O perigo do acostumar-se

Já não consigo mais saber se estamos no início, no meio ou no fim. Um ouvido mais atento e perspicaz detecta uma estranheza no ar: já nos acostumamos com as notícias - que perigo! -, tanto que para alguns o curso da vida voltou ao seu leito normal e tudo não passa de manchete: "Hospitais estão superlotados"; "Aumenta o número de mortos"; "Governo anuncia pacote emergencial"; "Colapso na saúde atinge o Estado do Rio de Janeiro"; "Bolsa de Valores despenca e preço do dólar bate novo recorde"; "Prazos de dívidas são prorrogados"; "Evento foi cancelado e nova data ainda não foi anunciada"; "Troca de Ministério abala credibilidade do Governo", "Estados Unidos e China trocam desafetos", assim segue... Diga-me, baixinho, pé do ouvido, se as notícias não são as mesmas de antes? Leia de novo e veja - ou será que me engano? 

Quando, ao lado de outros, eu tinha minhas desconfianças de que finalmente algumas coisas iriam mudar, que desconfiança infantil a nossa. Óbvio que um vírus não muda a essência! Ele ajuda a revelar outras invisibilidades - boas e ruins - mas ele não transforma água em vinho. A psicologia profunda já está cansada de dizer que as mudanças acontecem de dentro para fora - estou falando da psicologia profunda do Evangelho. Não é o que entra de fora no ser humano que o torna impuro, mas o que sai de seu interior (Marcos 7, 15). Somos condicionados pelo meio em que vivemos, isso sim, e somos resultado de várias somas e subtrações. Mas a certa altura da vida, é importante que cada um permita o que e como o exterior influenciará o interior.

A partir disso fica estabelecido a necessidade do elo espiritual, tão essencial à vida humana, à sua busca de sentido, aos sucessivos desdobramentos aos quais nos expomos. Os desesperados correram para Deus, afoitos. Os desde antes tementes, uniram o sofrimento à cruz. Simples, mas profundo. Decisivo, eu diria. Drummond tem uma obra intitulada Amar se aprende amando - no interior do livro, uma poesia de igual título. E aprender, se aprende como? - pediríamos a ele. É errando que se aprende - talvez citaria, de escorregão, o dito popular. Mas não só. De que outras formar se aprende a aprender? Deixo a pergunta, feito bola quicando na área, e vou em busca da resposta. Ou deveria ficar para arriscar o chute, buscar o gol?

É engano, sim, achar que a pandemia irá modificar o ser humano. Ela irá alterar a ordem de muitas geografias - econômica, social, política, religiosa, familiar... Sua passagem é tsunâmica, císmica, meteórica e qualquer outro adjetivo afim. Quanto a esse movimento todo ocorrer tão repentinamente também no interior humano, parece-me que não é bem assim. O tempo da alma é lento - é Rubem Alves. O caminho percorrido pelo filho pródigo é feito de muitos passos e nós vagamos neste mundo à sua sombra. É só uma questão de tempo para acontecer alguma coisa que nos faça cair em si, como aconteceu ao mais novo da parábola - ou aos outros dois a caminho de Emaús. Se será este vírus, cada um terá que descobrir.

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