A primeira ciclista de Gaspar

Olga foi a primeira menina a andar de bicicleta em Gaspar

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Dona Olga carrega o sobrenome Eberhardt, fruto da união de mais de 50 anos com Martins (já falecido). Porém, no sangue ela carrega outro motivo para se orgulhar. É a terceira filha de uma das maiores personalidades de Gaspar: Leopoldo Schramm, o primeiro prefeito e homem que revolucionou Gaspar. “Ele estava à frente do seu tempo”, afirma Olga que hoje mora na Rua Nereu Ramos, no bairro Coloninha.  
Se o pai foi um visionário e até se permitiu deixar de lado seus negócios para se dedicar à vida pública, ela também foi uma jovem à frente do seu tempo. E foi justamente um acontecimento, quando ela ainda nem havia completado 12 anos, que a colocou na história de Gaspar. Olga foi a primeira menina a andar de bicicleta em Gaspar. “A primeira mulher foi minha mãe”, apressa-se em informar. A bicicleta foi um presente de Leopoldo à esposa Cecília.
A primeira vez que Olga subiu no meio de transporte de duas rodas foi no local onde hoje está o prédio da prefeitura de Gaspar, na atual Praça Getúlio Vargas. “Ali havia um grande pasto, meu irmão me ajudou a subir na bicicleta, mas levei o primeiro tombo. Caí uma segunda vez porque não sabia parar a bicicleta”. Ela conta que na época havia apenas seis bicicletas em Gaspar, e todas eram de famílias tradicionais. Uma delas era do seu pai. Olga lembra que o pai tinha um gênio muito inventivo. “Ele comprou uma outra bicicleta em Blumenau e a adaptou, em sua oficina, para que a minha mãe pudesse andar, eu acabei também me interessando e aprendi logo”.
A novidade foi muito comentada pelos moradores de Gaspar porque até então o meio de transporte das mulheres era a charrete. Dos adultos, a atitude provocou surpresa e até reprovação. “As pessoas achavam um absurdo uma mulher andar de bicicleta, porque naquela época o transporte era só usado pelos rapazes”, conta Olga. Já das meninas da sua idade, a reação foi de inveja. “Elas criticavam, mas também queriam aprender a andar de bicicleta, tanto é verdade que algum tempo depois ensinei a todas elas”, revela Olga.
Mas, não foi apenas a bicicleta que tornou Olga uma pessoa conhecida e carismática em Gaspar. Durante muitos anos, ela foi costureira. “Fiz vestidos para muitas noivas de Gaspar, inclusive para as minhas filhas”, orgulha-se.  A máquina de costura era importada da Alemanha.  Ela também foi sempre participativa da vida cultural e religiosa da cidade. Foi integrante do Coro Misto Santa Cecília e por quase sete anos a responsável pela decoração do altar da Igreja Matriz São Pedro Apóstolo. Olga fazia parte do grupo “Filhas de Maria”.
Mesmo que a idade tenha tornado a vida um pouco mais difícil, agravada por um problema na perna em função de uma queda, Olga ainda é uma senhora diferente, e um dos seus passatempos preferidos é assistir a jogos de futebol na televisão. Torcedora do Vasco da Gama, ela admite que fica nervosa quando seu time joga. E no calor do jogo, sobra para o juiz e até para os jogadores. “Eu reclamo mesmo, quando o time tá mal”. Olga foi casada 53 anos com Martins Eberhardt, com quem teve dez filhos.