Serraria Neném só comercializa madeira legalizada

Serraria Neném só comercializa madeira legalizada

Valdomiro dos Santos entrou no comércio de madeiras numa época em que bastava entrar na floresta, derrubar a árvore e vender o produto livremente. A lenha era a principal matriz energética do país. Desde a entrada em vigor da Política Nacional do Meio Ambiente, no início dos anos 1980, cortar uma árvore virou caso de polícia, pelo menos na teoria. Sabe-se que em determinadas regiões do país, o corte ilegal persiste por falta de fiscalização e não de legislação. O Código Florestal Brasileiro é um dos mais modernos do mundo. 
O filho de Valdomiro, José Valdomiro dos Santos, o popular Neném, com apenas 11 anos de idade, gostava de observar o trabalho do pai e até fugia da escola para vê-lo cortar árvores na mata. Neném, hoje com 48 anos, tem o seu próprio comércio de madeira, na entrada do bairro Arraial. A Serraria Neném é a mais antiga da região. Com a experiência de mais de 30 anos no mercado, ele conhece a qualidade da madeira pelo cheiro, pela cor e pelo tamanho da folha.
Como os tempos são outros, Neném somente vende madeira retirada de áreas reflorestadas, basicamente o eucalipto e o pinus. A derrubada somente ocorre após autorização dos órgãos ambientais. O rigor da lei é tanto que até as árvores que desceram dos morros junto com as avalanches de terra em novembro do ano passado somente podem ser recolhidas pelas madeireiras com o aval dos órgãos ambientais.
Mesmo assim, Neném não se queixa do negócio e até é a favor de leis rígidas para se manter o equilíbrio do meio ambiente. “Se não fosse a legislação já estava tudo desmatado por aqui. A lei veio tarde, antes dela muita gente derrubou enormes áreas de floresta nativa para abrir pasto para o gado”, aponta o comerciante.
Segundo ele, o mercado de madeira está aquecido e tem espaço para crescer ainda mais. Tanto é verdade que só no Arraial existem outras quatro serrarias, mas Neném não se está preocupado porque trabalha por pedido, isto é, o cliente, vem até a empresa e solicita o produto na medida certa. “Se o cliente quer construir uma casa, a gente fornece a madeira do piso ao telhado”, garante.
Matéria-prima também não é problema. Há dez anos era mais difícil e caro comprá-la. Hoje, os morros estão repletos de áreas reflorestadas. “O reflorestador vem oferecer o produto na porta da serraria”, afirma Neném. Para ele, a queda acentuada do dólar aumentou a oferta interna. Em média, a serraria corta de 20 a 25 metros cúbicos de madeira por dia. Curiosamente, ele afirma que se pudesse escolheria um outro ramo. “O investimento é alto”, justifica. O filho Ricardo, estudante de Engenharia Florestal, e a esposa Angelina ajudam a administrar a serraria.

Você sabia?
Em 1903 foram plantadas no Brasil as primeiras mudas de eucalipto, árvore originária da Austrália. O pioneirismo coube a Navarro de Andrade, técnico da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Seu objetivo era encontrar uma solução para a produção de dormentes de madeira. Já as primeiras mudas de pinus foram trazidas dos Estados Unidos em 1947.