Mais de mil idosos podem ter sido vítimas do golpe da "revisão bancária" em SC

"Operação Entre Lobos", do GAECO, já identificou 300 vítimas dos criminosos

Por Alexandre Melo

Uma grande quantidade de dinheiro foi apreendida

Pode passar de mil o número de idosos lesados por uma organização criminosa especializada em aplicar golpes contra aposentados em todo o Brasil, cuja célula funcionava em Santa Catarina. Somente nos últimos dias, 115 vítimas procuraram o Ministério Público de Santa Catarina afirmando terem sido lesadas pelos golpistas. Outras 215 já haviam sido identificadas durante a investigação policial. Mais pessoas devem procurar o Ministério Público e órgãos de defesa do consumidor na medida em que as informações vão sendo divulgadas na mídia.

Na semana passada, o GAECO – Grupo de Atuação Especial de Combate à Organizações Criminosas deflagrou a “Operação Entre Lobos” em apoio à Promotoria de Justiça da Comarca de Modelo, cidade localizada no Oeste do Estado. A ação policial cumpriu 13 mandados de prisão – oito preventivas e cinco temporárias - e 35 mandados de busca e apreensão em 12 cidades de cinco estados da Federação: Santa Catarina, Ceará, Rio Grande do Sul, Alagoas e Bahia.

Dez dos 13 presos estão detidos no Presídio de Chapecó. Três deles foram presos fora do estado: um em Planalto-RS e outros dois em Salvador-BA, e foram trazidos pela Polícia Penal catarinense no final da semana passada. Apenas os três que tinham base no Ceará permanecem na sua origem, detidos em Fortaleza. Durante a operação também foram apreendidos R$ 115,7 mil, além de 6,7 mil dólares e euros, sete veículos e duas armas com 60 munições.

A investigação, iniciada há quase um ano, revelou um esquema sofisticado e coordenado que operava através de múltiplas estratégias fraudulentas. Os criminosos abordavam as vítimas, predominantemente idosos e aposentados, em suas residências ou por outros meios, oferecendo ações revisionais de contratos bancários que podiam chegar a R$ 150 mil, porém, as cessões de crédito eram firmadas por valores significativamente abaixo dos montantes reais a receber nas ações judiciais. Num dos casos, o aposentado teria direito ao ressarcimento de R$ 146.327,17 determinado judicialmente, porém, recebeu apenas R$ 2.500,00. Outra vítima com crédito judicial de R$ 115.660,20 recebeu apenas R$ 2.000,00.

Após o ajuizamento das ações, muitas vezes sem o devido discernimento dos clientes e sem qualquer informação sobre o processo, as vítimas eram induzidas a assinar contratos de cessão dos valores de direitos judiciais, resultantes das ações propostas, a duas empresas de fachada que integravam a organização criminosa: Ativa Precatórios, que concentrou suas operações na região oeste de Santa Catarina, e a BrasilMais Precatórios, sediada no Ceará, e que expandiu suas atividades para o Rio Grande do Sul. Os alvarás, porém, eram todos expedidos em nome do escritório de advocacia da pessoa que a investigação apontou como chefe da organização criminosa (nome não divulgado). Os valores eram, em parte, transferidos para as empresas e/ou rateados entre os integrantes do grupo criminoso. As vítimas, a maioria idosos acima de 65 anos, eram ainda levadas por integrantes do grupo a cartórios para reconhecimento de firma, visando dar credibilidade à fraude.

A apuração também apontou a captação de clientes via internet, por meio do site do Instituto de Defesa do Aposentado e Pensionista (IDAP), uma fachada institucional para direcionar as vítimas ao esquema fraudulento. As pessoas entravam no site e assinavam os documentos necessários para a organização criminosa ajuizar a ação. O site do IDAP fez vítimas em 37 comarcas distribuídas entre Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná.

Segundo as apurações, por meio da Ativa Precatórios, com sede em Pinhalzinho-SC, foram liberados pela Justiça um total de R$ 924.479,10, mas pagos às vítimas apenas R$ 91.600,00. Já por meio da BrasilMais Precatórios, com sede em Fortaleza-CE, foram liberados valores ainda mais alarmantes: R$ 5.106.773,12, mas as vítimas receberam somente R$ 503.750,00. Somando as duas empresas, o total liberado pela Justiça foi de mais de R$ 6 milhões, porém os idosos explorados pelo esquema receberam menos de 10% deste montante.

A análise dos dados revelou que as empresas adquiriam os direitos sobre os créditos mesmo após a prolação de sentenças de primeira ou segunda instância, quando o direito da vítima já estava consolidado. Essa prática visava maximizar os lucros do grupo, assumindo menor risco processual.

Próximo passo
O próximo passo é tomar o depoimento das possíveis vítimas para em seguida proceder à oitiva dos investigados presos. Em paralelo, será iniciada a análise dos quase 6 mil documentos e os dados extraídos de 18 computadores, 22 telefones celulares e 17 mídias eletrônicas apreendidos na operação.
O coordenador estadual do GAECO, Promotor de Justiça Wilson Paulo Mendonça Neto não tem dúvida de que muitas pessoas em Santa Catarina e também fora do Estado foram lesadas.

“Pretendemos conseguir ressarcimento aos envolvidos, estancando a atuação ilegal dos investigados”, afirmou.


Orientação às Vítimas

Pessoas que se identificarem como vítimas da fraude devem procurar a Delegacia de Polícia Civil mais próxima para registrar um boletim de ocorrência, o qual será posteriormente encaminhado ao Ministério Público de Santa Catarina. Também podem contatar a Ouvidoria do Ministério Público ou a Promotoria de Justiça de Modelo.

''É fundamental que todas as vítimas se manifestem para que a investigação possa dimensionar adequadamente o alcance dos crimes, identificar os lesados e garantir a devida reparação dos danos, a responsabilização criminal dos investigados e a identificação de outras pessoas que porventura integravam a organização criminosa'', afirmou o Promotor de Justiça Edisson de Melo Menezes, da comarca de Modelo.