Milano vive novo momento

De uma área de conflito e venda de drogas, o residencial hoje está mais seguro e humanizado

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Inaugurado há 11 anos, o Residencial Milano, no bairro Coloninha, virou área de conflito, com o tráfico de drogas controlando, inclusive, quem entrava e saía do condomínio. É verdade que a venda de drogas acontecia fora do residencial, mas era para dentro do Milano que os traficantes corriam quando a polícia se aproximava. Essa situação incomodava a maioria dos moradores, trabalhadores e trabalhadoras que saiam cedo para buscar o ganha-pão de suas famílias.
Nos últimos dois anos, essa situação começou a mudar. O condomínio, de 224 apartamentos populares, experimenta um novo momento, num ambiente muito mais seguro, familiar e acolhedor. Um dos responsáveis por essa mudança é o síndico profissional Jonas Anacleto, que não mora no Milano, mas assumiu há dois anos e foi reeleito, em fevereiro, para mais um mandato.
“A primeira vez que vim aqui, a impressão que ficou era daqueles traficantes na frente do condomínio, o tráfico de drogas tomava conta, amedrontava os moradores, ninguém queria chamar a polícia, uber e táxi negavam corrida para o Milano”, recorda o síndico.,
As primeiras medidas foram colocar 56 câmeras de monitoramento, portão eletrônico e acesso digital. “Cada entrada de bloco tem uma câmera, ou seja, a pessoa que entra e sai está sendo filmada”, conta Jonas. Na época que ele assumiu, o Milano também enfrentava problemas estruturais, como falta de um sistema contra incêndio. Extintores, mangueiras e até portas haviam sido roubadas. “Foram gastos quase R$ 60 mil para reinstalar todo o sistema contra incêndio”, revela o síndico. Ele conta que a transformação estrutural e ambiental do Milano demorou um pouco, cerca de um ano, mas hoje a realidade é outra. Ele destaca o apoio da Polícia Militar de Gaspar, que passou a realizar rondas diárias em frente ao residencial. “No Milano aconteciam os mais diversos tipos de crimes, desde tráfico de drogas até pessoas foragidas da justiça, inclusive homicídios ocorreram em frente ao condomínio”, relembra o comandante da PM, Major Leandro dos Santos. O trabalho da PM, afirma o comandante, foi importante, “mas nada teria mudado se não fosse o apoio das famílias moradoras, que de fato queriam a mudança, e o síndico”. O major não tem dúvida que o cenário no Milano mudou da água para o vinho nos últimos anos. “Era uma área de conflito, sempre destaque nos noticiários policiais da cidade de Gaspar, parecia que tudo acontecia no Milano”, observa.


Organização e limpeza também passaram a fazer parte do dia a dia do residencial. O condomínio nunca teve zelador, hoje existe uma pessoa responsável unicamente por manter limpa a área externa. “Quando eu cheguei fiquei até assustado com o que eu vi, mas hoje vocês podem ver como está tudo limpo e organizado”, garante o zelador Sid da Silva.
Há ainda um alto índice de inadimplência entre os condôminos, o que atrasa novos investimentos na segurança e estrutura do residencial. O jeito foi contratar uma empresa que garante o pagamento da taxa condominial e tenta, na justiça, cobrar os proprietários inadimplentes. Em março, dois apartamentos vão à leilão e outro deve seguir pelo mesmo caminho em abril. Jonas calcula que se as três unidades forem arrematadas, o condomínio terá um reforço de caixa de R$ 300 mil, o que vai ajudar a realizar novos investimentos, como a colocação de interfone em todos os apartamentos, identificação facial para acesso ao condomínio e reforma da rede elétrica, para que os moradores possam instalar ar condicionado nos apartamentos.
Enquanto isso não acontece, eles podem aproveitar a horta comunitária nos fundos do condomínio. Quem cuida é Pedro Nicolau, Sub Síndico do Milano. “Uma horta com verduras fresquinhas, sem veneno para os moradores, pois todos merecem”, orgulha-se.
Pedro sempre ajudou na manutenção do condomínio sem nunca cobrar nada, mas nos últimos anos está bem mais animado. “Hoje é uma satisfação poder ajudar, pois antes eu pensava que quando acabasse de pagar, eu iria colocar o apartamento à venda porque tava muito complicado, hoje eu não vendo por dinheiro nenhum”, admite. A horta representa não só alimentos saudáveis, mas a humanização do Residencial Milano que por muito tempo foi sinônimo de criminalidade, violência e medo. A segurança e a sensação de pertencimento são visíveis e os moradores voltaram a sorrir.