Governador se manifesta sobre artigo de jornalista que aponta apologia ao nazismo em SC

Por um erro de informação, Giovana Madalosso, do Jornal Folha de São Paulo, vinculou o fato à saudação nazista

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Um erro de informação, que colocou uma família da cidade de Brusque no centro de uma denúncia de apologia ao nazismo, provocou indignação na população catarinense e chegou até o governo do estado. Nesta quarta-feira, dia 24, o governador Jorginho Mello (PL) divulgou uma "Carta Aberta aos Catarinenses" onde repudia, de forma veemente, o artigo publicado pela jornalista do Folha de São Paulo, Giovana Madalosso, com o título "Fui surpreendida por uma saudação nazista" - depois alterado para "Fui surpreendida por uma possível saudação nazista", onde ela vincula o escrito "Heil", no telhado de duas pousadas na cidade de Urubuci, na serra catarinense, à saudação nazista "Heil, Hitler". Na verdade, Heil é o sobrenome do casal proprietário das casas na pousada. "...Quando falam mentiras sobre o povo catarinense, é minha obrigação sair em defesa de vocês", escreveu o chefe do executivo estadual (leia, na íntegra, abaixo). O Jornal Folha de São Paulo não retirou o conteúdo do ar, apenas mudou o título do artigo, acrescentando a palavra "possível" e publicou uma errata logo abaixo do texto: "É incorreto afirmar que a inscrição Heil no telhado dos imóveis "muito provavelmente" seja uma referência a uma saudação nazista, como publicado em versão anterior deste texto". 

Valmor e Sandra é o casal dono das casas na pousada de Urubici. Ele é um comerciante aposentado, cujo nome da sua loja, que funcionou durante 40 anos na cidade vizinha, era Materiais de Construções Heil. Ele também sempre construiu casas e gravou o nome para que as pessoas pudessem identificar melhor. As duas de Urubici são para aluguel. Na rede social (Facebook) Casas Particular Heil, Valmor publicou um desabafo. "É lamentável, que por falta de informação e sem nenhuma explicacação, da referida jornalista e do jornal, nos trouxe transtornos emocionais e psicológicos Nossa família sempre prezou pela honestidade, caráter, respeito e amor por todas as pessoas que já passaram pelas nossas casas e pelas nossa vida. Trabalhamos muito para conquistar o que temos hoje, somos pessoas humildes, do bem, que correram atrás dos objetivos até serem alcançados. Fica aqui o nosso agradecimento a todos pelo apoio e compreensão".  

Carta Aberto aos Catarinenses (íntegra)       
"Quem vos escreve é Jorginho Mello, governador de Santa Catarina, nascido e criado aqui, conhecedor dos 295 municípios que formam nosso Estado e eleito por 71% de vocês. Quando me dirijo ao povo catarinense estou falando com você, que é descendente de alemães, com os que carregam sangue italiano, com a colônia japonesa, a açoriana, a venezuelana, a haitiana, a russa e a ucraniana. Com os vizinhos gaúchos e paranaenses que vieram pra passear e fincaram raízes aqui, com o paulista, o nordestino, o goiano. E também com quem nasceu em Santa Catarina, entre eles os caboclos do Meio Oeste, com quem me identifico.

A gente se orgulha de viver aqui, né? Um estado pequeno em território, mas gigante em tanta coisa. Nossos indicadores reconhecem a nossa grandeza na qualidade de vida, na natureza, no turismo, na indústria, no comércio, na gastronomia, na segurança e por aí vai. É de encher o peito de orgulho quando a gente vê a pequena Santa Catarina nos pódios.

Mas parece que estamos incomodando. Vez ou outra tem alguém falando mal, colocando rótulo, inventando história. Quando é comigo eu fico bravo, mas deixo passar. Sei que homem público está sujeito a essas coisas, e desde os 18 anos estou na política.

Agora, quando falam mentiras sobre o povo catarinense, é minha obrigação sair em defesa de vocês.

Começou com uma notinha aqui, um post ali, e em pouco tempo foi se criando uma narrativa de que o catarinense é nazista. O auge dessa ofensa ao nosso povo veio em forma de um artigo em jornal de circulação nacional.

A pretensa jornalista que veio passear com a família onde – em Santa Catarina, na nossa linda Urubici – escreveu que havia saudações nazistas em telhados de casas, o que não a surpreendia por estar em um estado onde as pessoas elegeram um fascista. A moça ainda conta que confirmou aos filhos a fake news.

Fiquei indignado de uma jornalista escrever sem apurar. Ela não sabia que escrever nome da família no telhado já era uma tradição de mais de 30 anos dos Heil, justamente para facilitar aos turistas a localização da pousada, quando não havia internet. Que esse sobrenome foi carregado por ilustres catarinenses. Que fascismo e nazismo são crimes imperdoáveis. Que Santa Catarina tem uma Delegacia de Repressão ao Racismo e Crimes de Ódio.

Povo catarinense fica chateado com essas coisas. Mas a moça pode continuar vindo aqui passear com a família, porque nós estamos de braços abertos para todos. Só pedimos que, da próxima vez, se informe antes de escrever. O nazismo começou justamente por quem impunha suas ideias à força.

Nós aqui não somos assim. Somos um povo que sorri, acolhe, gosta de festa, alegria e trabalho. Por isso, volte sempre, moça. Só não toleramos a intolerância".

Jorginho Mello, governador de Santa Catarina