Numa de suas tiradas geniais, Millôr Fernandes conta breve história de sua infância, quase juventude. Há quem diga: ele é o "milhór" humorista do país (aliás, foi porque faleceu). Trocadilho infame, historinha nem tanto assim. Sua família obrigou-o a tomar lições de piano com um velho alemão, brabo que nem ele só. Toda vez que nosso herói errava uma nota, dava-lhe com um jornal dobrado na cabeça. E Millôr conclui: - "Foi assim que eu aprendi jornalismo!"

Graças ao bom Deus, nunca estudei instrumento musical de espécie alguma. E a paixão pelos jornais nasceu assim: sem dores, nem coação nenhuma. Desde garoto, na terra natal, Rio do Sul, vivia de olho com estranho interesse nos chamados órgãos de comunicação impressos. E nas retinhas, hoje fatigadas, inda vem a imagem daquele jornal imenso (no tamanho), o mais "standard" possível, o Nova Era. Persiste, em tamanho tabloide, no cumprir seu papel de porta-voz das famílias do Alto Vale do Itajaí.

Seu contraste se chamava A Verdade, não tão família assim. Papai o trazia da Capital, de quando em quando. O hebdomadário do Manoel de Menezes tinha uma característica: falar mal de todo mundo, sem restrição alguma.

A capa e a contracapa do Nova Era abrigavam todo tipo de notícia: nascimento (inclusive o meu), batizado, comunhão, noivado, formatura, casório e falecimentos. E com o toque da época: farta adjetivação. Um exemplo: "Colhe hoje no jardim de sua existência a senhorinha Fulana de Tal, fino ornamento de nossa sociedade, dileta filha do casal etecetera e tal".

Atualmente, a palavra "aniversaria" ou "niver" (de mau-gosto) resolve o problema. Sintetiza tudo. E nas páginas internas, o Nova Era só tinha anúncios. Leitura dinâmica, pois. Consumia alguns segundos. Meu pai, o advogado Ademar Luz, irônico de nascença, cutucava com vara curta o proprietário: - "Pedro Paulo Cunha, deixei de trabalhar ontem por tua causa. Tirei o dia para ler o teu jornal!" Observação que em nada, nadinha mesmo abalava a velha amizade.

Em tempo: Circulou também em Rio do Sul um semanário tabloide, praticamente só com notícias. Obra de Jali Meirinho. Hoje, radicado em Florianópolis, escreveu o livro 1893-1894 - História e Historiografia da Revolução em Santa Catarina, que me enviou com dedicatória. E juntamente com Flávio José Cardozo, Lauro Junkes, Mário Pereira, Péricles Luiz de Medeiros Prade e Theobaldo Costa Jamundá organizou e escreveu texto para o livro Altino Flores, Fundador da Associação Catarinense de Imprensa.