Farinheiro de mão cheia
A história de vida de Debrando Paulo, um simpático morador do Bairro Barracão
Filho mais velho de sete do casal Júlio Paulo e Luzia Souza Paulo, Debrando Paulo, aos oito anos de idade, precisou dividir os estudos com a agricultura. Pela manhã, ia para a escola das freiras, em frente à igreja Nossa Senhora do Rosário, no Bairro Barracão, à tarde trocava o uniforme escolar e os livros pela pá e enxada. Naquela época, os filhos homens nasciam já praticamente com as ferramentas agrícolas ao lado do berço.
Hoje, aos 75 anos, Debrando leva uma vida tranquila. Ainda tem energia e vitalidade de sobra para as atividades campeiras, como plantar mandioca e produzir farinha artesanal. Aliás, foi essa a planta que alimentou a família Paulo por várias décadas. O pai plantava mandioca para fazer farinha artesanal num modesto engenho movido a boi. “Naquela época, a atividade farinheira era praticamente a única no Barracão”, relembra Debrando. E circulava pouco dinheiro. “A gente via dinheiro duas vezes por ano, quando colhia as safras”, revela Debrando. Por isso também não havia luxo, mas também a família nunca passou necessidade, pois todo o alimento consmudo era produzido na propriedade. “Eram tempos difíceis, mas também muito prazerosos”, diz.
Debrando aprendeu com o pai a arte de farinhar. E depois de casado com Maura continuou produzindo farinha artesanal no engenho da família, primeiro movido a boi, depois a querosene, óleo diesel e, por fim, à energia elétrica.
O tempo foi passando e 42 anos depois, Debrando decidiu que era o momento de mudar. “Muita gente perguntava se eu iria passar a vida toda produzindo farinha, se era isso que eu queria para os meus filhos”, conta o agricultor.
E foi assim, entre uma conversa e outra que, em sociedade com um familiar, ele decidiu seguir para o ramo têxtil. Na casa onde vivia fez um “puxadinho” e comprou quatro máquinas de costura. Começava ali uma nova história na família Paulo: A Maro Confecções.
Debrando admite que o ramo têxtil deu muito mais trabalho do que produzir farinha artesanal. Dois anos depois do início do negócio, ele e a sócia estavam metidos em dívidas por conta dos calotes que levaram dos clientes. “Quase fomos à falência, só não passamos fome, mas foi um momento muito ruim”, revela.
Aos poucos, porém, com trabalho e dedicação, Debrando reergueu a Maro. Dois dos seus fi-lhos, Wanderlei e Sidnei, passaram a fazer parte dos negócios.
E a empresa engrenou novamente, agora sob administração da família Paulo. “Hoje, eu me culpo de exigir dos meus filhos para que trabalhassem muito cedo, mas eu sempre fui muito trabalhador, nunca fui da preguiça, sempre acordei ceto”, afirma Debrando. 
Mas, aos 62 anos, ele decidiu que era o momento de desacelerar e voltar a fazer o que ele mais gosta: farinha artesanal. No sítio que comprou, no começo da Rua Amadio Beduschi, no Barracão, Debrando instalou uma mini engenho, bem mais moderno que o de outros tempos. É bem verdade que a farinha não é mais o ganha-pão da família. Por isso, a produção é limitada a duas ou três vezes fornadas por ano. Debrando e a família abrem as portas do engenho para amigos acompanharem a produção de farinha, o que acaba virando um grandioso acontecimento. Ao final do dia, depois de um bom churrasco, cada convidado leva para casa um pouco da farinha. A matéria-prima, Debrando retira de uma área plantada ao lado do engenho, onde já chegou a colher 130 toneladas.
É neste sítio, que Debrando chama de paraíso, que os dias parecem não ter fim. “Aqui eu me sinto muito bem”. A esposa o acompanha, quando não está trabalhando na Maro Confecção.
Seu Debrando só perde o sorriso e embarga a voz ao lembrar de um dos filhos, Rudinei, que morreu em acidente de trânsito na Rodovia Ivo Silveira. Porém, ele acredita que Deus tira, mas também dá. Com mais de 50 anos, ele e a esposa adotaram o recém-nascido Mateus. Debrando fala com orgulho do caçula da família. “Ele não substituiu o meu filho que partiu, mas chegou num momento em que eu e a minha mulher estávamos muito tristes. Ele foi uma benção de Deus”, emociona-se.
O tempo passa, mas as lembranças não se apagam. E a maior delas é a do pai que o ensinou a produzir farinha, uma verdadeira arte que Debrando pretende deixar para outras gerações da família. “Esse dom é conhecimento de nós ninguém tira”, finaliza o simpático gasparense.