O segredo para uma boa quaresma

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Esse tempo de graça, chamado quaresma - os quarenta dias que antecedem a Semana Santa -, recorda os quarenta dias de Jesus no deserto, quarenta dias de Moisés e Elias na montanha e os 40 anos que Moisés levou para atravessar o deserto rumo a terra prometida.
É o tempo litúrgico em que a Igreja nos propõe penitência e conversão em preparação para a Páscoa de Cristo. Portanto, o Tempo Quaresmal quer nos levar à interioridade, à meditação, à oração e caridade, sem esquecer do jejum. Tudo isso, para que possamos mergulhar com mais profundidade em nosso interior e percebermos o quanto precisamos mudar.
É também um tempo de recordar quem somos, onde estamos e para onde vamos. Lavados no sangue do Cordeiro, no dia do batismo, somos chamados a viver com os olhos fixos naquele que um dia nos redimiu na Cruz. Agora importa a decisão de vivermos esses quarenta dias com a certeza de que não estamos sós. Jesus foi para o deserto, conduzido pelo Espírito (Mt 4,1). Venceu o tentador pela Palavra, na força do Espírito.
Eis o segredo para uma boa quaresma. Não esquecer quem somos. Nossa vida tem valor - o sangue de Cristo. Nossa salvação foi garantida no dia que Ele deu o último suspiro, mas precisamos acolher essa graça todos os dias e trilhar um caminho de  conversão.
Saber onde estamos. Vivemos neste tempo e temos uma missão específica, mas será que estamos desempenhando bem nossa missão. A quaresma é um tempo de reflexão. O que fiz até aqui e o que devo fazer? Para onde vou? Essa é uma questão que para nós cristãos tem uma resposta muito simples, mas que comporta uma decisão. Nossa busca é pela medalha perfeita, aquela que não estraga e ninguém rouba, mas conquistá-la é um treinamento diário. Cristo é nosso técnico. Com Ele podemos ter certeza de que a vitória é certa, porém o combate continua e precisamos estar preparados o tempo todo. Portanto, deixe-se treinar por Jesus neste tempo. Peça a Ele a graça de fazer uma boa quaresma, de fazer uma penitência e orar mais. Mas principalmente, peça e se esforce para ser uma pessoa melhor. O mundo está cheio de gente interesseira, invejosa, grosseira e sem tempo.  Creio que seria uma graça pedir a Jesus para ser como Ele, que não excluiu ninguém, não fez acepção de pessoas, não julgou, etc. Pois devemos tomar o cuidado de não fazermos uma quaresma de 'preceitos' e sem conversão, pois a mudança maior precisa acontecer de dentro para fora. Diz Jesus: "não é o que entra que fere o ser humano, mas o que sai." Deus abençoe sua quaresma! Deus abençoe sua decisão de seguir o Cristo!


Padre João Marcos Polak,
Membro da Comunidade Canção Nova


A leitura como aprendizado

O ato de ler deve ser entendido sob muitos matizes: como atribuição de sentido ao texto escrito, como prática social, como compreensão do contexto ("a leitura do mundo precedendo a leitura da palavra", lembrando Paulo Freire, para quem a "compreensão do texto implica a percepção das relações entre texto e contexto"), etc. Ler, assim, é explorar o texto em busca de respostas textuais e contextuais, é ser questionado pelo mundo e por si mesmo, o que gera uma ação crítica do sujeito no mundo. Nesse sentido, o ato de leitura é um ato de abertura para o mundo. Ao entrarmos no território dos textos com tudo o que somos e lemos, emergimos da leitura com mais clareza do nosso universo interior e exterior, reinaugurando nosso repertório. Olhar é ler, e ler, antes de tudo, é uma operação de percepção, em que estão envolvidos muitos processos neurofisiológico, cognitivo, afetivo, argumentativo, simbólico.


Júlio Röcker Neto, 
Especialista em Leitura de Múltiplas Linguagens