'Meu pai foi uma pessoa extraordinária, honesto'

Na véspera do Dia dos Pais, Scheldon relembra os ensinamento deixados pelo pai Otto Censi

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fotos: arquivo pessoal/O casal Otto e Lourdes e seus sete filhos (dois já faleceram)

Neste domingo (8), Dia dos Pais, Scheldon Luiz Censi daria um forte abraço no seu pai e diria o quanto ele foi importante na sua vida. Seus irmãos certamente fariam o mesmo. Mas, faz quase 20 anos que Otto Censi "partiu", porém, os ensinamentos se perpetuaram na memória. Scheldon, o penúltimo filho de nove só tem elogios ao pai. "Ele foi uma pessoa extraordinária, honesto e justo, sempre repetia que um real e mil reais é a mesma coisa, nunca se deve pegar o que não é teu". Scheldon, de 48 anos, defineo pai em duas palavras: honestidade e caráter. "Isto também tento ensinar para os meus filhos", acrescenta.

Ele foi o filho que conviveu mais tempo com os pais, pois montou sua estamparia no terreno que lhe foi dado de herança, enquanto os pais continuaram morando numa casa próxima. Seu irmão, Silvio Censi, também se manteve nas terras herdadas. O restante dos filhos está espalhado pela região

"Levei meu pai para o hospital conversando e o trouxe num caixão", recorda, com tristeza, Scheldon. Seu Otto faleceu aos 74 anos, em junho de 2002. Além de agricultor, Otto foi o primeiro dono de comércio no Óleo Grande. A "venda" se tornou famosa, pois nela os colonos compravam ou trocavam a safra por alimentos e utensílios para a lavoura. Foram mais de 30 anos de portas abertas. "Meu pai vendia de tudo porque não tinha essa fiscalização rigorosa, o queijo e a linguiça ficavam dependurados", recorda Scheldon.

O caderno era cheio de fiado. "Ele morreu e não recebeu de todos", brinca o filho. Foi com este espírito de solidariedade que Otto e a esposa, Maria de Lourdes Censi, ajudaram no sustento de muitas famílias do Óleo Grande. A venda ficou ainda mais conhecida depois que uma reportagem de um jornal de circulação estadual colocou seu Otto e dona Lourdes em destaque. Scheldon fez questão de colocar a foto que estampou a reportagem na parede do escritório. Aliás, fotos da família Censi não faltam na parede, o que faz Scheldon viajar no tempo. "A nossa infância foi muita boa, tenho pena de ver hoje as crianças com o celular na mão e trancadas no quarto com videogame nas mãos".


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fotos: arquivo pessoal/"A nossa infância foi muita boa, tenho pena de ver hoje as crianças com o celular na mão e trancadas no quarto com videogame nas mãos". Scheldon Censi

Scheldon define seus pais como dois guerreiros. "Eles chegaram a morar dentro de uma estrebaria". Otto nasceu no Barracão, mas comprou uma grande área de terras da família Barbieri no Óleo Grande onde fixou residência. Ele plantava de tudo um pouco. "Até amendoim ele tentou", revela Scheldon, que volta a elogiar o pai: "É meu exemplo de vida".

A mãe, Maria de Lourdes, que faleceu em 2017, também é um espelho para a família. "Era uma mulher de bom coração, jamais sacrificava um animal sem antes tentar curá-lo com seus remédios caseiros", relembra Scheldon. Segundo ele, Lourdes era a versão feminina de Otto. "Muito honesta e trabalhadora, rezava o terço todos os dias".

Por causa dessa aproximação com os pais, Scheldon nunca quis deixar o Óleo Grande. "Aqui ainda é um céu", resume. Seus filhos seguem pelo mesmo caminho, já que depois da separação preferiram ficar morando com o pai e hoje comandam a estamparia que tem o curioso nome Free Willy, homenagem à famosa baleia. A empresa funciona desde 1991, quando Scheldon não havia completado 18 anos e ainda era solteiro. "Meu pai me incentivou", diz.

Ele conta que seu Otto nunca abriu mão que os filhos estudassem. Foi ele que doou o terreno para a construção da única escola do Óleo Grande (já desativada). "Quem não estudou foi porque não quis, meu pai sempre incentivou". Otto também era um homem muito religioso, e novamente abriu mão de um pedaço de suas terras para a construção da Igreja Santa Catarina. Scheldon só não entende porque mudaram o nome de Óleo Grande para Barracão. "Pra mim aqui vai ser sempre Óleo Grande. Cada lugar tem uma história, que é importante ser preservada", defende. Ele pretende construir um sítio nas suas terras onde vai continuar criando porcos. "Pra mim é uma terapia", finaliza. 


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fotos: arquivo pessoal/A propriedade da família Censi em 1987