Um novo lar para Caio e Madalena

Comunidade de Gaspar se uniu para ajudar na construção da nova moradia do simpático casal de idosos

Por Kassiani Borges

Carmelino ("Seu Caio") e Marlene: um novo lar depois de quase 62 anos de matrimônio

Na Rua Maranhão, no Bairro Sete de Setembro, em Gaspar, um gesto de solidariedade transformou a vida de um casal de idosos e emocionou a cidade. Ali, entre vizinhos e amigos, nasceu uma enorme corrente do bem que ergueu mais do que paredes: construiu esperança, dignidade e aconchego.

Carmelino dos Santos, 83 anos, mais conhecido como Seu Caio, e Madalena dos Santos, 78 anos, compartilham uma história de quase 62 anos, quando subiram ao altar da Igreja Matriz São Pedro Apóstolo para se unirem em matrimônio. Para começar a vida a dois, eles construíram uma casa de madeira, onde criaram dois filhos. A casa guardava lembranças e memórias valorosas de uma relação de amizade, cumplicidade e amor, mas já não oferecia o conforto necessário. Há cinco anos, Madalena enfrenta limitações de movimento por conta de um problema no quadril. Ela caminha com auxílio de um andador.
A falta de acessibilidade na humilde residência tornava a rotina do casal um desafio diário, especialmente porque o banheiro ficava fora da casa, o que obrigava Madalena a percorrer uma distância de cerca de 15 metros. Seu Carmelino, aos 83 anos, se esforçava para auxiliar a esposa, mas admite que as coisas estavam ficando difíceis.

Foi então que um olhar sensível mudou tudo. O vizinho, João Santos de Oliveira, conta que foi até a casa para consertar a porta de entrada, mas acabou tocado pela situação. “Eu perguntei para a dona Madalena se ela permitia que nós construíssemos uma nova casa. Ela concordou, mas disse que não tinha dinheiro”.
João então compartilhou com sua esposa e o cunhado Cláudio e esposa a necessidade de agir. Os quatro então tomaram frente em uma campanha entre os vizinhos, mas que acabou se espalhando pela cidade. O que poderia ser apenas uma ideia se tornou um movimento solidário: um risoto foi organizado para arrecadar dinheiro; os dois casais bateram de porta em porta para pedir tijolos, cimento, fios elétricos entre outros materiais. Cada contribuição era mais do que um recurso - era um gesto de afeto. “Passamos a pedir para as pessoas até que conseguimos o dinheiro. Eu só tenho a agradecer a quem nos ajudou”, resume João.

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Aos poucos, cada pedacinho do sonho foi se encaixando. João, que cuidou da contabilidade, revela que entre dinheiro e material de construção as doações chegaram a R$ 50 mil, valor suficiente não só para erguer a nova moradia, mas também para mobiliar com carinho o lar: um guarda-roupa, uma cama nova, e sobretudo, o aconchego que os dois tanto mereciam.

Alegria e lágrimas

A casa antes...

... e depois...

Marlene Giacomossi diz que a felicidade é grande. “Acho que a nossa emoção é maior que a deles. É a primeira vez que gente faz uma ação como essa. Ficamos felizes em ajudar um vizinho de 44 anos”. Ela acredita que a alegria dos casais que organizaram a campanha acabou contagiando toda a cidade. “Não dá para citar nomes, porque muita gente ajudou; eu agradeço a todo esse povo que colaborou e proporcionou essa alegria para nós e o casal Santos. Mais pessoas precisam ter este tipo de iniciativa, para também sentir o que nós sentimos”, emociona-se Marlene.

Emoção também nas palavras de Carmelino: “Eu choro quando lembro que todas essas pessoas se mobilizaram por nós. Somos gratos, especialmente ao João, ao Cláudio e suas esposas que começaram tudo isso, não tenho palavras para descrever o gesto que eles tiveram. E lembrar também de Deus neste momento”, afirmou. Dona Madalena, completa com simplicidade: “Eu sempre rezo, sou muito devota. Quem tem amigos e bons vizinhos tem tudo.”

A campanha em prol de um novo lar para o casal de idosos entrelaçou mãos que prepararam o risoto solidário, uniu vozes que bateram de porta em porta, e braços que doaram tijolos, fios, cimento e outros objetos, transformado em pequenas doses de esperança. Na nova casa, Carmelino e Madalena vão celebrar 62 anos de matrimônio no próximo dia 27. Um recomeço que foi possível graças ao gestou voluntário e solidário da comunidade de Gaspar.