A turma que faz do futebol o principal lazer do fim de semana
A turma que faz do futebol o principal lazer do fim de semana
Tem gente que não troca o futebol de fim de semana por nada deste mundo. É uma paixão que supera o lazer ao lado da esposa, filhos, pais, noivas e namoradas. Em Gaspar, todos os caminhos - e não são poucos - levam essa turma aos campos da várzea. Muitos ficam distantes e enfrenta-se a poeira das estradas para se chegar lá. O gramado é irregular e os vestiários acanhados. De março a dezembro, é nestas praças de futebol que as patotas se reúnem para disputados torneios com premiação em dinheiro, caixas de cerveja, boi e outros animais, além de troféus e medalhas. Os times, na maioria, são patrocinados por empresários ou políticos da cidade. A rivalidade é grande, mas apenas no campo. Após o jogo, o encontro vira uma grande confraternização entre amigos.
Quem não tem mais preparo físico para correr atrás da bola assiste ao jogo estrategicamente próximo ao bar. De lá, fica mais fácil “cornetear” o juiz e o adversário. O pedreiro Valmor de Souza, 56 anos, vizinho aos dois campos do Marcelo Poffo, no bairro Santa Terezinha, não chega a ser um ex-jogador de futebol porque defende o Bom Jesus no campeonato de veteranos. Ele não perde nenhum
jogo da Taça Lance, principal competição de futebol suíço que está sendo disputada em Gaspar. “É um lazer e um prazer assistir aos jogos, a gente se distrai bastante”, afirma. Valmor é mais tranquilo e faz poucos comentários durante o jogo.
Valdemar Kilpp, o Paraná, “pendurou as chuteiras” faz tempo (ex-jogador do extinto Palmeiras do Gasparinho), mas não quis ir para o outro lado do alambrado. Há um ano e meio de volta à cidade, assumiu o comando técnico do América do Gaspar Grande. “Faço isto porque gosto muito de futebol”, afirma. A filha, dona de confecção, é a principal patrocinadora do time. Vencer é importante, mas o objetivo, segundo Valdemar, é manter o grupo de amigos. Ele admite que algumas vezes dá vontade de ficar em casa, mas o futebol é também um compromisso, por isso dificilmente Valdemar não está à beira do campo. A esposa quase nunca o acompanha, mas também não reclama da rotina dos sábados. “Ela tem as coisas dela, eu não gosto de passear em shopping. Além disso, já somos casados há mais de 20 anos, não é agora que ela vai reclamar. Já o domingo, é dia de lazer com a família”, garante Valdemar.
Reinert comanda a grande família do Estamparia Bimo
Durante a semana ele é o empresário Cláudio Reinert, 52 anos, dono da Estamparia Bimo, no bairro Santa Terezinha, onde comanda um time de 12 empregados. No sábado à tarde, veste a camisa vermelha e branca para orientar um outro time, com 16 atletas. Reinert é o presidente e técnico do Estamparia Bimo, time amador tradicional de Gaspar que ele fundou em 1996. O filho mais velho, Cleber, é seu auxiliar técnico, o outro filho, Cleiton, joga no time.
A base do Bimo é a mesma desde a fundação. Reinert, no entanto, admite que buscou reforços para a Taça Lance porque o objetivo é conquistar o título. “No ano passado bateu na trave”, recorda o presidente que ainda lamenta a perda do jogo final para o rival Sango’s Malhas. Já no torneio interno de patotas do Marcelo Poffo, o Bimo reina soberano na “sua casa”. É tricampeão (2005, 2006 e 2008) e vice em 2007.
Anderson Luiz Valgas, o maninho, veste a camisa do Bimo desde a fundação. Ele promete que o time vai lutar para dar de presente o título ao presidente. “O seu Cláudio é um segundo pai pra nós. O que se pede ele dá”, desmancha-se em elogios o camisa 10. E se tem um pai no grupo, é porque tem uma família. “O Bimo é uma grande família. A gente discute em campo, mas depois se acerta no vestiário”, diz o goleiro Jair Amâncio, que também está no time desde a fundação.
Reinert tira do bolso cerca de R$ 100,00 por fim de semana para bancar a confraternização que acontece sempre após os jogos, independente do resultado. “A gente quer vencer, mas o principal objetivo é reunir a patota”, afirma o presidente e técnico. Ele patrocina outras competições na cidade, com troféus, medalhas e bolas. “A gente sempre procura dar uma força para o esporte de Gaspar”. A esposa Rose raramente o acompanha aos jogos, mas a paixão do marido pelo futebol não atrapalha o relacionamento do casal. “Lá em casa, o sábado é para o futebol e o domingo para a família”, garante Reinert.
Marcação cerrada
Se alguém ainda dúvida que futebol é território dos homens é porque nunca foi a um jogo em Gaspar. O público feminino comparece. Filha de Cláudio Reinert, Marielsa Reinert é a torcedora número 1 do Estamparia Bimo. “Aprendi a gostar de futebol desde pequena com o meu pai”, conta a jovem que tem um outro motivo para estar nos jogos: o namorado Cleiton. Ela admite que com ele em campo torce mais, mas dificilmente dá palpite na escalação. “Só quando o time está perdendo peço para o pai colocar o Cleiton em campo”, confessa. A amiga Daniela Eifler também aprendeu a gostar de futebol na infância. Conheceu Adriano, do Bimo, e uniu as duas paixões. Todo o sábado ela acompanha o namorado nos campos de futebol. Mais agitada, Daniela xinga o árbitro quando ele erra. “Conheço bem as regras do futebol”, garante a jovem.
Ao contrário de Daniela, Morgana Schramm não entendia nada de futebol até conhecer, há três anos, Jairo Nicoletti. “Quando começamos a namorar já sabia que ele gostava de futebol. Eu, particularmente, nunca gostei, mas aprendi a conviver com a situação e até passei a gostar. É também um momento de estarmos juntos”, diz Morgana. “A presença dela me motiva”, retribui Jairo.
Edna da Silva, Daiana Barbosa, Raísa Prebianca e Nicole Correa são presenças certas nos jogos do Korea São João de Blumenau, que disputa a Taça Lance. Raísa conheceu o namorado, Jessé, em um torneio. “Ele costuma brincar que no dia do casamento vai sair do futebol direto para a igreja”, diverte-se a jovem. Já Edna tem duas boas razões para estar junto ao alambrado: os filhos Luis Fernando e Luiz Henrique. “Sou fã dos meus garotos, eles jogam muito bem”. Ao lado dela, a futura nora, Nicole, conforma-se com o futebol de fim de semana: “ou você aceita ou não tem namoro”.
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