Ele foi o primeiro colono a cursar faculdade
A vida de João Leonir de Souza e Silva, o popular Lile, dá um livro. Um capítulo seria dedicado a contar sobre o primeiro colono do Barracão a ingressar em uma universidade. Isto foi há 36 anos. Antes, vários capítulos seriam escritos sobre a sua dura vida na roça. O sexto filho de onze de Paulo e Amélia de Souza é muito conhecido no bairro. Ele foi um dos fundadores da Associação de Moradores do Barracão.
Se toda a história de vida começa pelo nascimento, então é bom que se diga que Lile nasceu, há 65 anos, na localidade de Volta Grande, em Brusque, quase divisa com Gaspar. Na época, toda a região era chamada de Barracão. O jovem foi alfabetizado aos sete anos, na Escola Mista Municipal do Barracão. Um ano antes, porém, já acompanhava os pais na roça onde aprendeu a trabalhar na atividade que o acompanharia por boa parte da vida. “A família tinha uma arrozeira que era a nossa sobrevivência. Por isso, todos precisavam trabalhar”, conta Lile. O pai era dono do único engenho de mandioca na Volta Grande. “Meu pai fazia um rodízio para que todos os vizinhos utilizassem o engenho”, lembra Lile. O trabalho era duro. “Raspava-se a mandioca durante o dia, a amassava à noite e a cozinhava pela manhã”, explica o agricultor. Um dia de trabalho rendia, no máximo, quatro sacas. A tarefa de Lile era tocar o boi que movia a moenda.
Quando completou 14 anos, a família se mudou para uma outra propriedade – hoje próxima à entrada do Loteamento Vila Isabel, mas continuou plantando nas terras da Volta Grande. Era para lá que Lile ia todos os dias de bicicleta. Pela manhã, frequentava a escola, à tarde cuidava do gado e à noite retomava os estudos à luz de lamparina. Dedicado chegou a ser o revisor do primeiro jornal produzido na escola. A professora quis levá-lo para continuar os estudos em Brusque, mas o pai foi taxativo: “preciso dele na roça”. Deste dia em diante a paixão pelos livros foi esquecida. Lile passou 14 anos enfiado nas lavouras, tratando gado e ajudando o pai a cortar madeira do mato. Foi um dos únicos filhos a continuar na atividade. “Trabalhei tanto na agricultura que adquiri mais resistência a doenças”, acredita Lile.
Mas, não era este exatamente o futuro que ele planejou para si. Aos 28 anos, despertou novamente o desejo de mudar. “Eu tinha vontade de sair do Barracão e progredir na vida”. O primeiro emprego longe do arado e da enxada foi em um consultório dentário. Nesta época, Lile e um amigo foram estudar em Blumenau. Completaram o ginásio e científico em dois anos e meio. Lile prestou vestibular para Odontologia, mas não foi aprovado. “Voltei para casa do pai frustrado e desempregado”. Sem experiência, a única vaga que conseguiu foi de tratorista onde trabalhou por 15 dias até ser chamado para a área contábil de uma empresa de autopeças em Blumenau.
Em 1973, Lile voltou ao curso onde havia concluído os estudos e se inscreveu no preparatório intensivo para o vestibular. Em dois meses estava novamente pronto para tentar ingressar na universidade. Desta vez, foi aprovado no curso de Economia da recém-criada Universidade Regional de Blumenau. Lile se tornou o primeiro colono do Barracão a ingressar em uma faculdade. Dois anos depois foi contratado pela Sul Fabril. Em 1976, casou com Marli.
Por 20 anos, ele trabalhou na indústria até que a empresa quebrou e Lile perdeu o emprego. Juntou suas economias, construiu uma casa no Barracão, firmou sociedade na área de transportes de carga e voltou às origens: a agricultura. Hoje, Lile planta e trabalha com gado nas terras que herdou do pai. É bem verdade que trabalha bem menos do que na juventude, mas o suficiente para manter a família em uma vida confortável enquanto não chega a aposentadoria.
Na comunidade
Depois que voltou a morar no Barracão, em 1979, Lile se envolveu em ações comunitárias. Por quase 30 anos foi membro da diretoria do CAEP da Paróquia do Barracão. Foi também fundador e presidente da Associação de Moradores por duas vezes, além de ter participado em outras gestões como membro da diretoria. Foi durante sua presidênia que o posto dos Correios foi instalado, e concluída a obra da sede social. Lile sempre trabalhou na comunidade ao lado da esposa. Modesto, diz que a melhor diretoria da Associação foi a de Moacir Barbieri.
Ele acha que o bairro cresceu bastante, mas a participação da comunidade nas atividades sociais é pequena. Por isso, as melhorias acontecem lentamente. Lile realizou o sonho de estudar, adquirir conhecimento e superar o que ele chama de “complexo de colono”.
Deixe seu comentário