Política e futebol
Em alguns momentos da nossa história, política e futebol andaram de mãos dadas. Em 1950, antes da final da Copa do Mundo entre Brasil x Uruguai, políticos posaram para fotos, ao lado da cartolagem da ex-CBD, ostentando a faixa de campeão do mundo. Estávamos num pós-guerra Mundial e em ano de eleição presidencial no Brasil. Getúlio Vargas era candidato, e isso acabou tirando um pouco o foco da decisão. Bom... o resto da história todo mundo sabe. Na época da ditadura, o futebol brasileiro foi usado como propaganda política: "...50 milhões em ação... pra frente Brasil, do meu coração..", dizia a letra da música oficial da Seleção Brasileira. O ex-presidente, Médici, chegou a exigir a convocação do centroavante Dadá Maravilha. O técnico João Saldanha, um comunista de carteirinha, retrucou: - presidente, o senhor cuida do seu ministério e eu cuido da Seleção Brasileira.
Mais recente, tivemos escândalos de políticos que usaram times de futebol para lavar dinheiro, o mais emblemático é o do ex-senador Luis Estevão, preso e condenado a 28 anos de prisão por usar o Brasiliense, time do Distrito Federal, para lavar dinheiro fruto de operações ilícitas na obras do Fórum de São Paulo. A CBF também já foi usada como trampolim político.
Enfim... existem motivos de sobra para afirmarmos que o futebol vem sendo usado, ao longo da nossa história, como ferramenta de campanha por políticos oportunistas, afinal, trata-se de um esporte de massa e que também mexe com paixões e ideologias.
Na última rodada do brasileirão, o meio-campo do Palmeiras Felipe Melo, usou o microfone de uma emissora de tevê esportiva para dedicar (ao vivo) o gol da vitória sobre o rival Corinthians, ao seu candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro (PSL). O vídeo viralizou na internet. Teve gente que não relativizou o fato, outros, porém, reagiram.
Um dos líderes da maior torcida do Corinthians, a Gaviões da Fiel, postou em sua rede social que a uniformizada é contrária às ideias do presidenciável e sugeriu, nas entrelinhas, que quem vota em Bolsonaro deixe de fazer parte da torcida. A declaração provocou cisão entre os integrantes da Gaviões. Não me parece ser o melhor momento nem lugar para que uma personalidade pública, vestindo a camisa do clube que tem milhões de torcedores, se manifeste politicamente a favor de um determinado candidato, tampouco que um presidente de torcida pressione os integrantes a escolheram entre o político ou continuar na uniformizada, numa flagrante atitude de derespeito à democracia.
Clubes de futebol e torcidas uniformizadas são instituições muito populares e uma declaração como a do Felipe Melo pode deixar transparecer que a instituição apóia o candidato A ou B, embora o clube tenha soltado uma nota afirmando que trata-se de uma opinião pessoal do atleta. Os clubes, porém, precisam ficar atentos a esse tipo de manifestação pública, pois pode se tornar corriqueira, pois sempre vai aparecer um político espertalhão querendo tirar proveito da popularidade do atleta.
O jogador de futebol, antes de tudo, é empregado do clube e deve seguir as normas de conduta quando está no trabalho - e Felipe Melo estava no momento da declaração. Agora, o que fazem fora do ambiente de trabalho é outra história, podem carregar faixas, bandeiras e adesivos dos seus candidatos, pois isso faz parte do processo democrático em uma eleição.