Além dos prejuízos, agricultores terão de renegociar as dívidas contraídas antes do plantio

Além dos prejuízos, agricultores terão de renegociar as dívidas contraídas antes do plantio

O cenário pós-enchente na região do Arraial demonstra a dimensão dos estragos. Onde antes havia muitas plantações de arroz, que em determinado período se transformavam em grandes tapetes verdes ladeando a estrada, hoje existe um enorme campo de lama. Todo o trabalho, os investimentos feitos naqueles terrenos foram perdidos. Em alguns casos, os terrenos eram a única fonte de renda das famílias, que agora não tem por onde recomeçar.

Pedro Sabel, 73 anos, é um desses moradores. Dos seus sete hectares de terra, perdeu cerca de cinco, e o que sobrou, dificilmente poderá ser aproveitado. "O prejuízo foi total", avalia o agricultor, que ainda não sabe que medidas vai tomar. Seu irmão, Daniel Sabel, que mora nas terras vizinhas, também perdeu toda a plantação de arroz. Pedro pretende pegar um empréstimo no banco, para tentar recuperar as terras, mas não sabe se vai conseguir plantar novamente este ano.

Além de não faturar com a safra, muitos agricultores terão de renegociar as dívidas que contraíram antes da tragédia. "Quem investiu, perdeu o investimento. E agora vai ter que arranjar dinheiro para refazer a arrozeira", diz José João Werner. Ele calcula uma perda de 80% dos seus 10 hectares produtivos e afirma que os vizinhos próximos também tiveram prejuízo semelhante. No ano anterior, a colheita nas suas terras rendeu cerca de 2000 sacas. Dessa vez não sobrou nada.

"Vamos ter que dar um jeito de plantar de novo ainda esse ano", consola-se o filho de José, Adolar Werner (foto). Para isso, será preciso refazer os terrenos. Segundo os agricultores, para tirar todo o lodo acumulado nas plantações será preciso um trator pantaneiro. "O problema é que, além de não colher, vamos ter que gastar para arrumar tudo. Se pelo menos a prefeitura desse as máquinas, já facilitaria muito", diz José.

Pedro diz que pretende resgatar um seguro que tinha para as plantações. Também espera que sejam oferecidos empréstimos em condições favoráveis, para os agricultores que perderam tudo com as chuvas. Mas, enquanto as máquinas não vêm, e não se tem dinheiro para recomeçar, Pedro procura amenizar os problemas causados por tanta terra enxarcada e infértil. Com os pés sujos de lama, ele limpa a estrada, para facilitar o acesso a sua casa. Com a chuva do último final de semana, ficou difícil transitar.

Levantamento mostra os prejuízos nas lavouras de arroz no município

Levantamento realizado por um grupo especial formado por representantes do Banco do Brasil, Epagri, produtores rurais, Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Gaspar, Associação Gasparense de Produtores de Arroz e Secretaria Municipal de Agricultura, serviu de base para uma tabela com os danos nas lavouras de arroz em Gaspar. O engenheiro agrônomo da Epagri, Josi Prestes, explica que o levantamento aponta que 50% das lavouras de arroz do município foram perdidas.

Devido o grande número de propriedades atingidas, o levantamento foi feito de maneira generalizada e para cada localidade do município foi determinado um índice de perda. No caso do Arraial, por exemplo, as perdas foram, em média, de 100%. Esta tabela servirá para o pagamento do seguro agrícola ? Proagro ? aos agricultores que fizeram o custeio de suas lavouras por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar ? Pronaf. Os proprietários que não concordarem com a tabela poderão solicitar uma avaliação individualizada de suas lavouras.

Para acessar o Proagro os agricultores devem se dirigir ao Banco do Brasil até final de janeiro para fazer o registro das perdas. Porém, em muitos casos o Proagro não será suficiente para cobrir os prejuízos na agricultura. Por esse motivo o Ministério da Agricultura abriu a "linha especial de crédito de investimento para a reconstrução e revitalização", destinada aos agricultores inscritos no Pronaf. O empréstimo é de até R$ 100 mil com taxa de juros de 2% ao ano, pagável em dez anos.

Lodo e areia

Prestes explica que em várias localidades as arrozeiras foram soterradas por lodo, areia e pedras. "Estas áreas deverão ser reconstruídas novamente; também terão de passar por uma correção de solo, pois muitas lavouras foram lavadas pela enxurrada", explica o agrônomo. Em outros casos, as lavouras ficaram submersas no período reprodutivo do arroz, fato que provoca perdas significativas na produtividade e na qualidade do produto final.

Prefeitura trabalha para solucionar problemas antes da colheita

Segundo o secretário municipal de Agricultura Élcio de Oliveira, a prioridade agora é resolver os problemas causados pelas fortes chuvas que castigaram o Vale em novembro do ano passado. Todos os esforços vão se concentrar no desassoreamento das valas e ribeirões. "Queremos resolver os problemas mais urgentes para viabilizar a colheita das lavouras que não foram perdidas", enfatiza o secretário. Segundo ele, levantamentos preliminares apontam, tecnicamente, 100% de perdas na região do Arraial.

Oliveira diz que a Secretaria da Agricultura está pouco aparelhada e que por isso muitas ações acabam sendo prejudicadas. Há muita dificuldade em conseguir máquinas para trabalhar devido à grande demanda em toda a região. Outra limitação é que a Secretaria precisa trabalhar com os recursos previstos na dotação orçamentária de 2008. "Por isso vamos buscar verbas em todas as esferas do governo", explica. Ele disse também que a falta de definição para a aplicação e liberação dos recursos do Governo do Estado atrapalha o andamento dos trabalhos.

O secretário garante que toda a equipe está mobilizada para sanar os estragos causados pelas águas. Em reuniões mensais, serão avaliadas as evoluções no cumprimento das metas. Oliveira adianta que entre suas prioridades está a aquisição de uma retro-escavadeira e a construção de uma sede para a Secretaria. "Hoje somos 10 pessoas em uma sala de 30 metros quadrados", lamenta o secretário.