Atalíbio Xavier conta suas histórias como tropeiro Brasil afora

São poucas as pessoas que moram no bairro Santa Terezinha e não conhecem ou que já ouviram falar de Atalíbio Xavier, de 75 anos. Morador há 33 anos da última residência da Rua João Vieira, seu Ataliba, como é conhecido na localidade, guarda muitas histórias para contar. Além da simpatia, o morador chama a atenção dos moradores pois está sempre acompanhado de um dos seus cavalos. Quando ele sai de casa ou ele está com a égua Boneca ou com o cavalo Maquito. “Vou com eles para todos os lugares”, diz. Mas para explicar o carinho de seu Ataliba com estes animais precisamos voltar no tempo e relembrar a infância de Atalíbio. Desde criança, o aposentado tropeiro trabalhava em sítios e fazendas no Mato Grosso (MT) e com apenas 10 anos começou a montar e a laçar. De lá para cá, nunca mais abandonou o laço. Mas a ligação de Atalíbio com os cavalos vai muito mais além. O animal foi, por mais de 20 anos, o principal companheiro de seu Ataliba durante suas incansáveis viagens de Lages para Brusque. Na época Atalíbio trabalhava como tropeiro e “puxava” bois da serra até a nossa região. As viagens duravam, em média, de oito a 10 dias. “Teve uma destas viagens que chegou a durar quase um mês. Eram 402 bois que precisavam ser transportados da serra até Brusque”, recorda-se. Ele lembra que na época os tropeiros trocavam o dia pela noite. “Seguíamos viagem pela madrugada e descansávamos durante o dia”, diz. Apesar de ser um trabalho cansativo, Atalíbio diz que gostava muito do que fazia. “O mais difícil era nos primeiros dias de viagem. Depois os bois se alinhavam e era bonito de ver aqueles animais andando por aquelas longas estrada de barro”. Quando morava no MT, Atalíbio chegou a puxar bois do Paraguai. “Não importava se estava chovendo ou se tinha sol. Tínhamos que seguir viagem”, afirma. Hoje, o tropeiro não mais viaja e segue uma vida mais tranquila no seu sítio. Por muitos anos teve criação de vaca de leite, atividade que atualmente mantem só para o consumo da família. No sítio, ainda “moram” três vacas: a Jersinha, a Pintada e a Manchinha. No local, juntamente com a esposa Almerinda, Atílibio cuida ainda de galinhas, cachorros e gatos. A aposentadoria veio há cinco anos, quando seu Ataliba quebrou o pulso ao tentar transportar uma novilha. “Agora dedico o meu tempo para cuidar dos meus animais”, diz. Reflexos do tempo de tropeiro, Atalíbio não consegue levantar depois da 5h. Quando os primeiros raios de sol ensaiam a aparição, Atalíbio já está de pé, cortando o trato que dará aos cavalos. Além da ajuda que recebe da esposa, ele tem outro grande companheiro: o neto Salésio Xavier Júnior, de 11 anos.

A paixão pelo laço

Uma das coisas que Atalíbio não abre mão é de laçar. Por isso, todas as sexta-feiras ele vai até a cancha do Vô Lico para fazer umas das coisas que mais gosta. Às vezes, ele também dedica a noite das quartas-feiras para o laço. O retorno para casa acontece só na madrugada.
A esposa Almerinda diz que não liga. “Eu sei que ele gosta muito de laçar e por isso não me incomodo. O laço é uma das grandes paixões da vida dele e uma das coisas que mais o faz feliz”, diz.
Integrante do Centro de Tradições Gaúchas (CTG) Coração do Vale, o grande laçador já viajou por todo o Brasil competindo e trazendo na bagagem de volta inúmeros troféus. Já laçou três vezes em Vacaria (RS), um dos maiores rodeios do Brasil.
Lá, conseguiu o feito de fazer 18 armadas sem errar. “Apesar do meu desempenho não consegui trazer o troféu. Mas já fiquei feliz pois lá o nível dos laçadores é muito alto”, afirma.
 Este ano, durante a realização do 29º Rodeio Crioulo Interestadual e o 5º Rodeio Empresarial de Gaspar, realizado em maio, Atalíbio foi homenageado por ser o laçador mais velho da competição. “Como não tinha nenhuma categoria para eu participar, ganhei um troféu como homenagem”, diz. Ele lembra, com orgulho, que foi ele quem fincou o primeiro esteio da porteira do CTG Coração do Vale no bairro Santa Terezinha. “Enquanto minha saúde permitir vou continuar laçando”, diz. Atalíbio tem planos até mesmo de voltar a participar de competições em outras cidades além de Gaspar. “Em breve quero voltar a competir nos municípios da região”.
Enquanto isso, Atalíbio mantem sua rotina de laços na cancha do Vô Lico e dos passeios a cavalo pelas ruas do bairro Santa Terezinha. “Não consigo ficar um dia sem andar a cavalo”, revela.
Já o neto Salésio Xavier Júnior, apesar de gostar muito dos cavalos, não pretende seguir a “proeza” do avô. “Não tem importância que ele não se torne um laçador. O que importa é que ele gosta dos animais e me ajuda a cuidar deles”, diz.
Os cavalos são tradados duas vezes ao dia: de manhã e à noite. A alimentação dada aos cavalos consiste em farelo de milho, capim e cana. “Não dá trabalho nenhum. Gosto mutio de fazer isso”.