Equipe do Bela Vista/Ceval era quase imbatível

Equipe do Bela Vista/Ceval era quase  imbatível

De 1985 a 1990, um ousado projeto esportivo em Gaspar, patrocinado pela iniciativa privada, foi um divisor de águas no tênis de quadra do país. A equipe multicampeã do Bela Vista/Ceval. Das quadras do clube, na divisa entre Gaspar e Blumenau, saiu o mais vencedor tenista brasileiro da história, Gustavo Kuerten, o Guga. 
Na época, o desportista Walmor Buss foi à Ceval (atual Bunge), no Poço Grande, levar uma proposta de patrocínio para sua filha, a tenista Tatiana. Na conversa, o diretor da empresa, Vilmar Schürmann, sugeriu que o proposta fosse ampliada para uma equipe.
Walmor refez o projeto e meses depois as quadras do Bela Vista Country Club foram ocupadas pelos melhores tenistas catarinenses e até de outros estados que eram contratados para reforçar o time. Ao projeto se juntou o jovem professor e técnico Larry Passos que ali descobriu Guga, na época com 13 anos, e o acompanharia em toda a sua trajetória vitoriosa no circuito mundial.
Guga veio da Astel de Florianópolis onde havia sido treinado por Carlos Alves e permaneceu no projeto Bela Vista/Ceval por quatro meses. Dividiu apartamento, no Residencial Bela Vista, com o tenista Marcello Rebello, o Cascata. O talento de Guga se revelou  cedo. Na principal competição entre adultos do estado, os Jogos Abertos de Santa Catarina, ele disputou pelo time “B”, representando a cidade de Seara em 1990. O tenista fez o imprevisível e sagrou-se campeão batendo os talentos do time principal  que representavam Gaspar.
A equipe do Bela Vista/Ceval conquistou todos os principais torneios estaduais, tendo sido pentacampeã estadual. Paralelamente, uma escolinha de tênis foi montada e muitos boleiros (apanhadores de bola) viraram tenistas. Depois de encerrada a parceria com a Ceval, o projeto se manteve por mais um ano com o apoio das prefeituras de Chapecó e Seara.
Rafael Reichow, 38 anos, participou da equipe até 1990. “Toda a estrutura de tênis que tem hoje no Bela Vista é graças ao projeto”, afirma. Ele conta que as condições de treinamento eram boas. As despesas com viagens e torneios eram bancadas pelo projeto, e o tenista ainda recebia uma ajuda de custo. Rafael ficou longe do tênis por 10 anos, mas voltou para trabalhar num projeto de educação de base do Tabajara Tênis Clube, o S21. Porém, o seu grande sonho é reeditar uma equipe de competição como a do Bela Vista/Ceval. “Já tenho o projeto nos moldes daquele, agora é conseguir o patrocínio”, finaliza Rafael.

Calendário extenso
O tênis é ainda a principal atividade esportiva do Bela Vista, mas não existe mais uma equipe de competição e a escolinha é restrita às aulas particulares aos filhos dos sócios. Mesmo assim a movimentação nas 12 quadras é intensa. O diretor de tênis, Ricardo Faraco, diz que o clube procura manter a tradição no esporte. “A diretoria dá todo o apoio para se manter a estrutura em funcionamento e atender plenamente aos sócios”, observa. Ele explica que embora o clube não tenha uma equipe de competição, o calendário de torneios é extenso e marca, no mínimo, um torneio por mês. O Bela Vista desenvolve ainda clínicas de tênis ministradas por professores contratados e mantém um projeto social com os boleiros (apanhadores de bolas). Hoje, 14 jovens integram o projeto.

Esporte de lazer
Há 38 anos militando no tênis, sendo 18 passados nas quadras do Bela Vista, o professor Gonzalo Cornejo Salinas, lamenta o fim do tênis de competição na região. Hoje, na opinião dele, o tênis voltou a ser um esporte de lazer. Segundo Salinas, o sucesso nas quadras depende de quatro fatores: talento, dinheiro, raça e a sorte de estar no lugar certo na hora certa. O professor diz que faltam quadras de tênis e locais específicos para desenvolver talentos. Ele critica o fato da Confederação Brasileira de Tênis organizar três ou quatro torneios de alto nível por ano.