Médicos lançam campanha por inclusão de medicamentos contra obesidade no SUS

Entidades alertam que mais de 30% dos adultos brasileiros já vivem com obesidade e que a falta de acesso a tratamento medicamentoso aprofunda riscos à saúde pública

Por Daniel Nogueira

Mais de 30% dos adultos brasileiros já convivem com obesidade, e 68% têm sobrepeso

A Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) lançou, nesta semana, uma campanha nacional para defender a incorporação de medicamentos contra a obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS). O movimento reúne o apoio de entidades como a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (Abeso), a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).

De acordo com a Sbem, o objetivo é sensibilizar autoridades e mobilizar a sociedade para pressionar por políticas públicas que garantam acesso a tratamentos adequados, incluindo fármacos, no sistema público de saúde. Atualmente, apesar de a obesidade ser reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença crônica multifatorial, nenhum medicamento para perda de peso está disponível no SUS.

A entidade destaca que pacientes com outras doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e asma, recebem medicamentos gratuitos, enquanto aqueles que vivem com obesidade continuam sem alternativas terapêuticas oferecidas pelo sistema. Nos últimos cinco anos, quatro fármacos já foram avaliados pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) – orlistate, sibutramina, liraglutida e semaglutida – mas todos tiveram a incorporação negada.

Dados do Atlas Mundial da Obesidade 2025, elaborado pela Federação Mundial da Obesidade, mostram a gravidade do problema no Brasil: 31% dos adultos já convivem com obesidade e 68% apresentam sobrepeso. As projeções indicam que, se nada mudar, até 2044 quase metade da população adulta (48%) será obesa.

A situação também traz consequências econômicas. Estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) estima que, entre 2021 e 2030, o SUS poderá gastar até US$ 1,8 bilhão com doenças associadas à obesidade, como diabetes tipo 2 e acidente vascular cerebral (AVC). As perdas indiretas, como a redução de anos produtivos, podem chegar a US$ 20 bilhões.