Atitude de time
09/12/2016 17:00

O consolo para aquilo que não podemos aceitar nem mudar é o aprendizado que o fato nos deixa. E o caso da tragédia com a Chapecoense pode nos ensinar importantes lições. A trajetória do time renderia um belo livro sobre superação. Fez-me inclusive traçar alguns paralelos com o filme Invictus, que conta a história de uma nação unida por meio do rugbi. Após 27 anos preso, Nelson Mandela foi libertado para comandar país que o aprisionou e que estava violentamente dividido entre sul africanos negros e brancos após o término do Apartheid. Foi no esporte que Mandela encontrou a chave para combater as diferenças.
A união foi também o que moveu a fundação da Chapecoense, na década de 70. Com torcidas fragmentadas e a falta de um time expressivo que agregasse a região, a Associação Chapecoense de Futebol resultou da fusão de dois antigos clubes, o Atlético Chapecó e Independente. A ideia foi abraçada pela comunidade e por empresários dispostos a ajudar. E foi esse espírito de equipe, de agregação, que moveu o time desde o seu início.
Diferenças à parte, as duas histórias mostram o potencial do esporte para agregar pessoas, por mais diferentes que sejam suas crenças e condições sociais. Um time vencedor precisa de muito mais que qualidade técnica. Precisa da soma de talentos individuais, da doação de cada um para o melhor resultado do grupo. E não só dentro de campo.
A Chapecoense passou por muitos altos e baixos, enfrentou problemas graves de gestão e financeiros, especialmente entre 2001 e 2006. Ainda assim, seguiu galgando títulos: da última divisão, a D, para a C em 2009, para a B em 2012 até a chegada à elite do futebol nacional em 2013. Foi nessa época _ quando ainda não contava nem mesmo com campo de treino - que o time recebeu o atacante Bruno Rangel, que acabou por ser o maior artilheiro da história da Chapecoense, com nada menos que 77 gols.
Em toda a sua trajetória até aqui, a Chape contou com a participação da comunidade e dos muitos "fanáticos" que ainda contribuem do próprio bolso para manter a sua paixão. Nos últimos anos, agregou sobremaneira os jovens da região. E agora, nos primeiros dias após a tragédia, ganhou cerca de 15 mil novos sócios, de fora da cidade.
O que move essa paixão é o carisma da Chapecoense. A atitude deste time e sua história de superação, que se mistura com a característica lutadora do povo do Oeste, é o que provoca a identificação das pessoas que sabem que é preciso lutar por muito cada vitória, mas que é sempre possível alcançar o que se busca com dedicação.
Em uma entrevista recente, o goleiro Danilo Padilha - que virou herói com sua defesa espetacular nos acréscimos do segundo tempo do jogo contra o San Lorenzo, levando a Chapecoense para a final da Copa Sul-Americana _ disse: "É possível ser campeão. Ninguém acreditava que chegaríamos à final, e chegamos. Tudo pode acontecer".
Danilo falou a pura verdade. Assim como uma equipe do interior chega de maneira meteórica aos melhores do futebol da América do Sul, tudo pode mudar em questão de segundos. Somos incapazes nessa luta pelo controle da vida e contra a tirania do acaso. O que nos resta é aprender com quem deu seu melhor, do início ao fim. E recomeçar, sempre.
Força, Chape!