No embate sempre há interesses e sentimento de pertencimento a um grupo. Mesmos silenciados pelo tempo e pela história alguns embates nos advertem sobre assuntos que devemos (ou não) repetir em nossas rodas de conversa em casas, quintais, ruas ou bares.

Tratemos com seriedade desse assunto considerando gloriosas as lutas na história. Só grita quem está realmente sentindo as dores da desigualdade e do desrespeito batendo à sua porta.

Ameaças e riscos estão presentes na vida. Lutamos para seguir comendo, morando, vestindo reafirmando a fé no futuro. Somos de carne e osso, mas a vida exige nervos de aço.

A história nos conta sobre heróis que vencem tantas batalhas. Mas a história silencia sobre heróis cotidianos. Quem cozinhou para Dom Pedro? Quem lavou as roupas de Princesa Isabel? Quem levantou as muralhas em castelos? Quem perdeu suas terras para que caudilhos tivessem suas sesmarias? Quem entregou suas terras para que grandes extensões de soja fossem plantadas e servirem de alimento em outras terras?

Em Santa Catarina relembro sobre a grandiosidade de caboclos e caboclas que se ergueram contra as desigualdades nas florestas de araucárias. Passados cem anos, a Guerra do Contestado faz barulho frente ao silêncio da história. Entre 1912 e 1916, a guerra dos peludos (Exército brasileiro) contra os pelados (pequenos proprietários de terras) fala da disputa de terras com extensão de 25 mil km quadrados repletas de florestas de araucárias e grandes campos de erva mate. O governo entregou parte dessa região para uma empresa privada estrangeira construir uma estrada de ferro unindo Rio Grande do Sul com Rio de Janeiro e, para tal, derrubou 70 milhões de pinheiros. Anos depois essa companhia abandona a construção deixando milhares de trabalhadores e desvalidos sem assistência. Pronto o cenário para um conflito armado considerado pelo governo republicano como uma revolta monarquista no oeste de Santa Catarina e Paraná. De 10 a 15 mil pessoas morreram nesse conflito armado.

A região onde ocorreram essas mortes possui, hoje, altos índices de desigualdades e a qualidade de vida da população é uma afronta diante da concentração de terras na mão de madeireiros e donos da indústria de erva mate. Quem são os miseráveis desta região? Os que descendem de caboclos revoltosos originário daquela terra.

O território hoje habitado pelo silêncio desdobra-se em miséria humana.

Fica a dica:

Espetáculo teatral Contestados da Cia Mútua (Itajaí) que esteve semana passada no FITA (em Floripa) e no dia 26 de outubro no Sesc em Joinville.