E se fosse comigo?
19/05/2017 16:56

Você consegue se colocar no lugar do outro? Pesquisa realizada pela Michigan State, uma das mais conceituadas universidades dos Estados Unidos (EUA), mostra que quando o assunto é empatia, nós brasileiros ainda temos muito a aprender. Mesmo sendo mundialmente conhecido pelo povo alegre, caloroso e hospitaleiro, o Brasil está em 51º lugar entre os países mais empáticos do mundo - o levantamento envolveu 104 mil participantes de 63 países. O ranking é liderado pelo Equador, seguido de Arábia Saudita, Peru, Dinamarca e Emirados Árabes Unidos.
Empatia é uma via de mão dupla, ganham os dois lados. Quando não nos colocamos no lugar do outro, não avaliamos porque ele pensa ou age de determinada maneira, o que sobra é a intolerância, o preconceito, a violência, a discussão acalorada no Facebook e no Twitter e até mesmo o fim abrupto de longos relacionamentos. Estamos atravessando dias difíceis e não raro nos deparamos com situações onde falta respeito à opinião alheia. Quase não se dá espaço para o diálogo, o argumento e o contraponto.
Por que meu modo de pensar é mais certo que o seu? O que eu sei da sua vida para julgar o que você faz ou diz? É preciso lembrar que cada um de nós, não importa a profissão ou condição social, tem uma experiência única, uma história. Existe uma grande e valiosa lição que a prática da empatia pode nos ensinar: não há verdade absoluta e sempre haverá ao menos dois lados de uma mesma situação.
Especialistas em inteligência emocional observam que a empatia é um antídoto poderoso para esses tempos de tanto individualismo. De acordo com as pesquisas, a empatia é uma característica que pode ser aprendida, ou pelo menos treinada. Para o filósofo e historiador Roman Krznaric, autor do livro "O Poder da Empatia - A arte de se colocar no lugar do outro para transformar o mundo", desenvolver tal habilidade é quase como descobrir a "pílula da paz".
Fazer este exercício de perguntar "e se fosse comigo?" antes de emitir julgamentos deveria ser algo ensinado na escola. Para se tornar um hábito, o exercício da empatia precisa ser diário, permanente. Desde a forma como atendo a um telefonema de alguém querendo me vender algo que não desejo até no embate com meu adversário político - para usar dois exemplos extremos. Independente da situação, precisamos lembrar do respeito ao próximo e evocar a velha máxima do "trate os outros como gostaria de ser tratado".
A empatia deveria ser também requisito dos gestores públicos ao tomar decisões. Quando um governo determina como e onde serão investidos os recursos arrecadados com os impostos, tem de levar em consideração as prioridades dos cidadãos que dependem destes serviços públicos. É necessário estar atento à mãe que busca a vaga na escola para seu filho, ao enfermo que procura pelos remédios no postinho e ao cidadão que conta com o direito de circular seguro pelas ruas. Uma gestão ruim é um exemplo de falta de empatia - ainda que governar não signifique ceder a todas as pressões. Governar, como disse em outras oportunidades, é fazer escolhas. E quando se governa com empatia, efetivamente se transforma vidas e se contribui para uma sociedade melhor.