Gerações da família Dorow usaram o casarão enxaimel como moradia
Gerações da família Dorow usaram o casarão enxaimel como moradia
Entre as residências do Gaspar Alto, próxima ao posto de saúde, esconde-se uma antiga casa. Em estilo enxaimel, a construção foi erguida por um dos primeiros moradores do bairro, Karl Dorow. O casarão foi morada de várias gerações e tem, seguramente, mais de 80 anos, tempo suficiente para se tornar um dos símbolos históricos daquela região.
Karl teve oito filhos, sendo que três faleceram ainda crianças. Os demais foram criados na localidade que ainda pertencia a Blumenau. Entre eles, Adolfo Dorow, que acabou herdando a casa e ali formando sua família. Os outros irmãos permaneceram no bairro ou se mudaram para a cidade vizinha, com exceção de um que tem uma história curiosa.
"Aos 21 anos, um dos meus tios saiu de casa para trabalhar em um navio e acabou desaparecendo", conta Luzia Dorow, filha de Adolfo e uma das herdeiras do casarão. Depois de mais de 50 anos, o irmão desaparecido reencontrou a família. "Ele contou que estava morando em Santos, em São Paulo. Como naquela época a comunicação era difícil, ficou todo esse tempo sem dar notícias". Visita feita, o tio voltou para a cidade onde vivia e a família de Adolfo seguiu a vida no pacato Gaspar Alto.
O próprio Adolfo passou alguns anos fora de Gaspar. Quando jovem, foi chamado a servir ao exército brasileiro na Europa, participando da II Guerra Mundial. "Meu pai estava noivo de minha mãe naquela época", conta Luzia. Depois de três anos, Adolfo retornou como o único veterano de guerra do bairro. Casou-se com a noiva que havia deixado no Brasil.
Assim como Adolfo, Luzia passou praticamente uma vida no velho casarão. Não teve filhos, por isso dedicou-se ao marido e a cuidar dos pais. Segundo ela, a casa continua em ótimas condições de moradia, apesar de ser a mesma desde que o avô a construiu.
Além do estilo típico da época, a casa guarda outras características das antigas residências. Os cômodos são amplos, o teto é alto e o banheiro fica fora da casa. Até mesmo alguns móveis que pertenceram a avó de Luzia, dona Bertha, continuam decorando as peças da casa.
Nos fundos do terreno, guardado em um rancho, está um forno a lenha que a mãe de Luzia usava para fazer pão. Em outro rancho, fica uma carroça que foi muito usada por Adolfo. A água continua vindo de um poço no mesmo terreno. "Antigamente a gente tirava a água com balde. Depois meu irmão colocou um motor que bombeia a água para a casa toda", conta Luzia.
Com a morte de sua mãe, há cinco anos, ela mudou-se para uma nova casa, e cedeu o casarão para o irmão. Passaram-se dois anos e o irmão foi encontrado morto na residência. Desde então, ninguém mais morou lá. "Ainda não sabemos o que vamos fazer com a casa", admite Luzia.
Nome da família está por todo o lugar
Ao redor do antigo casarão da família Dorow moram muitos descendentes de Karl, pois as terras se estendem por uma enorme área. Luzia conta que, do outro lado da rua principal, seu avô construiu a primeira casa. "Depois que fizeram essa estrada ele mudou-se para a casa que existe hoje", explica. A influência da família na história do bairro é tal, que o nome Dorow denomina algumas estradas da redondeza.
Outra demonstração da participação dos Dorow na história do Gaspar Alto está na religiosidade. A igreja luterana do Gaspar Alto existe há 57 anos. Antes disso, segundo Luzia, os luteranos não tinham local próprio para reunirem-se em oração. Então, os cultos eram realizados na casa de Adolfo Dorow. A própria Luzia foi batizada em casa.
Também as festas da escola aconteciam nas dependências da família. "Antes, a escola ficava onde hoje é o posto de saúde. Aquele terreno foi doado pelo meu pai, por isso o posto tem o nome dele", revela Luzia com orgulho de pertencer à família.
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