Não existe salvador da pátria

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Você conhece Katia Sastre? Talvez você não ligue imediatamente o nome à pessoa. Mas ela está sendo assediada por alguns partidos políticos para concorrer nas próximas eleições. Kátia, caso você não lembre, é a policial militar que foi alçada à condição de heroína nacional na mídia por ter imobilizado e matado um assaltante na porta de uma escola. Os galanteadores de Kátia estão interessados nos votos que a policial pode angariar. Não perguntaram se ela entende de administração pública nem quais seriam suas propostas para um possível mandato. O importante, nesse tipo de política, é que Kátia é elegível, tem potencial, traz votos.

O foco aqui não é julgar a policial nem seu ato, muito menos duvidar que possa ter capacidades de gestora pública. O que chama a atenção é essa sanha por um personagem, alguém que personifique os anseios (de parte) da população e se coloque à disposição para resolver os problemas do país.
Não será o palhaço, o fanfarrão, a popozuda ou o armamentista o salvador da nossa pátria. Política não é piada nem radicalismo. Já tivemos inúmeros exemplos de que isso não funciona. Não precisamos de um ídolo, nem de um herói, mas de um bom construtor de equipes, para que tenhamos vários bons líderes arquitetando um projeto por resultados. Infelizmente, às vésperas das eleições gerais, o que estamos vendo é uma polarização absolutamente prejudicial.
Mais que buscar a identificação por projetos de gestão pública, muita gente se guia por contra ou a favor, esquerda ou direita, conservador ou liberal. E a viabilidade política? Não podemos perder de vista que política se faz por meio de um grande conjunto de agentes. Que um gestor precisa do respaldo de seus pares, caso contrário, pouco se realiza.

Não conheço a policial Kátia, por isso mesmo não tenho motivos para deixar de acreditar que seja uma excelente profissional e um excelente ser humano. Mas o gesto de Kátia não deve ser explorado no jogo eleitoral - ou pelo menos não deveria. O "novo", que todos nós queremos, não é necessariamente o novato. Mas é o que tem projeto, convicção e apoio.

Puxadores de voto, existem muitos. Mas nem tantos são os comprometidos. É muito difícil fazer boa política num sistema tão amarrado. Isso exige conhecimento e convencimento. Por isso, eleitor, investigue, avalie quem tem condições de viabilizar o que propõe. Se temos políticos inconsequentes, foram eleitores inconsequentes que os colocaram lá. E que talvez nem lembrem em quem votaram, mas que certamente estão reclamando da política.

Se política se confunde tanto com populismo, fica muito pior quando as eleições acontecem em tempos de crise. Misturado com Copa do Mundo, então...haja discernimento. Se você está preocupado com os rumos que tomaremos nos próximos quatro anos, a hora de agir é já. Fale de política, discuta em alto nível, influencie aqueles com quem você convive a prestar atenção. Não vamos desperdiçar mais uma chance por descrédito ou desinteresse. Não é exagero dizer que é das nossas vidas que estamos tratando. Porque pela política passam a economia, a saúde, a educação e a saúde da sociedade. Se isso não nos interessar, continuaremos à espera do salvador da pátria, que nunca chegará.