Iniciativa tenta reduzir o impacto da pandemia, engajando pessoas que possam pagar contas de consumo de quem não tem a quem recorrer
Muitas famílias perderam renda nos últimos anos. Em outras, a situação é ainda pior: pai e mãe desempregados. De alguma forma a pandemia atingiu as pessoas economicamente. As contas, porém, continuaram chegando normalmente: luz, água, telefone, IPTU e etc. Imagine você não saber de onde tirar dinheiro para pagar os boletos. E, como num passe de mágica, aparece um "anjo" para o pequeno milagre e a sua conta acaba quitada. Inacreditável? Não. Em meio à pandemia, Alexandre Caruso, profissional da área de Tecnologia da Informação, criou o Projeto Garrafa no Mar. Um lugar virtual onde as pessoas colocam o boleto e alguém vai lá e paga. Caruso conta que não ganha absolutamente nada com a iniciativa. Faz apenas com a intenção de ajudar as pessoas a saírem do aperto.
Caruso conta que, no início, a ideia era se manter no anonimato, mas depois de muitas pessoas perguntarem quem estava por detrás do "Garrafa no Mar", ele decidiu contar como nasceu o projeto. Segundo ele, em meados de junho, quando a pandemia estava ascendente, ouviu uma frase que lhe marcou muito: "teremos mais falidos do que falecidos".
"Não quero entrar no mérito da discussão saúde física x saúde financeira, mas o fato é que muitas pessoas perderam seus empregos, suas fontes de renda e não têm a quem recorrer para ajudar. Vi sim, muitas "vaquinhas" de distribuição de cestas, uma mobilização sem precedentes. Mas e as contas das pessoas? Como seriam pagas?"
Foi quando, um dia, de madrugada, Caruso recebeu seu salário. "Pensei como eu poderia ajudar, pela internet aqueles que precisavam", relata.
ACESSE AQUI E PARTICIPE: https://projetogarrafanomar.glideapp.io/
Lendo uma matéria em uma revista de circulação nacional, que falava sobre as mensagens que eram enviadas pelo mar, ele pensou nas seguintes palavras: internet, navegar, mar, qualquer pessoa poderia receber e ler a mensagem. Na hora deu o estalo: "Por que não criar um "mural eletrônico" em que as pessoas colocassem suas contas e quem pudesse, as pagaria?" Isso, de acordo com Caruso, traria um respiro, um conforto, um alívio para quem estava iniciando uma bola de neve de dívidas. "Fora desse lugar de privilégio, imagino que não seja fácil, buscar alternativas, fazer cursos onlilne, transformar o negócio para digital e coisas afins. Isso é fácil para nós, privilegiados", argumenta o empresário. Ele criou então uma planilha no Google Sheet e a tornou pública (ainda online, para quem quiser ver http://bit.ly/3qK8knV) para que as pessoas colocassem suas contas de consumo.
Há dois tipos de boletos : aqueles de cobrança em que seu seguro, escola, clube, emitem por conta própria e os de conta de consumo, água, luz, gás, telefone, internet. A diferença básica é que a linha digitável - mais conhecida como código de barras - dos boletos de cobrança, a pessoa define e direciona a conta bancária que vai receber o valor, o recurso, o montante. Por isso há muitos casos de desvios e falsificação deste tipo de boleto.
Já os boletos de consumo (água, luz, telefone, gás etc), são gerados pelas concessionárias e o valor pago é direcionado para o código do cliente daquela concessionária, portanto, não sendo possível desviar para outros receptores. "Esse desconhecimento dessa diferença, também contribuiu, e muito, para o baixo engajamento do projeto, acrescido ao fato de não saberem, inclusive, que não recebo absolutamente nada como percentual de transação, intermediação etc, tal qual estamos acostumados a ver neste modelo de receita. Sei que é difícil de acreditar, mas não recebo nem um tostão", reforça Caruso.
Alguns dias depois, com o sucesso inicial da planilha, muitas pessoas me pediram para criar um app (aplicativo), por ser mais fácil de acessar pelo celular. Então, ele criou do zero, em uma plataforma de low-code ou no-code (Glide https://bit.ly/3rV8vh6), o aplicativo. Nesta quinta-feira (3) haviam 7.134 contas cadastradas para pagamento, a maioria entre R$ 100,00 e R$ 400,00 e há mais de 90 dias vencida. "Não posso deixar de agradecer muito, a todos os anjos que acreditam no projeto e pagaram contas de pessoas que nem conhecem", diz.
O projeto hoje
Segundo Caruso, neste tipo de projeto, o nível de doação do ser humano, é muito alto. "Doar por pura empatia pelo próximo, doar por acreditar no próprio ser humano". Ele também decidiu revelar ser o dono do projeto porque a realidade é desconfiar de ações voluntárias como essas, somado ao individualismo e ao não-coletivismo. "Temos que vencer a todo custo e a todo instante e, na maior parte das vezes, não nos preocuparmos se os outros, - com exceção de nossa família -, estão bem ou não e como podemos ajudá-los", afirma. O ponto positivo é que também temos muitas ações, ONGs, organizações civis que ajudam em diversas outras frentes.
Caruso admite que tem horas que bate um desânimo por não poder ajudar a mais pessoas, apesar de receber muitos elogios e "likes" pelo projeto. "Ao mesmo tempo, sei que tem sido um período desafiador para todos os níveis. Por outro lado, acredito que sempre podemos fazer o mínimo para ajudar e, se cada um ajudar um pouco que seja, no fim estaremos ajudando muita gente! Sem falar que, ajustar uma conta atrasada de uma família pode ser transformador e gratificante inclusive para quem ajuda também! Quem já ajudou pode provar isso", finaliza.
Prêmio
O projeto Garrafa no Mar teve tanto sucesso que acabou recebendo o Prêmio Casa Rio Gerações - na categoria "Fora da Caixa". A votação do público foi online.
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