A corrida eleitoral está começando, oficNada que uma pessoa com ideias liberais pense hoje já não foi dito por pessoas muito mais brilhantes no passado, como o Nobel de Economia Milton Freedman ou o ex-presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. Mas em uma sociedade hiperconectada, em que todos sofrem um verdadeiro engarrafamento de informações, estamos expostos a um excesso de opiniões que muitas vezes apenas nos impedem de chegar até o final da estrada, onde está o conhecimento que nos será útil para pensar como sociedade. Ciente deste problema, tenho pensado muito ultimamente no bem-estar da sociedade, em como poderíamos melhorar a vida das pessoas. Sobre isso, há pontos de vista muito diferentes, até mesmo de estudiosos independentes e renomados. Mas é preciso que alguns conceitos sejam revisitados. A fórmula adotada pela maioria dos países é muito simples: faça programas de combate à pobreza, assim como o Brasil já fez, a exemplo do Fome Zero e o Luz para Todos. O que falta nesta estratégia seria apenas expandir os investimentos para diminuir as desigualdades. É, portanto, uma questão política e de priorização. E, infelizmente, em nosso país, vivemos em uma pirâmide em que os poucos do topo tomam as decisões pelos muitos da base.
Ainda que aos trancos e barrancos, muitas políticas públicas são aprovadas e implementadas. E não vamos entrar aqui no mérito de eficiência e efetividade delas. Mas sim, questionar, quem financia isso? Ora, você pode dizer que é o Governo, é claro. Mas a própria ideia de Governo é muito ampla, muito vaga. Governos não são nada mais do que grupos de pessoas - e não são coesos - são plurais e com interesses que podem ser antagonistas. E estes mesmos grupos de pessoas estão cada vez menos dispostos a pagar impostos, um dos principais mecanismos de financiamento dos governos. Pergunte-se, por exemplo, se você, enquanto cidadão, consumidor, assalariado, investidor, enfim, qualquer papel desempenhado por um ator social, está disposto a pagar ainda mais para financiar uma nova iniciativa do Governo, tendo em vista que se conhecem todas as falcatruas e ineficiências que podem ocorrer. A crise mostra que a carga de tributos já é pesada demais. E anunciar aumento de impostos é politicamente muito complicado. O que o Governo (leia-se aqui governantes) faz é aumentar os impostos de uma maneira indireta e ardilosa. O nome deste mecanismo é a inflação.Neste jogo desonesto os mais impactados estão naquele grupo da população que não tem ativos o suficiente para se proteger de um aumento de preços, são as classes mais pobres. Então, ainda que o Governo aplique programas sociais, se não criar alternativas de financiamento que mantenham o equilíbrio econômico do país, ele só concede ajuda financeira, ao mesmo tempo que faz com que este dinheiro perca o seu valor ou poder de compra. É a distorção entre a narrativa e o fato. Em inglês, este fenômeno se chama poverty trap, ou armadilha da pobreza. Ou seja, os próprios governantes criam condições econômicas para que os mais pobres jamais consigam sair de sua condição e impedem sua ascensão social, seja pelo trabalho ou pelo empreendedorismo, devido à sua própria condição enquanto pobre. Mas aonde eu quero chegar é: os programas sociais são essenciais, mas não é possível fazê-los sem pensar em uma forma mais inteligente de financiá-los. Da forma como tem sido feito até aqui só acabou tornando o país menos competitivo. O desequilíbrio das finanças públicas, a inflação alta e a consequente desvalorização da nossa moeda têm apenas aumentado o custo de vida, desestimulando o consumo e ancorado o país em patamares baixíssimos de desenvolvimento, perto do potencial que já alcançamos no passado.Vamos pensar, por exemplo, na educação e na saúde privada, que sempre tiveram custos inalcançáveis para a maior parcela da população. Isso significa que os mais pobres sempre dependeram das escolas e hospitais públicos que, salvo exemplos heroicos, são deficitários. Agora, olhem como é complexo, e ao mesmo tempo, ineficiente: temos vagas em escolas e hospitais privados desocupadas pela falta de demanda, e uma grande parcela de pessoas sem atendimento na esfera pública. De que forma essas duas esferas poderiam se encontrar para resolver o problema?
Daniel Grajwer é jornalista, autor e economista pela universidade Haptuha de Israel
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