Jurandir rodou o país da bola; hoje vive em Gaspar
Jurandir rodou o país da bola; hoje vive em Gaspar
Calçando chuteiras, Jurandir Duarte ganhou o sustento por mais de 20 anos. Rodou por vários clubes brasileiros e de países da América do Sul. Acumulou dinheiro, fama e amigos (muitos bastante conhecidos como Fio Maravilha, Andradas, ex-goleiro do Vasco que levou o milésimo gol de Pelé, Carlos Alberto Pintinho, Zico, Abel Braga, Carlos Germano entre outras feras). Teve também decepções nos gramados e fora deles, mas que ficaram para trás.
O ex-zagueiro negro de 1m79cm e de boa impulsão e imposição física não ficou rico, admite, porque assim como se ganha também se gasta muito rápido dinheiro no mundo da bola, mas aos 57 anos, casado pela segunda vez, Jurandir vive confortavelmente em uma casa no bairro Gaspar Mirim. Depois de largar a bola virou massagista, auxiliar e técnico de futebol, passando por mais meia dúzia de clubes do país e do exterior até desembarcar em Gaspar em 2001. Veio à convite dos dirigentes do Clube Atlético Tupi onde trabalhou pouco tempo. Conheceu a atual esposa, abriu uma escolinha de futebol e criou raízes entre uma saída e outra para treinar times do Rio Grande do Sul e do Paraná.
Há um ano e meio foi convidado pelo professor Carlos Mendonça Rosseti para trabalhar no projeto social da escolinha de futebol Moleques da Bola, com sede na Sociedade Sete de Setembro. O trabalho é mais um desafio na vida do ex-boleiro nascido em Rio Grande (RS) e que começou aos dez anos nas categorias de base do time que leva o nome da cidade e o título de “vovô”, por ser o mais antigo do Brasil.
Com 13 anos, Jurandir estava em Florianópolis para estudar na Escola da Marinha, mas ficou apenas um ano, o suficiente para ser promovido não de posto, mas de time. Começou nos agregados, mas depois do primeiro chute na bola o comandante da escola o promoveu para o time dos aprendizes. Da Marinha saiu direto para as categorias de base do Fluminense (RJ) onde bateu de frente com o jovem zagueiro Edinho, que mais tarde vestiria a camisa da Seleção Brasileira na Copa de 1982, na disputa pela posição. Jurandir morava no alojamento do clube, treinava pela manhã e estudava à noite.
Em 1971 estava de volta ao Rio Grande. Atuou ainda pelo Cruzeiro de Porto Alegre. De lá saiu para o Xanxerê (SC), Guarani de Foz do Iguaçu (PR), São Cristóvão (RJ), Vitória (ES), Vitória (BA), Oriente Petroleiro da Bolívia e argentino Colon de Santa Fé onde encerrou a carreira no início da década de 1980.
Voluntário
Jurandir é um voluntário na escolinha de futebol Moleques da Bola, que treina na Sociedade Sete de Setembro. É a sua segunda experiência na atividade. Em 2004, o ex-zagueiro chegou a ter 89 alunos na escolinha da Sociedade Cruzeiro. Ele ensina muito mais do que chutar e cabecear uma bola. Ensina noções de cidadania e espírito de equipe. Jurandir traz na bagagem a experiência de quem viu muito boleiro se perder no álcool e nas drogas. “Hoje tem muito mais drogas nas ruas do que na minha época”, observa o técnico.
Ele se diz uma pessoa de espiritualidade elevada, com muita vontade de ajudar outras pessoas. Seu maior orgulho é reencontrar ex-alunos cursando faculdades e com bons empregos. “A maioria destes gruis não deu certo para o futebol, mas é cidadão de fato”. Na escolinha em que dá aulas em parceria com o professor Rosseti, a filosofia é a mesma. “O objetivo é integrar o jovem à sociedade, e se possível tirar aqueles que já estão no caminho das drogas, trazendo-os novamente para o convívio social”, afirma o ex-zagueiro.
Para participar do grupo, o jovem não paga nada, basta apresentar atestado médico e frequência na escola. A situação das instalações do Sete, que há três mês estavam com água e luz cortados foi normalizada e Jurandir e Rosseti, podem tranquilamente treinar seu time de cidadãos.
“O objetivo é integrar o jovem à sociedade e se possível tirar aqueles que já estão no caminho das drogas, trazendo-os novamente para o convívio social”. Jurandir Duarte
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