Ademor e Gilmar, que é surdo, vão encarar mais de 600km de Caxias do Sul a Blumenau
Depois de dois dias em Caxias do Sul, os ciclistas aventureiros se preparam para retornar à Santa Catarina. A viagem de volta inicia na manhã desta terça-feira, dia 3, num percurso de 603km até Blumenau que serão completados em quatro dias. No total, eles terão percorrido mais de 1.000km em sete dias de estrada. O desafio começou no dia 28 de abril com três ciclistas - dois deles surdos, mas vai terminar com dois. Já no primeiro dia, Didier Rodrigo Domajnko, o mais jovem dos três, teve uma indisposição que o deixou bastante desidratado. A decisão foi para que ele retornasse a Timbó, cidade onde reside. Didier, porém, não se deu por vencido. Alugou um carro e, no sábado à noite, chegou a Caxias do Sul para se juntar aos dois amigos: Ademor Luiz Machado e Gilmar dos Santos. Os três acompanham as disputas da Surdolimpíadas. O evento foi criado em 1924, e pela primeira vez acontece em uma cidade da América Latina. São mais de 100 países e quatro mil atletas competindo.
A primeira etapa da viagem, de 460km, foi concluída no começo da noite de sábado (30). Segundo Ademor, a recepção na cidade da Serra Gaúcha foi excelente. "Um grupo nos aguardava em frente ao hotel para as boas-vindas". Na abertura da Surdolimpíadas, no domingo (1º), os ciclistas foram citados durante a cerimônia.
A viagem
Ademor contou que parte dos primeiros 164km foram percorridos sob sol muito forte, o que pode ter contribuído para o desgaste físico de Didier. Já no período da tarde, o tempo virou; a chuva veio acompanhada de ventania e a temperatura despencou. "Quando a chuva deu uma trégua ficou mais agradável o pedal", admite Ademor..
Em função do estado de saúde de Didier, eles decidiram diminuir o ritmo e acabaram invadindo a noite. "Faltando 20km para Otacílio Costa, cidade onde iríamos pernoitar, o Didier não conseguiu mais pedalar", conta Ademor. Ele foi então até a cidade atrás de socorro. "As próprias pessoas que estavam nos aguardando vieram socorrê-lo". Didier foi medicado e no dia seguinte retornou para Timbó.
O segundo dia até Vacaria foi mais tranquilo. Ademor e Gilmar pedalaram 154km, e mais vez tiveram uma recepção acalorada na cidade gaúcha. Aliás, Caxias do Sul foi a única cidade onde eles se hospedaram em hotel. Nas demais, ele dormiram em casas de outros ciclistas que Ademor fez contato. No dia seguinte, mais 115km de estrada até Caxias do Sul, com chegada por volta das 19h. Gilmar explica que foi um trecho bastante sofrido porque havia muitas subidas, porém, o clima estava ideal para pedalar, o que ajudou a dupla superar os morros, além da expectativa de chegar ao destino. Ademor conta que por onde eles passaram, receberam muito carinho e incentivo das pessoas. "Tem sido muito bacana e gratificante", observa. Ele contou que, próximo à cidade de Lontras-SC, um casal veio conversar com eles e desejar boa viagem. "Eles disseram que haviam lido a nossa aventura no site do Jornal Metas", revela o ciclista.
Retorno
A viagem de retorno começa às 8 horas da manhã desta terça-feira (3). Ademor e Gilmar vêm por outro caminho que vai acrescentar 150km e um dia a mais em relação à viagem de ida. Eles irão de Caxias do Sul a Cambará do Sul, num total de 135km. No segundo dia, serão mais 164km até Orleans, cidade catarinense que Gilmar tem enorme desejo de conhecer. No terceiro dia, eles seguem até São José, na Grande Florianópolis, numa distância de 171km. O final da aventura acontece na sexta-feira, dia 6, quando eles irão pedalar 133km de São José a Blumenau. A chegada está prevista para o final da tarde. Gilmar sabe que eles ainda têm um longo, cansativo e desafiante caminho a percorrer, mas se mostra feliz e realizado com a aventura. "A experiência está sendo surreal e fantástica, nunca imaginei sentir algo assim, é incrível", resumiu.
OS PEAS
Ademor, Didier e Gilmar fazem parte do grupo de ciclistas Os PEAS - Pedal dos Amigos Surdos - de Blumenau, hoje com 27 integrantes, sendo 26 deficientes auditivos. O grupo foi formado por Gilmar em 2020, e desde então os pedais acontecem nos finais de semana. Porém, os três amigos tinham a intenção de realizar um pedal mais distante. A Surdolimpíadas foi a oportunidade que estavam esperando. Ademor é hoje o líder do grupo e, por não possuir deficiência auditiva, é um facilitador nos pedais de fim de semana. Ele observa que a viagem até Caxias do Sul é também um chamado para que outras pessoas surdas possam se socializar por meio do esporte. "Desde que comecei a pedalar, eu me sinto outra pessoa", finaliza Gilmar.
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