Daqui a um mês, Dona Margarida completa 100 anos

Em 24 de outubro, uma moradora do bairro Sete de Setembro completará um século de vida. Um privilégio de poucos. Dona Margarida Aninha Sansão, filha de um dos primeiros vereadores de Gaspar - Rodolfo Vieira Pamplona chegará aos cem anos plenamente lúcida, com saúde e as lembranças da juventude ainda bem vivas na mente. Nascida no Gaspar Mirim, ela viveu lá por muitos anos. Teve 18 irmãos e trabalhou sempre na roça, lidando com as plantações e os animais. Aos seis anos, sofreu um acidente com um canivete e perdeu a visão de um olho. “Meu pai me levou durante um ano de carroça a Blumenau, todos os dias, para fazer o tratamento”, conta. Mas isso não diminuiu a força dessa mulher em seguir em frente.
Aos 21 anos, se casou com Antonio Anselmo Sansão e foi morar em uma propriedade próxima a de seu pai, também no Gaspar Mirim. A vida naquela época, segundo dona Margarida, não era nada fácil. Não existiam as comodidades de hoje. Luz somente de vela ou lampião, pois a energia elétrica só chegaria naquela região muitos anos depois. Se não havia energia elétrica, imagine então telefone para se comunicar ou mesmo um automóvel para o transporte. Essas facilidades eram artigo de luxo, quase coisas de outro mundo para quem vivia no interior da freguesia. Também não havia comércio no bairro, apenas algumas casas rurais espaçadas umas das outras.
Para obter produtos diferentes, ser atendido por um médico ou mesmo ir à missa, os moradores caminhavam até o centro. “Nos domingos meu marido encilhava os cavalos na carroça e nos levava à Igreja Matriz para assistir à missa. Levávamos mais ou menos meia hora para chegar”, lembra a senhorinha.
Atendimento médico e hospitalar só em Blumenau. Para os casos mais urgentes, as pessoas buscavam atendimento com um farmacêutico muito conhecido na cidade, seu Anfilóquio Nunes Pires. Ou então, com o médico da cidade, doutor Abelardo. “Nunca fui a hospital para ter filho, tive todos em casa, com a ajuda de uma vizinha que era parteira”, diz dona Margarida, que gerou onze crianças.
Enquanto ela tratava do gado e da roça, o marido cuidava da plantação de arroz. As crianças ficavam em casa, sob os cuidados da filha mais velha. “Tivemos uma vida pobre. Mas, graças a Deus havia fartura em nossas terras”, recorda a simpática senhora, enquanto seu olhar abre as portas do passado. Além da dureza da labuta diária, dona Margarida teve de enfrentar o sofrimento de perder dois filhos pequenos - um ainda bebê e o outro com sete anos.
Os que cresceram, casaram e foram construir suas famílias pela cidade. Dona Margarida e o marido ficaram sozinhos na propriedade que mantiveram a vida toda com muito esforço. Um dia decidiram sair de lá, buscar o conforto e o carinho mais perto da família. O casal mudou-se para o bairro Sete, há mais de 30 anos. Ela completou bodas de ouro e ainda mais alguns aniversários de casamento, até que o marido faleceu.
Há algum tempo, Margarida mora sozinha nos fundos da casa de uma de suas filhas, Maria Maes. Ela faz todo o serviço da casa, cozinha e cuida de suas coisas por conta própria. Não sai muito de casa, só para visitar os filhos e irmãos. A família agora é bem grande. Dona Margarida é avô de 40 netos, 50 bisnetos e já tem também seis tataranetos.
Para o aniversário de cem anos estava programada uma grande festa. Porém, neste ano, dona Margarida sofreu a perda de mais dois filhos, uma delas ainda muito recente. “Então eu disse para eles cancelarem tudo, porque não tenho ânimo de fazer festa agora”, diz, emocionada.
Ainda assim, a data não passará em branco por completo. Haverá um bolinho em sua casa para os amigos que quiserem parabenizá-la pelos cem anos. E para os jovens que estão começando a vida, ela dá uma dica: o trabalho é a maior fonte de longevidade, pois foi isso que a manteve lúcida e bem de saúde durante todos esses anos.

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