Relatório do Instituto Trata Brasil mostra ainda que o país despeja o equivalente a mais de 5,3 mil piscinas olímpicas por dia em esgoto na natureza

Em tempos de estiagem, nada mais oportuno do que falar da escassez dos recursos hídricos, do desperdício de água e da falta de saneamento em boa parte das cidades brasileiras. No Dia Mundial da Água, celebrado nesta terça-feira, dia 22, quase 100 milhões de brasileiros não tem acesso à coleta de esgoto, ou seja, mais de 46% da população. O dado é do Instituto Trata Brasil que monitora e divulga, desde 2009, um estudo e o ranking do Saneamento nos 100 maiores municípios do País. O estudo traz ainda outro dado estarrecedor: o Brasil despeja, por dia, 5.336 piscinas olímpicas de esgoto sem tratamento na natureza.

O relatório faz uma análise dos indicadores do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), ano de 2020, publicado pelo Ministério do Desenvolvimento Regional. O objetivo é dar luz a um problema histórico vivido no país: a ausência de acesso à água tratada, que atinge quase 35 milhões de pessoas, além de outras questões como a falta de saneamento que provoca a internação de milhares de pessoas. Em 2019, cerca de 270 mil pessoas foram parar em hospitais por problemas ocasionados pela má qualidade da água no Brasil, de acordo com o Painel Saneamento Brasil.

Os dados do SNIS apontam que o país ainda tem uma dificuldade com o tratamento do esgoto, do qual somente 50% do volume gerado são tratados. Outro ponto abordado é sobre os investimentos feitos em 2020, que atingiram R$ 13,7 bilhões, valor insuficiente para que seja cumprido as metas do Novo Marco Legal do Saneamento - Lei Federal 14.026/2020.

Os melhores x os piores municípios dentre os 100 maiores do país


Os piores municípios em saneamento no Brasil data-filename="retriever" style="width: 100%;">

Ao analisar as 20 melhores cidades contra as 20 piores cidades, o Instituto Trata Brasil observou que há diferenças nos indicadores de acesso: enquanto 99,07% da população das 20 melhores tem acesso a redes de água potável, 82,52% da população dos 20 piores municípios não têm o serviço. A porcentagem da população com rede de coleta de esgoto é ainda mais discrepante: 95,52% da população nos 20 melhores municípios tem os serviços; e somente 31,78% da população nos 20 piores municípios são abastecidos com a coleta do esgoto.

Quem são os 20 melhores e 20 piores municípios?

Historicamente, os municípios dos estados do Paraná, São Paulo e Minas Gerais ocupam as primeiras posições entre os melhores. Por outro lado, entre os 20 piores municípios sempre estão municípios da região Norte, alguns do Nordeste e Rio de Janeiro. Na versão de 2022, não é diferente, com algumas exceções.


Os melhores municípios em saneamento do Brasil data-filename="retriever" style="width: 100%;">

Importância de proteger este recurso

A água é o recurso natural mais importante que existe. O Brasil ainda é um país privilegiado nesse sentido: o nosso território abriga 12% das reservas de água doce de todo o mundo. Além disso, a força dos rios que cortam o país alimenta centenas de usinas hidrelétricas - que respondem por mais da metade da energia elétrica consumida.

Por isso, proteger as nascentes e águas presentes no subsolo, nas superfícies e na atmosfera é uma responsabilidade fundamental da sociedade brasileira. Quem afirma é Henrique Veiga, coordenador de Conservação de Água e Solo da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico.

Se o Brasil é um país privilegiado em reservas de água doce, isso não significa que a escassez não seja uma ameaça real. No ano passado, a falta de chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste causou uma crise hídrica - que afetou profundamente a produção agrícola e o desempenho das usinas hidrelétricas.

Em Santa Catarina, por exemplo, o mapa do Monitor de Secas mostra que em fevereiro a estiagem no Estado ficou mais intensa em comparação a janeiro. Houve avanço da seca moderada e grave no leste do estado e da seca extrema no Oeste, em virtude das chuvas abaixo do esperado nos últimos meses. Os prejuízos para a agricultura chegam a mais de R$ 3,7 bilhões, segundo dados divulgados pela Epagri/Ciram.

Os impactos da estiagem, a partir da metodologia do Monitor de Secas, são de curto prazo no Leste; e de curto e longo prazo nas demais áreas catarinenses. Os dados divulgados também demonstram que a estiagem se intensificou nos demais estados da região Sul. Houve o avanço da seca extrema no Norte e Oeste do Rio Grande do Sul e no Sul do Paraná.

O secretário executivo do Meio Ambiente de SC, Leonardo Porto Ferreira, lembra que a estiagem tem atingido várias unidades federativas em intensidade diferente. "O Governo de Santa Catarina tem agido para amenizar os impactos da falta de chuva, especialmente no Oeste e Extremo Oeste. É importante salientar a peculiaridade do período que estamos vivendo, com uma estiagem que se prolonga por anos. O Monitor de Secas consegue registrar isso para ações imediatas e, também, em longo prazo", comenta.

Em fevereiro, o último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas apontou que eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, serão cada vez mais frequentes e intensas por causa do aquecimento global. Por isso, Henrique Veiga ressalta que o uso sustentável da água passa, também, pelo equilíbrio do ciclo das chuvas no país. "As saídas são muito diversas. São projetos de conservação de água e solo, é conhecer para melhor gerir, enfim, é um conjunto de ações que precisam ser feitas - continuar sendo feitas - para que a gente possa minimizar os impactos decorrentes desses eventos que causam prejuízos pra nossa sociedade".

A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico estima que cerca de 93 trilhões de litros de água são captados todos os anos para atender ao uso humano. Quase metade desse volume é destinado à irrigação agrícola. O uso urbano da água consome 24% da água captada no país, enquanto o setor industrial utiliza quase 10% desse recurso.