A partir da próxima semana, o programa vai envolver os pais

Os bairros Bateias e Barracão inauguraram uma nova fase no Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (Proerd) de Gaspar. O programa, que até este mês era desenvolvido somente para as crianças, passará a envolver também os pais.
As aulas para pais, que já acontecem há dois anos em Santa Catarina, começarão na próxima quarta-feira, dia 24, no município. Bateias e Barracão serão os primeiros bairros contemplados pela iniciativa da PM. Os encontros serão semanais na Escola de Educação Básica Luís Franzoi, das 19h às 21h.

Até agora, a primeira turma do Proerd Pais em Gaspar possui 13 inscritos e tem vagas abertas para todas as pessoas da comunidade interessadas em participar do programa. “Basta ser maior de 18 anos”, explica o soldado Sandro Roberto Bonin, instrutor do programa no município. Segundo ele, a pessoa não precisa necessariamente ser pai. Mesmo tendo como sede a escola Luís Franzoi, as aulas do Proerd irão abranger também as comunidades atendidas pela Escola de Educação Básica Marina Vieira Leal, no Barracão.

Serão cinco semanas de curso, com certificado para os adultos participantes. Os encontros terão como tema as drogas e a violência e servirão para preparar os pais para tratar desses assuntos com os filhos. “Sabemos que os pais são determinantes na informação passada aos filhos sobre o assunto drogas”, afirma Bonin. Os instrutores do Proerd, acrescenta o soldado, procurarão desenvolver com os pais técnicas de comunicação com os filhos e de resolução de conflitos, darão orientação sobre como ajudá-los a lidar com pressões, bem como informações sobre as drogas que existem hoje.
“Nosso objetivo é capacitar os pais para monitorar os filhos e orientá-los a fazer as escolhas certas, ou seja, não optar pelas drogas”, diz o instrutor. Além de Bonin, que trabalha no programa há 8 anos, fazem parte da equipe do Proerd o policial Amarildo da Silva - que há 12 anos integra o programa - e o capitão Adair Alexandre Pimentel.

Em Gaspar, o Proerd é realizado desde 1999 com os alunos das séries iniciais, 5º e 7º anos e durante estes anos já formou mais de 8.500 alunos.

Na escola Luís Franzoi, o programa é desenvolvido com os 5º anos e reúne cerca de 60 crianças. Entre os adultos inscritos, estão alguns pais de alunos e também professores da escola, como Alexandre Antônio Duarte. “Achei muito válida a iniciativa, em função da realidade em que vivemos”, observa. Para ele, o bairro enfrenta uma realidade preocupante com relação às drogas e à violência. “Nós como educadores temos o dever de nos preparar para dialogar com os alunos e pais sobre este assunto”, observa.

Segundo a diretora da escola, Kelli Cristina dos Santos, quem vai participar das aulas são pessoas que já estão pensando sobre a segurança no bairro. “A intenção é, a partir do Proerd Pais, criars um grupo para organizar um Conseg [Conselho de Segurança]”, revela. Para ela, a procura pelo programa foi muito pequena, levando-se em conta que só na escola do Bateias estudam crianças de 230 a 250 famílias da comunidade. “Talvez, depois que iniciar o curso, mais alguém se interesse”, pondera a diretora.

Depois do Bateias e Barracão, o programa seguirá para os bairros Santa Terezinha e Bela Vista, que, segundo o soldado Bonin, são os outros dois bairros que preocupam mais as autoridades policiais em função dos índices de violência e envolvimentos com drogas. “Nossa intenção é até o final do ano que vem atingira totalidade das escolas do município”, prevê o instrutor. No final do ano, acontecerá a tradicional solenidade de entrega dos certificados aos pais que participarem, junto com a formatura dos alunos, mas essa programação ainda não está confirmada.

Quem mora no Bateias e Barracão e ainda quiser participar do programa, pode procurar as secretarias das escolas dos bairros, ou entrar em contato com o soldado Bonin, pelos telefones (47) 3332-2133 ou (47) 9177-5146. Quem preferir, poderá se inscrever pelo e-mail [email protected] Depois desse curso de pouco mais de um mês, não há previsão de quando o programa Proerd Pais voltará para o bairro. “Se, futuramente, tivermos muitos interessados, poderemos retornar às localidades com o curso”, conclui o instrutor.
 

Região vulnerável ao tráfico de drogas e à violência

Segundo o comandante da Polícia Militar de Gaspar, major Moacir Gomes Ribeiro, os bairros Bateias e Barracão ainda não são os que mais preocupam com relação às drogas e violência. Numa avaliação geral, estes bairros podem ser considerados tranquilos, se comparados a outros do município. No entanto,  estão entre os cinco mais vulneráveis à criminalidade.

Os dados da PM dão uma idéia aproximada da realidade de Gaspar. “Nem todas as ocorrências chegam até nós. Em muitos casos, as vítimas vão direto para a delegacia, ou nem sequer registram a ocorrência. Nossos dados são apenas dos casos recebidos pelo 190”, explica o comandante.

Até agora, a Polícia Militar registrou no Barracão cinco furtos a estabelecimentos comerciais e seis assaltos - tanto a pessoas, como a comércios. “Furtos são ocorrências sem violência e assaltos são as ocorrências em que os criminosos estão armados”, diferencia o major. E nas apreensões de drogas, os números são mais altos.

De fevereiro até este mês, a PM apreendeu 368 pedras de crack, que, junto com a maconha, é a droga de maior incidência no município. Foram apreendidos também, nesse mesmo período, 171 papelotes de cocaína e 20 torrões de maconha.
Para o major, a violência e as drogas estão ganhando espaço cada vez maior no município. A começar pelos homicídios que são em maior número este ano - até agora já são 7, contra seis registrados no ano passado. “A droga só tem aumentado no município, porque o tráfico aumentou e também nossa legislação ainda não pune exemplarmente”, reflete Gomes.

Outro agravante, para ele, é que não há grandes centros de tratamento especializados em Gaspar e, infelizmente, a tendência é o problema piorar cada vez mais. “Para combater as drogas precisamos, primeiro, fortalecer a família, depois ter uma legislação menos flexível para esses crimes e, em terceiro lugar, fechar as fronteiras, para que as drogas não tenham como entrar no país”, opina Gomes.

Por isso, o major considera o Proerd uma iniciativa importante para tentar fazer esse alerta às crianças e adolescentes, bem como dar auxílio às famílias e garantir que as crianças não se envolvam com as drogas. “Hoje, a droga é uma questão de saúde pública, não de polícia. Para resolver, precisamos de políticas voltadas para isso, para fazer o consumidor pensar melhor antes de fazer uso”, observa.

O major ressalta também a importância da participação da comunidade junto com a polícia, no combate às drogas. “Muita coisa que acontece não chega até nós. A comunidade precisa se envolver mais, ajudar com denúncias”, diz. Para ele, o Barracão e Bateias necessitam muito de um Conselho de Segurança (Conseg), mas até agora as lideranças da comunidade não manifestaram interesse. “Se eles estiverem dispostos, estamos abertos a trabalhar para estabelecer o conselho”, garante.