Alcides Thais vasculhou o passado e descobriu a dona do nome

Alcides Thais vasculhou o passado e descobriu a dona do nome

Em Gaspar, Blumenau e outras cidades próximas, todos já ouviram falar do parque aquático Cascata Carolina. Porém, poucos conhecem a razão deste nome e a história da mulher que o emprestou. Há muitos anos, a rua que os moradores mais jovens do Belchior Alto conhecem pelo nome de João Thais, chamava-se Estrada Carolina. Quando foram escolher um nome para o seu novo empreendimento, os Thais decidiram chamá-lo da mesma forma que a rua que levava a ele.

Mas, somente essa explicação não é suficiente para os curiosos turistas. Preocupado em encontrar a história por trás do nome, o biólogo e professor Alcides Thais, irmão dos proprietários do parque, saiu a pesquisar sobre quem fora Carolina. A busca o levou a Blumenau, onde descobriu que a mulher que procurava era, na verdade, Karoline Kay, esposa do fundador da extinta Companhia Jensen, grande empresa de produtos agropecuários da cidade vizinha.

Karoline veio com seus pais para o Brasil em um navio dinamarquês, em 1864. Sua família tinha como destino a nova colônia que estava se formando, que mais tarde teria o nome de seu fundador, Blumenau. Durante a viagem, Karoline conheceu e apaixonou-se pelo marinheiro Rudolf Jensen. Mas, o namoro foi interrompido quando a família desembarcou nas terras catarinenses. Sem conseguir ficar longe da amada, Rudolf abandonou o navio e subiu o Rio Itajaí-Açu de canoa, numa viagem de 10 dias.

Em 1866, Karoline e Rudolf se casaram e foram morar na região que hoje pertence ao bairro Itoupava Central, em Blumenau, e faz divisa com o Belchior Alto, em Gaspar. O casal dedicou-se à agricultura e à pecuária. Depois de muito trabalho, conseguiram abrir uma venda. "Dizem que ela passava por esses morros de carroça, e ia até Luís Alves e Navegantes, para vender os produtos agrícolas, principalmente cana-de-açúcar", conta Alcides. Ele acredita que a comerciante não ia pelo caminho de Ilhota porque a estrada tinha muitos atoleiros.

Portas fechadas

O trabalho árduo rendeu frutos e a venda dos Jensen transformou-se em uma das maiores empresas de Blumenau. "A Companhia Jensen era uma potência, todos os agricultores da região vendiam seus produtos pra eles", recorda Alcides. Rudolf Jensen faleceu em 1899 e deixou sua empresa para os filhos. Porém, em 1984, a companhia fechou suas portas.

Assim como a empresa que nasceu do esforço de Karoline faliu, a homenagem feita a esta mulher e aos muitos anos de sua vida dedicados ao trabalho foi esquecida. O trecho da Estrada Carolina que ficava em Blumenau, mudou de nome e passou a ser chamada de William Knaesel. Algum tempo depois, o mesmo aconteceu em Gaspar, cujo nome atual é João Thais, uma homenagem ao avô de Alcides.

Para o biólogo, a história aos poucos se perderá, principalmente porque mudaram o nome da rua. "Hoje, o nome Carolina desapareceu", observa Alcides. A única referência continua sendo o parque aquático. O irmão, Peregrino Thais, diz que o parque pretende reivindicar a volta do nome Estrada Carolina para aquela rua, como forma de resgatar a memória de Karoline e reverenciar a tradição das famílias que colonizaram a região do Belchior. "Nosso endereço continua sendo Estrada Carolina", garante Peregrino.

Nome marcado na história

A região da Itoupava Central destacou-se no início do século passado pela produção agrícola e pecuária. Nesse cenário, a Companhia Jensen surgiu como expoente na produção de leite pasteurizado e derivados de carne suína. Produtos como banha e embutidos tornaram o nome da família dinamarquesa conhecido em todo o país. A companhia foi a responsável por lançar pela primeira vez, em Blumenau, o leite embalado em pacote de plástico de 1 litro.

Em 1984, porém, a empresa decretou falência. Anos depois, os terrenos da companhia foram pleiteados pelo empresário João Batista Sérgio Murad, que pretendia construir um futuro parque na região. A negociação não deu certo e o Parque Beto Carreiro foi instalado em Penha.