072530-9 interposto pelo parque junto ao Tribunal de Justiça de Santa Catarina”.
A advogada respondeu ainda que “o parque respeita e sempre observou todas as medidas de segurança necessárias, todavia, não tem como se prevenir de atos decorrentes da imprudência dos usuários. Nívea diz que testemunhas já ouvidas confirmaram que os primeiros socorros foram feitos na medida em que o caso permitia.
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