'Minha preocupação é continuar cuidando da cidade e das pessoas'
Pré-candidato à reeleição, o atual prefeito fala da sua gestão, de política e o que pode mudar com a pandemia
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Foto: Alexandre Melo - Jornal Metas/
Kleber Wan-Dall (MDB) se interessou por política aos 9 anos de idade. Na época, os brasileiros acabavam de recuperar o direito de votar para Presidente da República. Já adolescente, a tia Mônika foi quem deu os primeiros incentivos para que o jovem Wan-Dall sonhasse com a carreira política. "Eu e ela tínhamos longas conversas sobre política, ela sempre foi muito envolvida com a comunidade em Presidente Getúlio", relembra o filho mais velho do casal Nelson e Nicéia. Formado em Direito e Teologia, com pós-graduação em Gestão Pública Municipal, Wan-Dall se filiou ao MDB no começo dos anos 2000. Foi vereador de 2009 a 2012, tendo presidido a Câmara de Vereadores em 2010, e se elegeu prefeito em 2016. Aos 40 anos, casado com Leila e pai de um filho, ele completa nesta quarta-feira (12) 1.319 dias à frente do Executivo gasparense. Os desafios a cumprir ainda são enormes, por isso Wan-Dall quer a oportunidade de governar por mais quatro anos numa chapa que pode ter um ex-adversário como vice: Marcelo Brick (PSD). Mas, tudo são especulações. Aliás, o prefeito fez questão de elogiar seu vice. Lu Spengler (PP). "Construímos uma parceria muito sólida desde 2014". Já as críticas que vem recebendo dos seus prováveis adversários das urnas, como por exemplo, do excesso de comissionados e endividamento da máquina pública, ele considera normais. "A oposição se apega a essas críticas porque tem pouco a falar do meu governo", dispara. Wan-Dall fecha o ciclo de entrevistas que o Jornal Metas fez com os seis pré-candidatos a prefeito de Gaspar. Uma nova rodada inicia assim que os nomes forem definidos nas convenções municipais.
Jornal Metas: O senhor defende um modelo diferente de eleição. Poderia explicar melhor?
Kleber Wan-Dall: Eu entendo que as eleições deveriam ser unificadas de vereador a Presidente da República. A cada dois anos nós temos eleições, o que é ruim para o Brasil que praticamente para. Eu defendo mandatos de cinco anos e sem reeleição. Essa é a minha opinião pessoal. É claro que isso depende de leis que precisam ser aprovadas no Congresso Nacional, mas acredito que isso seria saudável para o Brasil e para a administração, pois teríamos mais eficiência no serviço público.
JM: Pela primeira vez o senhor será candidato numa eleição em que já ocupa o cargo. A tendência é se transformar no alvo principal dos adversários. O senhor está preparado para lidar com isso?.
Wan-Dall: Evidente que eles (adversários) vão fazer apontamentos com relação ao trabalho do atual governo e do nosso projeto. Eu encaro isso com muita naturalidade. Isso faz parte do processo democrático. Vamos procurar não focar naquilo que a oposição fala, mas no que de fato planejamos e nos resultados que a gente precisa dar para o município.
JM: Cinco ou seis pré-candidatos que podem virar candidatos. A eleição em Gaspar comporta tantos candidatos a prefeito?
Wan-Dall: É saudável para a democracia, muito embora acredite que a disputa será entre nós e o PT. Na verdade, o eleitor vai participar de um plebiscito. O que o PT fez em doze anos e o que eu fiz em três anos e meio. Acho que essa será a disputa principal nesta eleição, mas acho importante outras candidaturas porque o eleitor passa a ter mais opções.
JM: O senhor acha que as ações tomadas pelo seu governo com relação à pandemia podem influenciar na escolha do eleitor, já que esse é o assunto mais importante do momento?
Wan-Dall: A minha preocupação neste momento é cuidar da cidade e das pessoas. Evidente que essa questão da pandemia é algo que se fala do começo da manhã até à noite. Eu acordo de manhã falando de coronavírus e vou dormir falando de COVID-19. Evidente que isso tirou as pessoas do eixo e afetou a todos: a iniciativa privada, o setor público, as famílias e a própria rotina. Portanto, com certeza é um assunto que será abordado na campanha, mas temos três indicadores que apontam para a melhoria dos nossos números com relação à COVID-19, fruto desse trabalho em conjunto que fizemos com a população. Essa pandemia é uma guerra que não se vence sozinho, todos nós somos soldados no sentido de todo mundo atender as recomendações de saúde seja no dia a dia usando a máscara e higienizando as mãos e evitando aglomerações, bem como nas ações que a gente vem implementando desde o dia 18 de março quando entraram em vigor as medidas por parte do governo do estado e, em seguida, adotadas pelos municípios. Estamos fazendo no nosso limite e adotando todas as medidas que legalmente é possível e que, do ponto de vista da saúde, tem respaldo para se fazer, bem como da parte orçamentária e financeira da prefeitura no sentido de darmos todo o suporte para atender as pessoas neste momento.
JM: O que o próximo prefeito terá que fazer para equacionar o orçamento do município com a perda de arrecadação e ainda auxiliar os empresários atingidos pela crise econômica?
Wan-Dall: Nós temos um projeto pronto, mas não levamos adiante porque é ano eleitoral e implicaria em algumas restrições do que a gente pode e não pode fazer. Mas, esse projeto vai constar do nosso Plano de Governo, que é de apoio ao pequeno empreendedor que está começando seu próprio negócio e para quem sempre acreditou e investiu na cidade. Vamos auxiliar e contribuir de forma mais direta junto ao pequeno empreendedor. Na verdade, o governo se preparou e até imaginou que o efeito econômico do coronavírus seria maior. No mês de julho, já verificamos uma pequena recuperação e até crescimento na arrecadação, isto é reflexo do econômico. No último mês, Gaspar teve um saldo positivo de 92 novas vagas de emprego. Isto demonstra que a economia está reagindo em meio à pandemia. Somente no mês anterior tivemos 125 novos CNPJs abertos em Gaspar. Aliás, essa parceria em prol do desenvolvimento econômico era também uma das principais bandeiras da minha campanha de 2016, ou seja, gerar emprego para a comunidade, gerar oportunidades para as pessoas e dar suporte para quem está iniciando o seu negócio. Há, portanto, uma relação muito forte entre o poder público e o novo empreendedor. Agora, não adianta o poder público facilitar e agilizar os procedimentos internos da prefeitura se a pessoa não quer empreender, e também não adianta a pessoa querer empreender e a prefeitura emperrar as coisas.
JM: Neste primeiro mandato, a prefeitura contraiu um volume alto de empréstimos para execução do programa de obras. Com a pandemia, esse programa tende a sofrer alguma mudanças no cronograma?
Wan-Dall: Tivemos algumas obras que eram para iniciar este ano e por conta da pandemia precisamos adiar porque não sabemos quanto tempo vai durar essa pandemia, se vai até o final do ano ou se vai mais um ano. Não sabemos também qual o tamanho do problema. Por uma questão de responsabilidade, a minha decisão foi a de segurar, mantendo apenas aquelas obras já contratadas ou as que estavam em andamento. As novas obras seguramos para tomar pé da situação e ver exatamente qual o tamanho do problema para não colocar a prefeitura do ponto de vista orçamentário e financeiro em situação difícil. Agora, o mais importante é o planejamento que nós temos. O trabalho de gestão para viabilizar os recursos para a execução dessas obras estruturantes e a confecção dos projetos para essas obras. Isso está pronto e preparado, assim que tivermos condições e clareza que a gente venceu essa pandemia, vamos voltar ao ritmo acelerado de trabalho no que se refere às obras estruturantes.
JM: Essa questão dos financiamentos, possivelmente será muito questionada pelos seus prováveis adversários nas eleições. O senhor poderia explicar se de fato a atual administração está endividando a prefeitura?
Wan-Dall: É importante que eles estudem e pesquisem um pouquinho mais. Os empréstimos são autorizados pela Câmara de Vereadores. Hoje, eu tenho autorizado R$ 206 milhões dentro de um limite prudencial de até R$ 229 milhões (com base na Lei de Responsabilidade Fiscal). Mas, contratado são R$ 70 milhões e executados R$ 40 milhões. É mais ou menos igual quando você tem um veículo financiado. Quem tem condições de comprar um carro, uma casa ou um terreno à vista? Pelo menos uma parte você tem que financiar ou terá que ficar cinco anos andando a pé para economizar dinheiro e poder comprar o carro à vista. Se financiar vai poder usufruir do bem imediatamente. No poder público é mais ou menos o mesmo conceito. A melhoria do trânsito da cidade, com a construção de dois binários, foi com recursos de financiamento. As pavimentações de estradas no interior: Arraial, Gasparinho, Lagoa, Gaspar Alto, Barracão, Belchior foram obras que levaram qualidade de vida para as pessoas. As donas de casa podem agora estender a roupa no varal, isso eu acho importante. Elas não estão preocupadas se é dinheiro próprio, financiamento ou emenda parlamentar. Elas querem qualidade de vida. Nós tínhamos gargalos enormes, como por exemplo na Rua Leopoldo Alberto Schramm, o conhecido Beco, qualquer enxurrada que dava enchia e colocava água na casa das pessoas, que perdiam móveis, eletrodomésticos e passavam por transtornos muito grandes. Fizemos uma obra de drenagem grande, revitalizamos a via e não se teve mais problemas. É recurso de financiamento. Além disso, o trabalho que nós fizemos de gestão, com o incremento da receita e diminuição da folha de pagamento por si só já paga as parcelas dos financiamentos. Além disso, quando se pavimenta uma via, como por exemplo do bairro Lagoa, são 5 quilômetros a menos de patrola, de caminhão-pipa e de oficina para todo esse maquinário. Portanto, é economia também para a Secretaria de Obras. Fizemos tudo isso dentro do nosso limite aceitável e está autorizado. Não necessariamente vamos utilizar todo o dinheiro, porque pode um deputado trazer recursos por meio de emenda parlamentar e aí não vamos precisar utilizar o dinheiro do financiamento. O mais importante é o crescimento da cidade, as obras estruturantes que estamos fazendo, como a do Anel de Contorno, uma obra que se falava desde 1996, quando eu votei pela primeira vez. Estamos tendo a oportunidade de tirar ela do papel, assim como a reurbanização da Bonifácio Haendechen, da Barão do Rio Branco, da Frei Solano, da Itajaí, da Nereu Ramos, da Anfilóquio Nunes Pires e a ligação Gaspar-Blumenau pelo Gaspar Alto. Todas essas obras foram feitas com recursos do financiamento e trouxeram qualidade de vida para as pessoas.
JM: O governo também tem um foco muito grande na área da Saúde. Investimentos no hospital e em saúde básica. Recentemente, por conta da pandemia, a instalação da tão necessária UTI. Esses dez leitos de UTI vão permanecer no hospital após a pandemia?
Wan-Dall: Em apenas três anos e meio conseguimos muitos avanços na área da saúde, tanto na Secretaria Municipal da Saúde quanto no hospital. O fato dos equipamentos serem inicialmente alugados não significa que a UTI não vai ficar. A UTI veio para ficar, pois já recebemos do governo do estado dez respiradores e já autorizei a compra de dez monitores e dos demais equipamentos. A UTI está implantada e autorizada pela Ministério da Saúde dentro dos critérios da COVID-19. O que vamos fazer, e isto já está em análise, é uma mudança do local, mas isso é uma questão técnica que os médicos, juntamente com os engenheiros, estão estudando. A gente fez ali porque era uma questão emergencial. Mas, temos outras conquistas na área da saúde. Antes, o Pronto Atendimento tinha apenas um médico de plantão 24 horas, hoje temos dois médicos 24h e dois 12 horas presencial e 12 horas de sobreaviso. Nós compramos vários equipamentos, desde aqueles que os médicos e enfermeiros usam no dia a dia até a torre de videolaparoscopia para fazer cirurgias. O hospital também não tinha laboratório para fazer exames de sangue. Na situação anterior esse exame era feito em Blumenau, tinha que coletar e chamar um motoboy para levar o exame até Blumenau. Isto demandava custo para o hospital e transtorno para médicos e pacientes. O hospital estava sem alvará sanitário quando assumi a prefeitura. O PT não conseguiu manter o certificado de filantropia do hospital, que é um procedimento simples, ou seja, você precisa apenas informar, de tempos em tempos, ao Ministério da Saúde que o hospital está em funcionamento. Na Secretaria da Saúde tivemos avanços importantes, como na área da saúde da mulher. O serviço de mamografia passou a ser feito em Gaspar, antes as gasparenses iam a Pomerode para fazer o exame. Inauguramos o Centro Especializado da Criança e da Mulher, na Policlínica; aumentamos em doze as especialidades médicas que hoje atendidas na policlínica, reformamos e ampliamos nove unidades de saúde; fizemos mutirões de cirurgia de catarata, laqueadura e vasectomia; fizemos um trabalho com o Odontosesc onde foram atendidas 5,2 mil pessoas. A saúde é um trabalho que você não termina, não é igual a uma pavimentação. A cidade está crescendo, somente de nascimentos de crianças estamos registrando em torno de 70 por mês e isso gera um desafio na área da saúde cada vez maior, por isso o nosso trabalho é o de acompanhar este crescimento e oportunizar melhores serviços para a população.
JM: Voltando para a questão política. A atual administração vem recebendo críticas dos outros pré-candidatos sobre os cargos comissionados, fala-se em 150 ou até 160 pessoas. Afinal, qual a situação da prefeitura com relação a estes cargos comissionados e o próprio inchamento da máquina pública?
Wan-Dall: Eu poderia ter trazido o gráfico, mas a verdade é que eu peguei a prefeitura gastando 49,02% com folha de pagamento, hoje a nossa realidade é de 45,7%. Essa queda resultou em uma economia, só no último ano, de R$ 11 milhões. Isto é fruto de duas frentes: o crescimento da receita do município e de controle dos gastos públicos. Quem está na prefeitura está trabalhando, produzindo resultados e a comunidade está vendo estes resultados. Não tem ninguém sentado e de braços cruzados. Nós temos uma prefeitura com praticamente dois mil funcionários e um orçamento de aproximadamente R$ 200 milhões. Você precisa de equipe, de time pra trabalhar. Ninguém administra uma cidade sozinho, precisamos de pessoas que auxiliem, que façam o trabalho conosco. Eu vejo como natural a oposição criticar até porque eles têm pouco a falar do nosso trabalho e evidente que vão se apegar a este tipo de situação, mas os números falam por si: tivemos uma queda de quase 5% nos gastos com folha de pagamento.
JM: Outra questão que tem gerado questionamentos é a escolha do pré-candidato a vice na sua chapa. De fato, existe uma negociação com o PSD?
Wan-Dall: A gente tem um projeto muito sólido do ponto de vista político e que dá sustentação para o governo. Eu e o Lu (Luis Carlos Spengler Filho (PP)), nosso atual vice-prefeito, construímos uma parceria muito sólida desde 2014 quando iniciamos as primeiras tratativas e conversas com pensamento na cidade. Evidente que existe uma conversa com o PSD, com o Marcelo Brick, mas não tem nada definido até porque se tivesse nós já teríamos anunciado, mas o nosso objetivo é dar continuidade ao trabalho. Gaspar não pode parar neste momento, nós criamos um ritmo de trabalho e crescimento que é importante que se dê continuidade. Estamos trabalhando com muita cautela, com muito cuidado e responsabilidade com o pensamento em uma estrutura política que dê continuidade ao trabalho de gestão. Estamos despidos de qualquer vaidade pessoal, pensando unicamente no melhor para Gaspar.
JM: Em meio a toda essa pandemia, qual a mensagem para a população de Gaspar?
Wan-Dall: A nossa mensagem é de esperança. Moramos numa cidade cuja população é aguerrida e trabalhadora, solidária e isso faz de Gaspar uma cidade muito forte e diferenciada. Estamos passando por uma pandemia mundial, mas os números que a gente vem acompanhando demonstram que está todo mundo trabalhando mais, se empenhando mais e acreditando mais na nossa cidade. O meu sentimento é que assim como a gente passou pelas enchentes de 1983 e 1984 e pela tragédia de 2008, estamos passando agora por esta pandemia e o trabalho conjunto, o amor pela cidade, a dedicação e o acreditar vão fazer a diferença. Vamos sair dessa pandemia ainda mais fortes, unidos e com a cidade cada vez melhor para todos nós.