Justiça seja feita
26/05/2017 16:31

Na Roma Antiga a justiça era representada por uma estátua com olhos vendados, que segurava uma balança em perfeito equilíbrio, simbolizando a máxima dos "direitos iguais para todos". A justiça é também uma das quatro virtudes cardeais, junto com fortaleza, prudência e temperança. No caso das virtudes, a justiça é definida como uma constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido. Não há um conceito único que contemple a abrangência do que é justiça. Mas o que temos visto na nossa sociedade contemporânea é que há muito a evoluir até chegarmos à tão propalada igualdade entre os cidadãos.
Justiça passa por imparcialidade, algo extremamente difícil de realizar, já que todos nós carregamos nossos valores, percepções e, inevitavelmente, julgamentos. Nos dias de hoje, com as comunicações virtuais, estamos mais do que nunca julgando e sendo julgados, sem dar ou receber o direito de defesa. Acusações são feitas sem parcimônia e sem medição de consequências, muitas vezes destruindo em minutos reputações construídas em muitos anos. Primeiro se acusa, depois... Depois muitas vezes já é tarde para reparar o erro.
No Brasil temos um caso emblemático de injustiça que, embora tardiamente, acabou sendo reconhecido. Há mais de 20 anos, em 1994, os donos da Escola de Educação Infantil Base, na zona sul de São Paulo, foram acusados de pedófilos. Inocentes, mas sem qualquer chance de defesa, foram julgados e condenados pela opinião pública e grande parte dos veículos de imprensa. A verdade acabou vindo à tona no ano de 2012 e a maior emissora de televisão do país foi condenada a pagar R$ 1,35 milhão para reparar os danos morais. Mas o mal causado àquelas pessoas é algo impossível de reparar.
Certamente cada um de nós conhece ou ouviu falar de uma história parecida de injustiça, em maior ou menor grau. De pessoas inocentes presas, de pessoas difamadas na internet, de uma fofoca que acabou com um casamento, de alguém acusado de um erro que não cometeu.
Essas histórias nos revoltam quando acontecem com outros. E nos arrasam quando acontecem conosco. Zigmunt Bauman, pensador polonês cuja obra admiro muito, sabiamente escreveu que as pessoas precisam de culpados. De alguém para direcionar suas raivas e frustrações com as tantas injustiças do mundo. O grave é que muitas vezes, não há como se defender de injustiças. Em outras, simplesmente não vale a pena, pois o julgamento já foi feito.
O perigo maior de tudo isso é que, por mais que a sociedade tenha evoluído em termos jurídicos, é cada vez mais rápido e fácil acusar e nem sempre a defesa tem o mesmo espaço e a mesma velocidade. Nossa sociedade ainda está distante da igualdade de condições na promoção da justiça, em que pese o arsenal de legislações disponíveis. Seja pela morosidade do judiciário, seja pela inconsequência, seja pela impunidade. Ou ainda pela inversão de valores, em que se confundem os papéis de mediadores e réus, estamos assistindo um momento perigoso. Precisamos estar atentos para que a justiça seja feita, nas grandes e nas pequenas causas.